29 junho 2008

Falácias da liberdade


No meu novo trabalho tenho vários colegas de diferentes origens, senegaleses, paquistaneses, romenos, marroquinos. Com quem tenho conversado mais é com uma mulher marroquina de origem e muçulmana de religião. Todos os dias vem com o seu véu posto na cabeça, sempre a condizer com a roupa que traz, e só o tira quando estamos só entre mulheres. Tenho muita curiosidade pela sua cultura e por isso todos os dias faço-lhe imensas perguntas às que ela responde com agrado e sempre com sentido de humor. Pergunto-lhe se as mulheres muçulmanas podem fazer desporto e ri-se com a minha pergunta. Claro que sim, responde, eu vou à piscina e à praia, tenho uns fatos de banho especiais que me cobrem o corpo todo e em geral escolho as horas em que há menos gente para estar mais à vontade. Pergunto-lhe se a filha dela também vai usar o véu e diz-me, só se ela quiser, não adianta nada estar a impor uma coisa para que ela depois na rua o tire e só volte a pô-lo quando entra em casa, só se ela de facto o quiser usar. Pergunto-lhe se o marido dela faz tarefas domésticas e diz, claro que sim, hoje em dia os homens árabes também já ajudam em casa. E remata, não acredites nas coisas que dizem de nós na televisão, como em tudo, só falam dos mais radicais, daqueles que interpretam o Corão de uma forma radical para o seu próprio proveito e não para o do povo que governam. No Corão não está dito que as mulheres não podem estudar, nem ser profissionais, ao contrário, é como a Bíblia, também não diz que as mulheres têm de ser donas de casa, o que se passa é que durante muitos anos tanto na minha sociedade como na tua quem mandava interpretava as escrituras sagradas da forma que lhe dava mais poder.


Por isso pergunto-me, como me sentiria eu, se por emigrar para um país com costumes diferentes dos meus, onde o símbolo de liberdade das mulheres fosse por exemplo, usar mini saia (atuendo que eu nunca uso), me obrigassem a ir todos os dias de mini saia para o meu trabalho para mostrar que sou uma mulher livre num país livre. De que liberdade estamos a falar, a de poder escolher como me quero vestir, de acordo com os meus princípios e gostos, ou a de só ter uma oportunidade de escolha, a de vestir como se veste nesse país, para mostrar que não sou diferente e que sou livre? Às vezes parece que só aceitamos a liberdade e a diversidade se ela for igual ao que consideramos como certo dentro do sistema simbólico que construímos.


Ou seja, diversidade sim, sempre e quando seja igual a nós.

2 comentários:

dorean paxorales disse...

"me obrigassem a ir todos os dias de mini saia para o meu trabalho para mostrar que sou uma mulher livre num país livre."

Esta bocadito foi mal-treinado...

dorean paxorales disse...

Por outro lado, há certas mulheres que insistem em usar minissaia apesar de tal constituir um insulto ao meu sistema simbólico.

Não haverá maneira de as converter ao Islão?