26 fevereiro 2007

Os óscares

Hoje é a noite dos óscares. Lembro-me de imediato da autobiografia do Frank Capra, The name above the title, onde li uma das histórias mais deliciosas sobre o tema:
[ano 1933; o filme "A Lady for a night" de Frank Capra estava nomeado para melhor filme, melhor argumento, melhor realização e melhor actriz]
«Chegou finalmente a altura dos Oscares para as categorias principais - Melhor argumento - o primeiro dos quatro que eu esperava arrebatar. Olhei para a mesa de Riskin. Bob parecia estar calmo mas, de cada vez que aspirava o fumo, era metade do cigarro que desaparecia. Will Rogers anunciou: "... e o Oscar para Melhor Argumento vai para.... (abre o envelope)... Victor Heerman e Sarah Mason por Little Women! Levantem-se e venham cá recebê-lo!"
Fiquei atordoado mas não me dei por vencido. "Parece que vou ter de contentar-me com três", disse estupidamente aos meus amigos, como se fosse preciso explicar-lhes. Pela nossa mesa passou então uma vaga sensação de medo, imediatamente dissipada por Will Rogers. O Oscar que se seguia era para a Melhor Realização! Enquanto Rogers ia lendo as nomeações, levantei à socapa a toalha da mesa para espreitar uma última vez o papel, já todo amarrotado, onde escrevera o discurso de antemão preparado. Mas nem sequer conseguia segurar o papel na mão, quanto mais lê-lo!
Rogers disse meia dúzia de palavras simpáticas dirigidas aos realizadores e depois: "... e o melhor realizador do ano é... o envelope, por favor... (abriu-o e começou a sorrir). Ora, ora, quem havia de dizer! Há muito tempo que trago este jovem debaixo de olho... Assisti à sua evolução a partir do nada... e quando digo do nada, não estou a exagerar. O Oscar não podia ir parar às mãos de uma pessoa mais simpática. VÁ LÁ, FRANK, VEM CÁ BUSCÁ-LO!"
A minha mesa vibrou, de repente, com uma explosão de aplausos. O percurso até à pista de dança ainda era longo, mas lá consegui avançar, esgueirando-me por entre as mesas apinhadas de gente: "Com licença... dá-me licença?... desculpe... obrigado... obrigado...", até chegar à pista. O projector não parava quieto, girando de um lado para o outro à minha procura. "Estou aqui!", gritei, levantando uma das mãos. Depois, afastou-se de repente de mim e foi iluminar um homem que se encontrava no outro extremo da pista - Frank Lloyd! O aplauso era ensurdecedor à medida que o projector acompanhava o percurso de Frank Lloyd desde a pista de dança até ao palco, onde Will Rogers o cumprimentou com um grande abraço e um caloroso aperto de mão. Deixei-me ficar no mesmo sítio, às escuras, completamente petrificado, sem querer acreditar no que me acontecera, até que atrás de mim, uma voz furiosa gritou: "Vamos a baixar a cabeça!"»
No ano seguinte teve a sua vingança: It happened one night, com Clark Gable e Claudette Colbert, foi o primeiro filme da história a ganhar as 5 categorias mais importantes (filme, realizador, argumento, actor e actriz).
[mais em "O nome acima do titulo - uma autobiografia", Frank Capra, ed. Cinemateca]

2 comentários:

dizia ela baixinho disse...

Frank Capra é um GÉNIO!

8 e coisa 9 e tal disse...

Ah pois é bebé. Mas se não tivesse ganho uma data de óscares depois desta história aposto que nunca a teria contado...

O livro é bestial, aprende-se imenso sobre história do cinema e da vida do senhor, pois claro. Histórias muito bem contadas.