E agora eu era um fantasma e fazia mexer os objectos à tua volta, a chávena do café que se entornava nas tuas calças e tu a ires para o trabalho com a vergonha de uma mancha tão suspeita, o espelho da sala que se despedaçava aos vossos pés e atirava o beijo que lhe ias dar para a pá onde recolhias os pedaços de vidro, eu era um fantasma e via o teu medo crescer com a minha presença invisível nos teus dias, a incredulidade nos teus olhos enquanto perseguias os objectos que fugiam de ti, a escova de dentes afinal na cozinha os restos do jantar na tua cama o telefone no frigorífico as nossas fotografias por todo o lado, até transformar a tua nova vida no inferno etéreo em que estou agora.
7 comentários:
puxa... isso tudo? Estás a tentar ensandecer alguém?
Estou só a brincar, @na. E a brincar vale tudo.
muito bom!
;) ... eu percebo-te e muito!!!
E agora eu chamava-me Werner e era um Sturmbahnführer vindo da 9-SS-Panzer-Division "Hohenstaufen" mas em vez de estar na Frente Leste como devia, encontrava-me estacionado num campo de acolhimento de coxos, paneleiros, judeus, gajas e criançada sem raça precisa, em pleno coração da Fortaleza Europa que tanto nos custou a conquistar.
De manhã cedo gostava de montar cavalo -lembras-te?... Sturmbahnfuhrer!- e depois tomava um banho, ensaboado e massajado por uma serviçal novinha, com os dentes todos e que nunca permiti que me tocasse sem luvas de cirurgia. Agora, ao fim da manhã, para preencher os tempos mortos, costumo colaborar com o médico do campo. É uma colaboração informal, claro; sou o comandante. Hoje vamos confirmar os resultados da investigação que temos estado a desenvolver para verificar a variação da acuidade visual em pacientes com a cabeça envolvida pela blindagem de um ciclotron, um 'micro-ondas' em ambiente arrefecido artificialmente, desses que hoje há pr’aí em qualquer loja chinesa.
Temos tido algumas discussões acerca do modo de calcular. O médico é fraco em estatística; o meu forte, além de predições para tiro em movimento em Panzerkampfwagen V; aí é que sou mesmo bom!
Passam os dias e cada vez me parece mais longínqua a possibilidade de voltar a comandar uma Unidade Waffen-SS em combate.
O Dr Goebbels passou por cá para me felicitar e lembrou-se de mandar fazer um palco para ensaios da orquestra. Uma inutilidade uma vez que a orquestra sempre ensaiou ao ar livre e com óptimos resultados, mesmo no inverno; é de dar em doido.
'O que é que eu tenho a ver com isto!?' é a pergunta que não pára de me assaltar. Ainda por cima O Dr Goebbels nunca mais cá veio…
Olha, tansformei-o! Adaptei o palco. Agora temos um concurso permanentemente aberto de tiro ao alvo. Todos os dias, antes do jantar a aos domingos à tarde, abre-se o pano e por trás das moitas e dos pedregulhos que mandei por lá espalhar criteriosamente, passam umas figuras que nós tentamos deitar abaixo; a graça é que cada um só dispõe de um tiro! Para estimular o interesse, os alvos variam: às segundas e quintas são raparigas do sul, da Roménia e assim; às terças é a paneleiragem e a ciganada e nos outros dias, Juden, de qualquer espécie e sem idade!
Quem tem tido melhores resultados tem sido o Gauleiter que nem militar é! Acreditas?…
Isto é de dar em doido.
esta catraia é danada para a brincadeira
bolinha vermelha... como nas touradas...
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