Par de patins do Diogo. Porque era quadrado até à náusea e queria fazer-me à sua imagem. Nunca conseguiu. Saíu pela porta dos fundos. Ainda tentou uma dupla pirueta, ramos de flores e frases dramáticas. Mas dos patins não se escapou.
Par de patins do António. Porque me queria engolir, roubar-me ao mundo, ter-me só para ele. Demorou muito a encontrar o par de patins que lhe servisse. Foi o que deu a bela ideia de me apaixonar por ele. Mas acabei por descobri-los, pu-los nos pés enquanto ele olhava incrédulo e zumba!, faz-te à pista de patinagem que se faz tarde.
Par de patins do Miguel. Porque era fraco e eu não suporto homens cobardes. Dei-lhe uns patins azuis, ele ficou deslumbrado com a cor e nem reparou que estava a sair pela porta fora.
Par de patins do Nuno. Porque me aborrecia de morte ao fim do primeiro mês. Tentou a abordagem da última noite juntos, mas eu não gosto de revisões da matéria dada. Saiu de fininho e ainda o vejo a deslizar ao fundo da rua. Enervam-me os homens sem chama.
Agora reservo o direito de admissão neste estabelecimento. É que não há orçamento que resista a tantas despedidas.
6 comentários:
Muito bom o par de patins em forma de inventário.
Também quero...
até os patinzôncios dão gozo se postos por senhora com alma.
que belos pares de patins.
verdadeira patinagem artística!
os patins em linha. ou a linha dos patins.
nem sei que vos diga. A senhora do guichê diz mathes, como quem insinua matemática. Será que devo começar a fazer contas à vida para pagar as dívidas desta patinagem artística que é a vida do amor e desamor?
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