No meu novo trabalho tenho vários colegas de diferentes origens, senegaleses, paquistaneses, romenos, marroquinos. Com quem tenho conversado mais é com uma mulher marroquina de origem e muçulmana de religião. Todos os dias vem com o seu véu posto na cabeça, sempre a condizer com a roupa que traz, e só o tira quando estamos só entre mulheres. Tenho muita curiosidade pela sua cultura e por isso todos os dias faço-lhe imensas perguntas às que ela responde com agrado e sempre com sentido de humor. Pergunto-lhe se as mulheres muçulmanas podem fazer desporto e ri-se com a minha pergunta. Claro que sim, responde, eu vou à piscina e à praia, tenho uns fatos de banho especiais que me cobrem o corpo todo e em geral escolho as horas em que há menos gente para estar mais à vontade. Pergunto-lhe se a filha dela também vai usar o véu e diz-me, só se ela quiser, não adianta nada estar a impor uma coisa para que ela depois na rua o tire e só volte a pô-lo quando entra em casa, só se ela de facto o quiser usar. Pergunto-lhe se o marido dela faz tarefas domésticas e diz, claro que sim, hoje em dia os homens árabes também já ajudam em casa. E remata, não acredites nas coisas que dizem de nós na televisão, como em tudo, só falam dos mais radicais, daqueles que interpretam o Corão de uma forma radical para o seu próprio proveito e não para o do povo que governam. No Corão não está dito que as mulheres não podem estudar, nem ser profissionais, ao contrário, é como a Bíblia, também não diz que as mulheres têm de ser donas de casa, o que se passa é que durante muitos anos tanto na minha sociedade como na tua quem mandava interpretava as escrituras sagradas da forma que lhe dava mais poder.
Por isso pergunto-me, como me sentiria eu, se por emigrar para um país com costumes diferentes dos meus, onde o símbolo de liberdade das mulheres fosse por exemplo, usar mini saia (atuendo que eu nunca uso), me obrigassem a ir todos os dias de mini saia para o meu trabalho para mostrar que sou uma mulher livre num país livre. De que liberdade estamos a falar, a de poder escolher como me quero vestir, de acordo com os meus princípios e gostos, ou a de só ter uma oportunidade de escolha, a de vestir como se veste nesse país, para mostrar que não sou diferente e que sou livre? Às vezes parece que só aceitamos a liberdade e a diversidade se ela for igual ao que consideramos como certo dentro do sistema simbólico que construímos.
Ou seja, diversidade sim, sempre e quando seja igual a nós.
2 comentários:
"me obrigassem a ir todos os dias de mini saia para o meu trabalho para mostrar que sou uma mulher livre num país livre."
Esta bocadito foi mal-treinado...
Por outro lado, há certas mulheres que insistem em usar minissaia apesar de tal constituir um insulto ao meu sistema simbólico.
Não haverá maneira de as converter ao Islão?
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