30 setembro 2008
Sobre o Prós e Contras de ontem
Ora, uma das partes cumpre aquilo a que se comprometeu e a outra não. Agora, ao contrário de todos os outros contratos, o incumprimento pura e simplesmente deixou de ser relevante para o fim dessa relação contratual. Agora, ao contrário de todos os outros contratos, este incumprimento não tem qualquer tipo de sanção ou de obrigação de reparação perante quem cumpriu.
Muita coisa podia e devia ser alterada na lei antiga, mas a lassidão no cumprimento das obrigações assumidas não deve, nunca, ser premiada. A culpa não pode deixar de ser uma dimensão essencial para aferir o fim deste contrato e a medida da reparação perante a parte que não faltou. Transformar esta lassidão numa conquista tardia de Abril, na verdadeira igualdade entre homens e mulheres, “na dignidade da mulher que não a de 77”, no “l´aire du temps” ou na eliminação da “visão mercantilista da direita sobre o casamento” não pode deixar de ser considerado – pelo menos! – como uma aberração jurídica que se vai traduzir em verdadeiras injustiças e situações de desprotecção gritante para a maior parte do país real.
Aproveitando: o casamento visa a constituição de família mediante uma plena comunhão de vida. A constituição de família implica principalmente a geração de vida e a geração de vida só acontece naturalmente e sem recurso obrigatório a meios ou elementos exteriores a essa relação entre um homem e uma mulher. Não posso subscrever este ou este post.
Quando se fala em direitos fundamentais convém saber de que direitos estamos a falar e não tratar de forma igual o que é, em si mesmo, diferente. E não é uma de questão linguagem inclusiva. São mesmo conceitos absolutamente distintos. A oportunidade de criar um instituto jurídico próprio para estas situações é toda uma outra discussão.
29 setembro 2008
Coisas que não fazem sentido nenhum e não interessam a ninguém
- Agarrar num frasco de verniz encarnado e pintar a unha do polegar esquerdo (faltou-me a mestria para as restantes, ou deu-me seca continuar e não tenho acetona em casa) e perguntarem-me: 'o que é isso que tens na mão'? 'Ehrr, é uma instalação artística'.
- Sair de casa e comer uma sopa no café mais próximo, quando tenho um tupperware em casa cheio dela, bem boa, feita por mim.
- Declinar um convite para A festa do ano porque me dá seca escolher roupa, que eu cá se pudesse andava de farda todos os dias.
A entropia instalou-se na minha vida. Agradece-se à múltipla de serviço que esclareça como é que a 2ª lei da termodinâmica se aplica na perfeição ao quotidiano de uma mulher de 38 anos, 3 meses e 14 dias.
28 setembro 2008
IndigNação
Uma sala de urgências cheia, não há lugar para me/nos sentarmos, escolhemos o chão, passo os olhos pelo seu documento e forço o mais que posso a minha atenção num texto no qual não me consigo concentrar.
Desata um homem novo aos gritos: "Eu quero falar com o chefe da equipa, eu tenho direito, por vossa causa a minha namorada esteve aqui 4horas e meia a perder sangue e o nosso filho morreu"!. As outras mulheres põem a mão, mecanicamente, no ventre, não vão as palavras deste quase-homem azarar-lhes o seu percurso de 40 semanas. Pela demora, pela tristeza, ou por outro motivo qualquer, o rapaz desiste e vai embora, batendo a porta com estrondo.
A enfermeira manda esvaziar os lugares, que não pode ser, duas senhoras sentadas no chão. Sou finalmente chamada.
Sou mesmo tonta, vesti a bata ao contrário. A enfermeira traz a parafernália toda e diz-me: 'escolha a cama'. Escolho a que está mais perto da janela sem saber que esta nunca iria ser aberta. No meu quarto, de 4 camas, em diagonal comigo está uma rapariga ainda menor. Sorri-me e eu a ela. Trocamos nomes e cumprimentos. Levanta-se para ir jantar e ver a sua novela dilecta.
Entubada, olho para o meu carrinho de soro e de analgésicos. Espero pacientemente a visita da médica que porá cobro ao meu sofrimento. Julgava eu. 3horas e meias depois fecham-se as cortinas e administram-me a 1ª das 3 doses de misoprostol. Recomendações de não comer nem de beber uma só gota de água. 'E vai doer'? 'Ai isso não sabemos, as senhoras reagem de maneira muito diferente'.
4:30 am: a dor atingiu o seu pico. Sentada na cama capitulo e aperto pela primeira vez o botão. Vómitos, febre. Nova dose de analgésico via cateter. A noite é longa e passo-a em branco, a jogar uma parvoíce qualquer no meu telemóvel, talvez assim consiga mitigar a dor.
9:00 am: trocam-se os turnos, nova leva de auxiliares-enfermeir@s-médic@s. Ouço gente que toma banho e que toma o pequeno-almoço. A menina da cama em diagonal acorda e espreguiça-me um bom dia. Continuo para ali sem saber o que estou a fazer ali. Esqueceram-se de mim? Sim, claro que sim. Percebo que qualquer coisa não correu bem. A começar pelas duas doses de misoprostol que a enfermeira do turno da noite se RECUSOU a administrar-me (por considerar que era um 'acto médico'), soube-o mais tarde.
'Não quer ir lavar-se'? 'Isso parece-me uma muito boa ideia, mas com este atrelado não vejo como'. Arrancam-me o cateter do soro e dão-me uma mini-toalha para me secar. A água devolve-me alguma dignidade perdida.
11:00 am: chama-me a enfermeira, 'está cá o senhor doutor e vai vê-la'. Tem um sorriso largo tal como as mãos. 'E então expulsou muito'? 'Nem por isso'. Exames, dúvidas, pressão sobre o ventre. Nada. 'Quer alta'? Como não posso querer alta depois do inferno que passei, primeiro em casa e agora aqui? 'Mas o que lhe sugerem as imagens', atiro eu a medo? 'Não sei, não são conclusivas'. Mas quer um conselho? Vá para casa, era o que diria à minha mulher, à minha mãe, à minha filha!. Agarro-me como posso à sua assertividade.
E foi assim que fui para casa. O pior, não sabia eu, estava ainda para vir: uma semana de tortura a ver as entranhas a cairem-me pernas abaixo, a sangria desatada, a falta de força, as dores físicas. E ainda as outras.
Em suma: tive um aborto espontâneo e num hospital público deram-me alta, longe de reunir condições para ter alta, dando início àquela que foi uma das piores semanas da minha vida. Acenaram-me com uma baixa de um mês como quem acena uma cenoura a um burro, que entretanto declinei (não me servia para nada, também, dado o meu vínculo contratual).
Registo aqui a minha grande interrogação: como é possível que, para se poupar recursos - ao que parece - se induzam abortos quimicamente, deixando a mulher à mercê da sua dor e da sua sorte? Tudo o que possa dizer sobre este inferno que passei será sempre eufemístico: é desumano, é primitivo, não há palavras que descrevam um sofrimento destes. E depois a sempiterna dúvida: será que estou bem? Sim, porque a probabilidade de surgirem complicações ainda são bastante elevadas, nomeadamente infecções, muito comuns.
Agora, resta-me lamber o resto das feridas, maldizer o país onde vivo, onde voto e pago os meus impostos e mandar o Serviço Nacional de Saúde para a puta que o pariu: o Estado Português.
Adenda: a rapariga que partilhava o quarto comigo, teve uma gravidez ectópica. No dia em que tive alta, já lá estava há uma semana internada. Quando chegou ao hospital, tentaram a indução do aborto por via química. Surgiram complicações e a rapariga acabou por fazer uma curetagem, entre outros porque já tinha desenvolvido uma infecção séria. Ainda tinha mais dias de internamento pela frente. Venda-se este país a Espanha. Já.
Ainda a mudança do pneu no feminino
Vergonha? Não tenho nenhuma. Vergonha é roubar, coisa que as seguradoras não se pode dizer que façam mas parece. E já que pago, ao menos que tire partido de alguma coisinha.
Eu, os meus 40 e a Meryl Streep
Senti claramente que havia dado início a uma nova etapa da minha vida e assumi uma nova postura, absolutamente mais "zen", irreconhecível, quase, para algumas pessoas que me acompanham de perto. Não é uma máscara, antes uma camada da derme que agora se revela. Creio que entrei na idade da razão e fi-lo a gostar muito de mim própria, sem vaidade mas com orgulho. Acho que estou, aos poucos, a tornar-me uma mulher madura. E aprecio a verdade das mulheres maduras.
Foi isso que, mais uma vez, senti ao ver Merryl Streep representar um papel menor, insuflado e absolutamente iluminado pela sua presença. E chorei (sim, sete e picos, sei que é fácil). Ela é uma força da natureza, sem nunca ter cedido a mudar o seu nariz "pouco comercial", livre de plásticas artificiais, e é linda. E eu, quando crescer, queria ser um bocadinho como ela.
27 setembro 2008
So long, Paul
Aqui, o trailer de Cat on a Hot Tin Roof (1958), com Elizabeth Taylor. E porque a nostalgia habita esta casa, outros momentos seus aqui.
26 setembro 2008
Nos últimos dias, todos os dias
10 de Outubro: copiar e enviar mail
Endereços de email dos grupos parlamentares:
Assunto: No dia 10 de Outubro, SIM à liberdade e à igualdade.
No próximo dia 10 de Outubro, a Assembleia da República será chamada a votar projectos que estabelecem finalmente a igualdade no acesso ao casamento.
Esta é uma questão de direitos fundamentais, é uma questão de cidadania, é uma questão que determina a qualidade da nossa democracia. Trata-se de acabar com a humilhação de muitas mulheres e muitos homens que são ainda discriminadas/os na própria lei por causa da sua orientação sexual. Trata-se de afirmar finalmente que gays e lésbicas não são cidadãos e cidadãs de segunda.
A Assembleia da República terá finalmente a oportunidade de afirmar o seu empenho nesta luta pela igualdade e pela liberdade – e a oportunidade de contribuir de forma particularmente simples para a felicidade de muitas pessoas.
O fim da exclusão de gays e lésbicas no acesso ao casamento consegue-se com uma pequena alteração no texto de uma lei, que não implica custos nem afecta a liberdade de outras pessoas. Porém, será um enorme passo no sentido da igualdade e contra a discriminação. E como demonstraram as discussões sobre o voto para as mulheres ou sobre o fim do apartheid racista na África do Sul, o preconceito que existe na sociedade não pode nunca justificar a negação de direitos fundamentais. Pelo contrário, votar contra a igualdade é legitimar e encorajar a discriminação.
Esta votação representa por isso uma enorme responsabilidade, pelas implicações que terá no reforço ou na recusa do preconceito.
Porque recuso a discriminação na lei portuguesa e porque esta é a oportunidade de repor a justiça e cumprir o princípio constitucional da igualdade, seguirei com atenção esta votação - e apelo ao voto favorável de todos os membros deste Grupo Parlamentar e à defesa intransigente da igualdade no próximo dia 10 de Outubro.
24 setembro 2008
poesia
Querida cidade:
cuida do mundo cuidemos do mundo
que à noite vai acontecer uma coisa terrível
vai vir um gigante com ramos de flores
e vamos ter de ir para outra cidade
e depois vamos ter de voltar
porque não vai haver nada nada nada
Digo-me eu: juro que não me lembro de ter andado a falar das teorias sobre o fim do mundo ao pé dela.
23 setembro 2008
O Outono a partir da minha janela
A propósito, se rectifica
da destruição dos painéis de azulejo de Maria Keil pelo Metropolitano de Lisboa
O casamento e quem vai lá dentro
22 setembro 2008
Quase
Trocamos experiências, memórias, vidas passadas. Tocámo-nos com palavras, com olhares, com sorrisos.
So faltou dizeres 'Vem'. Para acontecermos o mundo.
21 setembro 2008
20 setembro 2008
Amor cerzido
gago no espelho é fidel castro
Ou de como o humor pode salvar.
(a primeira parte da entrevista com Claudio Gaspar Dottori pode ser vista aqui)
Uma chávena de chá na blogoesfera
- Está lá?
- Viva D. Arlete, é a D. Preciosa.
- Ora, D. Preciosa, bom ouvidos a ouçam! É que vê-la 'tá quieto ó mau! Se nem na praça a encontro já...
- Pois é D. Arlete, é que desde que descobri que posso fazer as compras pelo computador, mando a listinha pelo meu neto, ele trata da encomenda e passado umas horitas aparecem uns moços jeitosos a entregar-me as compritas. Poupam-se-me os bicos de papagaio e os 4 lanços de escadas e ainda aproveito para olhar para a 'mercadoria'...
- Mercadoria? Está-se a referir às compras, D. Preciosa? Hãnnn?
- Deixe lá D. Arlete, deixe lá, que o meu motivo do telefonema é outro.
- Deixe-me adivinhar: é por causa dos nossos cházinhos. Ou da falta deles.
- Agora acertou. Sabe, faz-me falta aquele convívio. Está bem que a D. Hermengarda era uma lunática e só falava ultimamente em rever a Hermenêutica. Depois, parece que descobriu a 'luz' através de um filósofo alemão alinhado com o partido nazi, e desde que foi para a Floresta Negra na Alemanha em busca de mais documentação, nunca mais soubémos nada dela. Nem um postalito enviou, a ingrata.
- E a D. Lurdes? Ó que saudades dela também. Lembra-se do narguilé que o neto lhe tinha trazido de Marrocos? Nunca se esquecia de o levar para os nossos chás. Aliás, a bem da verdade, os chás eram quase sempre em sua casa. E se preparava umas mesas que eram uma categoria, ó se preparava, mesmo em épocas de maior carestia.
- Uma alma generosa, sem dúvida. Mas parece que agora se dedica a uma carreira de cantora a solo. Anda muito ocupada a promover a sua carreira e tourné, ela e um pianista de seu nome Nancy. Até já nem quer que a tratem por 'dona'. Tem um nome artístico que agora não se me lembra a memória.
- O quê?!
- Então, nunca é tarde para começar, não seja preconceituosa.
- Mas quem cantava não era a D. Gertrudes?
- Também, também. Pode ser que queiram fazer uma dupla, nunca se sabe.
- Duvido, a D. Gertrudes é outra a quem perdemos o rasto. A última coisa que soube dela é que andava numa missão no meio da Amazónia. Depois chateou-se com o 'sistema' e abriu um negócio de venda de sumos.
- Olhe D. Arlete, estava aqui a pensar com os meus botões...
- Diga D. Preciosa, sou toda ouvidos, deixe lá afinar o aparelho...
- E se fizéssemos um blogue?
- Um quê?!
- Um blogue. É um sítio onde escrevemos/dizemos umas balivernas e vamos pondo a conversa em dia. Pode ser que as ausentes se animem e apareçam também.
- E que nome daríamos ao gulobe?
- Blogue, be-lo-gue. Eu proponho Oito e Coisa Nove e Tal. É inspirado na canção do António Mafra. Parece-lhe bem?
- Parece-me muito bem.
- O meu neto vai tratar de tudo, então.
- Uma jóia, esse seu neto, uma jóia.
19 setembro 2008
descoberta esquecida
Repeti isto para mim mesma até à exaustão, fiquei uma semana sem falar e, depois, servi-lhe um café, pus-lhe as duas colheres de açúcar que ele gosta e soltei tranquila e lucidamente as palavras há tanto tempo escondidas em emoções confusas e emaranhadas: Amo-te. Muito, demais, amo-te. Dentro de uma semana saio de casa, vou viver comigo mesma, tenho saudades de mim.
18 setembro 2008
Entrada no carrossel do oito
Não subas. O que é que tens vestido?
Surpreendida, respondeu. Bem, ouviu, vem cá ter, quero ver-te. Ficou gelada, não sabia o que havia de fazer e as palavras nem saiam. Não tinha como dizer não. Ouviste? Sim, estou a ir, foi a única coisa que conseguiu libertar entre dentes.
Conseguiu guiar e estacionar quase por milagre, tremia com a antecipação daquele homem. Tocou a medo à campaínha. Ele abriu e sorveu-a com os olhos. Entra, vamos para a sala.
Enquanto toc toc toc pelo corredor fora sentia-o fixo nos seus ombros, costas, rabo, pernas a menear. Sentou-se a olhar para ele cheia de perguntas nas sobrancelhas.
Fez-lhe uma festa na cara, para que ela sentisse o cheiro da sua mão. Afagou-lhe o cabelo e segurou-a pela nuca. Ficaram a olhar-se em silêncio, e ela soube que seria o que ele quisesse fazer dela nessa noite. Mesmo que não houvesse mais nenhuma.
And you want to travel with him
O meu gato preto
consultório 8 e coisa
outra conversa num corredor de faculdade
17 setembro 2008
conversa num corredor de faculdade
- e em que corrente te enquadras?
- a minha cena não tem corrente, faço o que sinto e o que me sai.
- não pode ser, tens de ter uma corrente com a qual te identificas mais.
- opa não sei, sou bué inculto.
Les uns et les autres
Quando começou a ler não queria acreditar. Num relâmpago voltou tudo. A dor, a mágoa, os roubos, o choro. A incompreensão do mundo, das pessoas, da vida, das razões ou da falta delas. A incredulidade. A esperança sucessivamente espezinhada. As mentiras com tantas máscaras. A sanidade a fugir. Até o medo físico. Outra vez aquela sensação das pernas a desfazerem-se e ela com as crias a escorregarem do colo. O pânico do sangue gelado, o ouvir um choro ao longe e o coração a querer sair pela cabeça. E o cansaço, aquele cansaço…!
M. foi peão avançado numa guerra sem regras nem tréguas, que não queria nem compreendia. M. foi porta estandarte, drum boy, oficial de aprovisionamento, capelão, guarda costas, revisor de contas e fiscal de linha. M. rilhou o dente e abriu as pernas. M. foi à doutora e fez tudo o que ela lhe dizia para ir fazendo como “co-terapeuta” que era. M. inventou milhares de receitas diferentes de esparguete, deu banhos com água aquecida em panelas, reciclou fraldas e tapou as cáries com pastilha elástica enquanto cantava canções de embalar. Todos os dias M. afinava o sorriso ao espelho e ia trabalhar.
M. pensava que se aguentasse tudo, se cumprisse à risca, se não falhasse nunca, se encobrisse sempre, a vida ia-se compor. M. aprendeu da pior maneira o primeiro passo: a impotência perante a dependência química.
Hoje M. tem uma nova vida, onde já ensaia uns - ainda tímidos - passos. Compreendeu que não há só uma maneira de ajudar os outros e que tem o dever de se ajudar a si própria. Compreendeu que cometeu um erro primário ao não perguntar a cura a quem tem as mesmas cicatrizes. E “só por hoje” não vai tentar resolver todos os seus problemas ao mesmo tempo.
The “Dirty Boulevard”… A crowded place!
16 setembro 2008
Hoje à noite na SIC
14 setembro 2008
Fantasia setextual
A adolescência tem fases muito difíceis e há altura em que absolutamente ninguém nos compreende, como quando as minhas amigas da escola me destroçaram mi primer amor, pois enquanto elas contavam animadamente os mais infinitos detalhes das suas paixões pelo paul newman, pelo tipo dos duran duran, e por mais uns que eu nunca lhes aprendi os nomes, e sonhavam deliciadas com os seus sex simbols, eu tinha que guardar para mim todos os momentos da minha paixão com o Michel In, pois de duas veces que tentei contar alguma coisa gozaram tanto comigo que nunca mais me apeteceu contar-lhes nada.
13 setembro 2008
Só por hoje
Continua o relato da A. na série The Dirty Boulevard.
Um dia ganhei coragem e resolvi ligar para o número que encontrei na lista telefónica e que estava atribuído aos NA. Atendeu-me uma máquina e deixei recado. Fui contactada no próprio dia, à noite, por uma voz feminina e simpática. Marcámos encontro para o dia seguinte.
Depois, começaram as apresentações. Abriu o moderador-veterano NA, “Olá o meu nome é F. e sou toxicodependente em recuperação há 20 anos”. Responde a plateia: “Olá F.”. Chegou a minha vez e lá balbuciei o mantra. Tive dúvidas na palavra recuperação, estava tão angustiada que sabia que mal pusesse o pé fora daquela sala, iria consumir.
De acordo com as regras, ninguém era obrigado a partilhar se não sentisse vontade de o fazer, e se alguém novo no grupo - o meu caso - o quisesse fazer, teria que esperar e fazê-lo no fim. Mantive-me calada. Não tinha nada para dizer, mas ouvi com muita atenção o que me disseram:
O executivo, pai de família, consumidor compulsivo e arrependido, a loura de cigarro pendurado nos lábios a relatar uma orgia de sexo e cocaína e a rematar no fim ‘e sabem que mais? Gostei’, o mecânico de automóveis obeso que desatou num pranto de lágrimas e arrependimento, a jovem da margem sul tatuada e a transbordar um optimismo de plástico, dois tipos com ar carcomido e calados, braços cruzados, fumando cigarro atrás de cigarro, com a cabeça em mais uma dose de cavalo e muito pouco na sessão, um tipo adormecido de um sono opiáceo no fim da mesa.
A sessão terminou e culmina com um abraço entre os participantes. Calha-me na rifa o mecânico obeso que quase que me esmaga contra o seu peito e me encharca com o seu suor e lágrimas. Saio de lá de dentro, num misto de repulsa e confusão.
Pela minha recém-amiga frequentei mais sessões e fui variando os locais, regra geral, salas em igrejas. No entanto, nunca consegui aderir à filosofia NA e acreditar naquela proto-religião, feita de porta-chaves a assinalar os dias-meses-anos de recuperação, e de mantras e de confissões duvidosas. Não considero que este passo tenha sido decisivo na minha recuperação. Mas foi um dos muitos passos que dei, numa longa caminhada feita de avanços e de retrocessos. (...) Mas este não é um juízo de valor, não tenho nada contra os NA, simplesmente não funcionou comigo.
Valeu, contudo, o facto de ter conhecido a minha amiga. Há uns anos, telefonei-lhe. Já não se lembrava de mim, e foram precisos uns bons 10 minutos de conversa até me conseguir situar. Contei-lhe que me tinha safado e que me tinha lembrado dela, que lhe queria agradecer o que tinha feito por mim. Quase que a posso imaginar do outro lado da linha. A sorrir.
A vizinha do lado
Mexe com as cadeiras p'ra cá, mexe com as cadeiras p'ra lá... Mexe com o juízo do homem que vai trabalhar.
:)
The end of love
Depois sento-me e inicio uma quase-conversa. Não há vez que não lhe diga: 'Anima-te. Ainda és tão novo, tens a vida pela frente, um mundo de sonhos e de desejos por cumprir. Vais capitular agora?'.
Olha, querido blogue, é verdade que a chama da paixão se apagou. É verdade que foste tudo para mim e é importante que saibas isso. Mas mantenho a minha promessa: prometo controlar as estatísticas do sitemeter sempre que me for possível.
Tua sempre,
Oitoecoisa
12 setembro 2008
a sondagem, primeiro comentário
Claro que não vem mal nenhum ao mundo por pedir ajuda a um homem, alguns deles também sabem mudar pneus, outros não saberão. O problema estaria se considerássemos que só eles têm capacidade para mudar um pneu.
Das poucas vezes que mudei pneus, com a ajuda só de mulheres ou de homens, descobri que se nunca tivesse mudado um pneu não teria tido a possibilidade de gozar esse momento, de mudar uma roda vazia que me deixou a meio do caminho e de esfalfar-me para que poder arrancar de novo e seguir o meu caminho.
E para aquelas mulheres que não sabem mudar um pneu, aqui têm um link útil, e alguma dúvida escrevam-nos, que a nossa múltipla que conhece tão bem o mundo da mecânica certamente responderá.
Elogios
Ao sair do carro, verifiquei que o depósito de combustível se tinha rompido, derramando gasolina por baixo do retorcido chassis moribundo. Imediatamente abri o capô e, enquanto tentava desligar os bornes da bateria, para evitar possíveis curto-circuitos (nunca se sabe, com 12 V), apareceu um polícia, um rapaz novo, mais novo que eu.
Polícia: 'Então, menina o que aconteceu?'
Eu : 'Olhe, Sr. Agente, foi um louco que me bateu e fugiu'
Polícia: 'Não se preocupe que os meus colegas já o apanharam ali à frente. Mas o que está a fazer?'
Eu: 'A retirar os bornes da bateria do carro'(o que é que lhe parecia??)
Polícia: 'Ah, pois, mas posso dizer-lhe uma coisa?'
Eu: 'Hun?'
Polícia: 'É que a menina tem umas sardas muito engraçadas'.
11 setembro 2008
Mecânica Feminina
Foi assim que aprendi, e executei, por várias vezes e com afinco, a limpeza das velas, tendo por vezes de as retirar e voltar a colocar, a afinação do Klaxon, ou buzina, com retoques discretos e carinhosos no solenóide, a mudança do filtro de ar, a afinação - manual - da intensidade e alinhamento dos faróis, e isto para não falar nas restantes tarefas de manutenção, como verificação da pressão de pneus, do nível do óleo, incluindo a sua substituição e a montagem e desmontagem da bateria, colocando-a, sempre que necessário, à carga num circuito dedicado.
Um dia, por ter detectado que dois cilindros estavam isolados, vi-me obrigada a verificar o estado das velas. Removi-as, escovei-as, mergulhei-as em dicloroetileno para remoção da sujidade mais difícil e estava a verificar e rectificar o espaçamento dos eléctrodos com um 'apalpa-fugas' quando passa um homem e me diz:
'Então menina, ficou sem gasolina, foi?'
09 setembro 2008
fio fio
programa de fim de semana
Pergunta ela, animada pela descoberta das perguntas para perguntar o mundo.
como se chama onde vendem sapatos?
- sapataria
como se llama onde vendem o pão?
- padaria.
Outro dia:
Acorda de manhã e diz:
sabes mamã, eu gostava de ser diferente, gostava de ser cor-de-rosa e poder entrar dentro de la televisión para brincar com os Litle Einesteines e o Pororo. Tu podias vir comigo e íamos ir as duas à Diferenceria.
- Também eu queria lá ir querida, tan bien yo. Seria um programão!
08 setembro 2008
comer, prazer e emagrecer
Ó Marta, não diga isso, não me agoire a dieta, que esta é a segunda vez na minha vida que me proponho a ela. Agradeço-lhe a recomendação sobre o exercício físico, mas já agora aproveito a ocasião para explicar qual o sentido de uma dieta drástica para mim.
É drástica porque tem que dar bons resultados, mas estes não têm que ser imediatos, se dentro de um mês tiver perdido um quilo e dentro de dois anos 15 estarei contente.
É drástica porque tenho que mudar de hábitos, tanto alimentares, por isso é dieta, como de vida, por isso sei que tenho de fazer mais exercício físico (até sou feliz quando o pratico, tenho é dificuldade em integrá-lo como uma rotina), e deixar de fumar, mau hábito que tenho desde há muuuiitos anos.
Cheguei à conclusão que os hábitos que tenho actualmente não estão a dar muito resultado e estão a prejudicar a minha saúde, não tanto a actual, mas como a que virá num futuro relativamente próximo (é certo que ninguém sabe o que lhe vai passar amanhã, mas não quero pensar no pior mas sim que quero chegar a velha com alguma qualidade de vida).
Mas o drástico para mim não significa dor, nem sofrimento, nem sentimento de privação ou sacrifício. Ao contrário, todas as mudanças, sempre que possível, têm que vir (também) acompanhadas de prazer e alegria, que eu tenho uma tendência para o hedonismo, que muito prezo e que não gostaria de perder.
8 e coisa, um blogue ao seu dispôr
07 setembro 2008
Alfa e Beto
Soriano é professor e vive numa zona muito turbulenta na região do Magdalena Medio na Colômbia (turbulenta quer dizer que é muito perigosa e que há actores armados de todos os lados). Como nessa zona o acesso a muitas aldeias só pode ser feito de burro, pois mais nenhum outro tipo de transporte lá pode chegar, ele arranjou dois destes animais, o Alfa e o Beto, para poder fazer chegar os livros a quem deles necessita, ao mesmo tempo que vai dando as suas aulas. Só tem duas condições, têm de lavar as mãos e não podem escrever nas páginas dos livros.
04 setembro 2008
Grão a grão
Não diria melhor
Que é frequente persuadir-me
De que sou sentimental,
Mas reconheço, ao medir-me,
Que tudo isso é pensamento,
Que não senti afinal.
Temos, todos que vivemos,
Uma vida que é vivida
E outra vida que é pensada,
E a única vida que temos
É essa que é dividida
Entre a verdadeira e a errada.
Qual porém é a verdadeira
E qual errada, ninguém
Nos saberá explicar;
E vivemos de maneira
Que a vida que a gente tem
É a que tem que pensar."
Fernando Pessoa
03 setembro 2008
esta semana, no Oito e Coisa
02 setembro 2008
às vezes
eles são os vampire weekend e a música chama-se oxford comma
01 setembro 2008
Escolhe o teu peixe, não mordas o anzol
A Greenpeace Portugal apresentou recentemente um estudo sobre o peixe vendido nos supermercados portugueses e conclui que nenhum dos 5 grupos de supermercados estudados vende peixe obtido de forma sustentável. De todos os supermercados, o que obteve melhor qualificação foi o Lidl.