Mais de um ano passou desde que aterrei na segunda vida. Houve alturas em que me aborreci e desapareci do mapa durante semanas e semanas, houve momentos em que lá vivi horas de seguida. Fui quase sempre uma sem-abrigo, deixava a minha boneca a dormir não importava onde. Fui quase sempre uma pelintra, a viver de tudo o que era grátis. Mas houve uma altura em que isso mudou. Por muito incompreensível que seja para quem se fica pela primeira vida - e foi incompreensível para mim durante muito tempo - um dia comprei lindens, o dinheiro desta outra vida. E, pela primeira vez, pude fazer todas as extravagâncias que antes apenas podia imaginar. Por oito euros, a minha boneca ficou rica e o inventário dela agigantou-se. Roupas, sapatos, peles, olhos, pestanas, magníficas e supérfluas inutilidades que me levaram a brincar outra vez às barbies. E atrás dessa enorme mudança (como fui capaz de pôr oito dólares num mundo que só existe a brincar?) vieram outras pequenas mudanças. Por muito que quisesse fazer do meu avatar uma pessoa inventada, descobri que ele voltava uma e outra vez a mim. Aquela boneca não é afinal uma boneca. É um desenho animado de mim, num jogo que não é um jogo, mas sim uma sala de espelhos onde nada se esconde e tudo se reflecte.
1 comentário:
Creepy...*arrepio*
Enviar um comentário