20 abril 2009

Num dia como este

chego aqui e decido vou escrever. Não faço a menor ideia o que irá sair, não prometo mais do que palavras alinhadas umas atrás das outras. Talvez me lembre das moedas que tirava à minha mãe para comprar cigarros às escondidas, na certeza de que isso faria de mim uma pessoa crescida. Hoje arrependo-me da estupidez que me fez querer ser grande. Ou talvez me lembre do dia em que o conheci, cinquenta centímetros de gente saído de dentro de mim, tão branco quanto é agora, cheio de dentes definitivos e opiniões temporárias. Tudo isto faz um sentido qualquer, ter-me tornado uma pessoa crescida que pode fumar, pagar contas, pensar na vida enquanto ela escorre nos minutos cheios de nada. Olho para as minhas mãos, estas que tocam no piano inventado do meu teclado, e vejo que o círculo se vai fechando. Já não preciso de me esconder para fumar, não preciso das taças de vidro por baixo da camisola para fingir que sou uma mulher, larguei as chávenas em que bebíamos cocacola disfarçada de café, já posso guiar um carro, viver sozinha, entrar em casa às horas que me dá na gana, decidir o que como ao jantar. E às vezes dou por mim a ter saudades dos tempos em que ser grande era uma certeza distante que nunca mais chegava.

1 comentário:

sete e pico disse...

como sempre, belo!