18 novembro 2007

A festa

Às vezes, esta múltipla também é do social e lá foi a um baile de smoking, vestido comprido e debutantes. Como era para ser uma coisa chique, lá tirei a farpela do baú, arejei as jóias e tentei disfarçar as rugas e o cansaço da semana.

Chegada à festa, e para meu sobressalto, encontro figuras do jet set nacional como a Lili Caneças, o José Castelo Branco e a Lady Beth, a Paula Bobone – ela mesma -, a Paula Taborda, o João Rôlo e a demais cambada: tudo a ver quem estava e com quem estava e a colocar-se estrategicamente para as fotografias das revistas.

Estava a conversar com uns primos quando a d. Paula Bobó se volta para trás e diz: “ólhê, você k tá aí com um ar tãoo amoroso, não me quer segurar o copo?” O rapaz ficou de tal maneira embasbacado por se ver, assim, transformado em pajem que nem conseguir fechar a boca. “Não, não, é só enquanto tiro aqui esta fotografia”. E avançou com o dito e pespegou-lho prás mãos. “Mas não cuspa lá p´ra dentro, está bem?” (do I need to say more?).

Copo aqui, beijo ali, olá acolá, passou-se a primeira parte e vem um criado que, aparecendo por trás, me põe as manápulas entre as costas e a cintura e faz - o que se chama em linguagem moderna – um forcing, enquanto diz que “é pra ir jantar”, recuando rapidamente perante o meu olhar gelado enquanto acrescentava o “minha senhora”.

A minha mesa tinha uma personagem inenarrável, com nariz à Michael Jackson, lentes de contacto azuis, madeixas loiras e tom de arara. Na casa de banho, meteu uma conversa de tal maneira louca e descabida com uma senhora que esta apenas lhe pôde responder: “pois, mas eu sou loira natural e não posso usar desse bâton senão pareço um travesti”...

Das debutantes, 80% pareciam que vinham do Champagne ou do Elefante Branco. Eram assim ordinarotas, de ar ou de vestido, ou de ar e de vestido.

Enfim, para fazer um resumo aproximado: nem decoraram o barracão da festa, faltavam tantos lugares nas mesas que houve uma cena de pancadaria entre um convidado e um criado, puseram senhoras com idade para serem minhas mães a jantar em bancos de bar cujo assento era mais alto que a mesa, a comida estava intragável, já ninguém sabe dançar a valsa, a Lili arregaça as saias acima da coxa para dançar o lálálá do “I will survive”, a Bobó fica para lá de ridícula de bandelete de veludo com um laçinho ao lado (e usa bijutaria feia), o Rôlo atirou-se ao meu marido mas o Castelo Branco teve a decência de recolher cedo para que a sua Lady não se finasse já.

Para além de ter confirmado que o jet set é coisa que já não existe (ou que, pelo menos, se esconde destas festarolas deprimentes), só cheguei a uma conclusão válida nessa noite: se voltasse a escolher uma profissão seria cirurgia plástica. A julgar pela quantidade das que vi, nem é preciso ser-se bom...

4 comentários:

Anónimo disse...

ai vida, ser e não ser ser, estar e não estar, eterno e interno dilema...

sendo eu um marxista impenitente, só me ofereçe dizer o seguinte comentário:

"I wouldn't belong to a club that accepts me as a member"

deixe estar, que daqui a uns anos, cá estará uma múltipla a dizer mal de si e dos seus pequenos dislates com copos, batons e saias acima da coxa.

sua... sua.. margaret dumont

Ohh. I would dance with you till the cows come home...Come to think of it, you go home and I'll dance with the cows.

Anónimo disse...

"ofereçe" <-> "oferece"

8 e coisa 9 e tal disse...

Também espero que daqui a uns dias, meses ou anos anos haja uma múltipla ou outra pessoa qualquer a dizer mal de mim, coisa que, aliás, sempre me divertiu, e muito.
Embora não lhe faça companhia na impenitência, I also "(..) don't care to belong to a club that accepts people like me as members". É que que, apesar de poder ser um bocadinho como a margeret dumont, normalmente percebo as piadas ou as graças da vida.

dizia ela baixinho disse...

um baile de 'desbotadas', programaço!


(é verdade q o jet set já não existe. agora é o 'news'. ou se calhar já nem isso)