01 junho 2010

Inventário

Par de patins do Diogo. Porque era quadrado até à náusea e queria fazer-me à sua imagem. Nunca conseguiu. Saíu pela porta dos fundos. Ainda tentou uma dupla pirueta, ramos de flores e frases dramáticas. Mas dos patins não se escapou.
Par de patins do António. Porque me queria engolir, roubar-me ao mundo, ter-me só para ele. Demorou muito a encontrar o par de patins que lhe servisse. Foi o que deu a bela ideia de me apaixonar por ele. Mas acabei por descobri-los, pu-los nos pés enquanto ele olhava incrédulo e zumba!, faz-te à pista de patinagem que se faz tarde.
Par de patins do Miguel. Porque era fraco e eu não suporto homens cobardes. Dei-lhe uns patins azuis, ele ficou deslumbrado com a cor e nem reparou que estava a sair pela porta fora.
Par de patins do Nuno. Porque me aborrecia de morte ao fim do primeiro mês. Tentou a abordagem da última noite juntos, mas eu não gosto de revisões da matéria dada. Saiu de fininho e ainda o vejo a deslizar  ao fundo da rua. Enervam-me os homens sem chama.
Agora reservo o direito de admissão neste estabelecimento. É que não há orçamento que resista a tantas despedidas.

6 comentários:

o chofer a dançar com a criada disse...

Muito bom o par de patins em forma de inventário.

-pirata-vermelho- disse...

Também quero...
até os patinzôncios dão gozo se postos por senhora com alma.

sete e pico disse...

que belos pares de patins.

JPN disse...

verdadeira patinagem artística!

foi dançar a bossa nova disse...

os patins em linha. ou a linha dos patins.

8 e coisa 9 e tal disse...

nem sei que vos diga. A senhora do guichê diz mathes, como quem insinua matemática. Será que devo começar a fazer contas à vida para pagar as dívidas desta patinagem artística que é a vida do amor e desamor?