07 fevereiro 2007

MSN killed the telephone star, ou da existência mediada por computador

Ontem à noite estive com um amigo com quem falava há semanas apenas por msn e mail; com uma amiga com quem tenho falado por sms e mail. E falo todos os dias com algumas das minhas melhores amigas por msn, duas das quais verei esta sexta ao fim de algumas semanas sem sequer nos ouvirmos a voz.
Esta modernice de se comunicar por computador em vez de ouvir o som das pessoas, ou falar ao telefone sem ver ou sentir o outro, com voz e olhos e expressão corporal. Os olhos dizem sempre mais que as palavras, assim fica-se na meia dose.
Faz-me lembrar um filme de 95, Denise calls up. Um grupo de amigos passava o tempo todo a comunicar apenas por telefone e fax, todas as relações incluíndo as sexuais eram feitas por intermédio do fabuloso aparelho do sr. Bell, e quando chegava a hora de se verem em carne e osso dava-lhes o friozinho no estômago.
É muito prático e útil o msn, mas também perigoso. Denise calls up versão Bill Gates.
Diremos que não temos tempo, que estamos muito ocupados, que assim aproveitamos os bocadinhos livres sem grandes complicações. Por mim continuo a preferir os beijinhos da chegada e da despedida em vez dos olá e até logo que me aparecem no rectângulo do écran, as cervejas partilhadas em vez da fúria da escrita, os sorrisos cúmplices em vez das piscadelas de olhos standard, e os risos ao vivo em vez dos "hehehe". Mas também a mim me foge o pézinho para o chinelo do windows - com a desculpa de ter amigos longe de Lisboa, de aproveitar os intervalos para café com companhia ou de partilhar serões sem sair do meu sofá.
É como passar na casa partida sem ganhar dois contos; avança-se mas sem enriquecer.

6 comentários:

outroblog disse...

tb eu sinto o chinelo a puxar para o windows
entendo-a perfeitamente....
:)

nove e tal disse...

aí vão 3...

sem-se-ver disse...

(mais uma vez, eu e vc, as mesmas referências...)

sim, vivemos aquilo que Denise Calls Up antecipou (ou talvez não, nos EUA já seria mesmo assim;à época). e recorda-se? a Denise era a única, de todo aquele grupo, filmada na rua, no autocarro, na charrette, fosse onde fosse, ao ar livre. e só ela acabou feliz.
lembra-se, não é? eu também.

Filipe M. Reis disse...

Boa posta. Uma sintética e honesta crónica de costumes.
:)

dorean paxorales disse...

eheh... tenho amigos que, vivendo em casa partilhada, chegam a conversar com quem está no andar de cima por msn em vez de subir as escadas...

8 e coisa 9 e tal disse...

A Denise acabou feliz? Se bem me lembro, a ultima coisa que lhe passou pela cabeça foi o radiador do carro...

ó dorean, esses amigos não são portugueses pois não? é que à boa maneira tuga comunica-se a alta voz. Ainda me lembro em minha casa, a minha mãe da sala "MARIAAAAAAA", e eu do quarto no fundo do corredor "O QUE É MÃAAAAE" "ANDA CÀ" "PARA QUÊ?" mas como eu era filha e ela mãe "ANDA CÀ E FICAS A SABER". Injustiças.