01 agosto 2007

Coisas que não percebo

Arrendamento. Antigamente era comum, especialmente porque as casas não eram muitas, a esmagadora maioria das pessoas não tinha o dinheiro necessário e os bancos não ajudavam.
Hoje em dia confesso que não percebo a lógica do "queremos mais casas para arrendar". Então já não se considera positivo que as pessoas tenham casa própria e/ou sejam incentivadas a isso? Quer-me parecer que casas para arrendar não faltam (basta ver os classificados) e que o arrendamento faz todo o sentido para pessoas que estão em situações transitórias, mas não sei se será uma boa solução final (passe-se a conotação histórica da expressão). Até porque entre o preço de uma renda e o preço de uma prestação bancária a XX anos, a diferença não costuma ser muita (e estamos a falar de arrendamentos novos, por isso não vale o argumento da velhinha que vive na mesma casa há 100 anos e agora vai ter de pagar mais 0,06 € por mês).
A única explicação é ele(s) ser(em) proprietário(s) de vários terrenos urbanizáveis/urbanizados nos concelhos limítrofes e querer(em) ganhar umas massas valentes, porque não acredito que, sem nenhum negócio escuro atrás, os promotores vão nessa...

7 comentários:

dizia ela baixinho disse...

a minha alma está pasma: não percebo a 'ingenuidade' desta posta, querida múltipla.

parece-me óbvio que - idealmente - seria bom que tod@s pudessem sonhar/adquirir/pagar para uma casa própria, a quem deixar posteriormente à sua descendência (ou não). ou para especular no mercado imobiliário e com isso ganhar muito dinheiro.

mas verdade verdadinha verdadeira é que há uma larga franja da população a quem os bancos não emprestam dinheiro. inclusive a uma 'frilance' como eu (pegando na expressão desenvolvida uns posts abaixo). solução: arrendamento e revisão urgente das leis do arrendamento.

mais triste ainda, mas mesmo muito mais triste - e aqui refiro-me a algumas comunidades étnicas -´são aqueles a quem é vedado o acesso a uma casa para arrendar. mas isso já é toda uma outra história.
um dia falarei dela.

sete e pico disse...

Concordo com a dizia ela baixinho. Acho que a solução da compra de uma casa para todo o sempre não tem que ser a (única) solução ideal para a vida das pessoas. Há muitas pessoas "frilances" como nós que não têm lugar no mercado bancário, temos cada vez mais emigrantes que não têm nem condições nem se calhar o interesse em comprar casa e além disso as nossas dinâmicas de vida se calhar já implicam mais mobilidade, não sabemos se vamos ficar a viver para todo o sempre na mesma cidade ou no mesmo país. E além disso nem todas as pessoas estão interessadas em ter uma casa própria, podem ter desejo de mudar de casa várias vezes ao longo da sua vida, de experimentar viver em vários bairros diferentes, em vários sitios diferentes ou de simplesmente não quererem ter uma dívida com o banco até serem velhinhas. E de facto, a oferta de arrendamento é para além de escassa é cara, digo-te eu que já tive que já estive nessa luta. Acha que estás a analizar o problema pela tua bitola pessoal e essa é válida mas não é a única, nem é universal.

dizia ela baixinho disse...

sete, tiraste-me o resto dos argumentos da ponta dos dedos: de facto, a compra de uma casa não é necessariamente um objectivo 'maior'. há quem não queira pura e simplesmente viver com uma hipoteca às costas, carregando uma dívida ao banco de no mínimo 20 anos, quer reúna - ou não - as condições para o fazer (neste caso, já se sabe que é ser-se 'creditável' perante um banco).

por outro lado, há que contar - e volto ao argumento da sete - com os diferentes estilos de vida: um dia posso querer morar aqui (seja lá onde esse aqui for), amanhã já não. a liberdade de um arrendamento face a uma dívida com o banco é muito persuasora no que a este caso diz respeito.

por último, e a propósito de crédito àqueles que nada tinham, veja-se a experiência pioneira de Muhammad Yunus (oriundo do Bangladesh e prémio nobel da paz)em relação ao microcrédito. não tanto centrado numa política de financimanto, aqui visava-se sobretudo uma política de combate à pobreza.

http://pt.wikipedia.org/wiki/Grameen_Bank

8 e coisa 9 e tal disse...

Querias múltiplas, obrigada pelas vossas prespectivas porque, de facto, haviam peças do puzzle que me escapavam.

Confesso que os argumentos que mais me seduziram foram a mobilidade (voluntária ou forçada, a tal transitoriedade de que falava), a compra de casa não ser um objectivo "maior" (não tinha pensado bem nisto, porque acho/ava que todos deviam gostar de ter um sítio a que chamar "seu", ainda que durante um período mais ou menos transitório) ou não querer ficar com uma dívida às costas até à 4.ª idade.

A questão que me deu bastante que pensar foi o facto de não falarem em acesso limitado ao crédito, o que, consequentemente, baliza o empréstimo disponível e a zona/casa que se pretendia comprar (e era em relação às prestações mais baixas que equiparava algumas rendas). Falam é em não acesso ao crédito.

E deu-me que pensar porque, desde logo,sendo o crédito tão facilitado para todo o tipo de objectivos/objectos/ou só porque é preciso no questions made, não imaginava que ainda houvessem tantos entraves; Depois porque, tratando-se de um bem imóvel, os bancos normalmente bastam-se com a hipoteca e respectivos juros do empréstimo, maior ou menor. Ao pensar que as relações bancárias eram bem mais fáceis admito que pudesse ter tido alguma ingenuidade e peço desculpa se ofendi alguma das minhas múltiplas, sendo certo, no entanto, que a minha bitola pessoal apenas me obriga a viver de acordo com as minhas possibilidades e a uma renegociação, urgente e em baixa, com o banco...

Assentes que estão as bases da vontade/necessidade de recorrer ao arrendamento, voltemos ao objectivo último (e mal conseguido, está visto) do post: acham mesmo que a medida do "Zé" vai fazer diferença e/ou vai ser aplicável? É que para mim, além de uma demagogia brutal (atenção, isto não quer dizer que não deva existir politica municipal de apoio à habitação), só vai ter como efeito o abandono de construção nova ou, dependendo do alcance, do fim da recuperação de edificado existente na cidade, justamente na cidade que se pretendia "mais vivida", e dificultando ainda mais o acesso tanto à compra como ao arrendamento. Acho era que se devia reconduzir a EPUL à sua missão inicial: proporcionar o acesso à habitação (independentemente da forma)às pessoas em situações mais dificeis, em vez de fazer negócios milionários e obscuros Se, neste processo, conseguisse ser uma empresa auto-sustentável (o que é diferente de dar lucro, no sentido comercial do mesmo), tanto melhor.

dizia ela baixinho disse...

dearest múltipla,

ora se te faltavam peças do puzzle e se eu e a sete as viémos acrescentar, dá por muito bem conseguido o teu post.

queria dizer-te tb que me supreendeu muito positivamente a tua humildade em aceitar opiniões contrárias, o que colide com o 'mainstream' na blogoesfera, onde tudo é - regra geral - 'peixe'.

com uma mala por fazer e uma viagem que se adivinha logo pela madrugada, despeço-me e deixo a tua questão do 'zé' para a sete (que, aliás, a saberia/sabe responder muito melhor do que eu).

Anónimo disse...

Ponto prévio/lembrete:

«Tem que haver uma convergência programática na Câmara Municipal de Lisboa, porque os lisboetas precisam de estabilidade», declarou José Sá Fernandes, sublinhando que «está disponível para uma coligação pós-eleitoral»

ou ainda:

«Venho propor - aos partidos políticos, às associações e aos movimentos de cidadãos empenhados nos valores por que me tenho batido - uma união de vontades políticas e cívicas com vista à constituição de uma coligação pré-eleitoral para concorrer às próximas eleições da Câmara Municipal de Lisboa», afirmou Sá Fernandes numa declaração pública lida hoje à imprensa.

Podem daqui retirar as conclusões que bem entenderem aos recentes condicionamentos para coligar...

Quanto à condição (uma das seis, diga-se) agora imposta pelo MI Advogado/Vereador bloquista (e já aceites pelo ex-Ministro/Presidente), acho lindamente e demagógico qb, mas também, minhas queridas - falando com algum conhecimento de causa -, não tenham quaisquer ilusões: (já para não falar da duvidosa implementação/legalidade desta medida), os promotores nunca vão ficar a perder, os restantes 80% vão cobrir este “prejuízo” (a não ser que o INH finalmente decida fazer o que lhe compete e contribuir para este peditório...)!!

sete e pico disse...

querida múltipla, faço minhas as palavras da dizia ela baixinho, tiro o meu chapéu a quem sabe reconhecer e pensar outras perspectivas diferentes à sua, isso é um valor cada vez mais perdido hoje em dia, em particular por essa blogosfera fora.

Quanto à questão da medida proposta pelo Zé e aceite pelo Costa, sinceramente não sei calcular muito bem o verdadeiro alcance que pode ter. Por um lado, é de facto preciso disponibilizar mais casas para alugar e este pode ser um meio para garantir isso e diminuir a especulação imobiliária. Mas isso não implica que a EPul deva ser demitida das suas responsabilidades nesta área.

Olha, vou pensar mais sobre isso e já voltaremos a esta questão daqui a alguns posts...