20 novembro 2007

Acordar em versão filipina

Mal disposta com o despertador, arrasto-me para fora da cama, reconstruo-me na casa de banho, abano-me com dose dupla de café na cozinha. De trombas com o mundo das obrigações, enfio o impermeável e desço a rua.

Ao longe parece-me que o carro estacionado à frente do meu está inclinado, que disparate. Ao chegar ao sítio vejo que está apoiado de um lado num macaco e que lhe levaram os 4 pneus. De repente um sorriso assalta-me o espírito: se se tivessem entusiasmado podiam ter feito o mesmo ao meu, o que me daria a desculpa ideal para não ir trabalhar! Chego mesmo a imaginar o telefonema de aviso, a minha vitimização, todos solidários comigo, claro com certeza. Envergonho-me em seguida desse pensamento torpe, já tenho idade para ter juízo.

Ao chegar à garagem da repartição dou de caras com um início de inundação, jorra água como se fosse o rio Jordão de uma saída de esgotos. Novo lapsus facial, vão ter de evacuar o edifício e mandar-nos a todos para casa, estou safa. Vou de imediato avisar quem de direito, cheia de esperança no corpo e na alma, mas dizem-me que o assunto vai ser tratado de imediato que não me preocupe.

Encolho os ombros, sinto-me um cruzamento de Felipe com o Calvin, com a agravante de me sentir do outro lado da barricada e de repente ter de dar razão à minha mãe. Ser adulto não tem assim tanta graça. Ainda não percebi se o pior é ter de cumprir obrigações ou descobrir que os pais têm mais razão que o crédito que sempre lhes demos. Duro golpe no ego.

1 comentário:

d. inês sequiosa disse...

mais uma a tirar-me palavras da boca. Deve ser por isso que estou vazia.