01 fevereiro 2007

They make me laugh


Tenho umas paixões intelectuais assolapadas e do mais variado que há; de direita e de esquerda, radicais e moderados, conservadores e liberais, altos, baixos, gordos, magros, com bigode, com barba e sem pêlo. Como o homem da regisconta.


Pus-me a pensar e única coisa que todos eles têm em comum é a capacidade de expôr as suas ideias claramente, com inteligência e honestidade - e mais que nada com muita graça. Pelo menos para mim.


Outra coisa que têm em comum é que não quero conhecer nenhum deles, para que a magia não se perca. As paixões são coisas muito importantes na vida das pessoas, e eu não me quero dar ao luxo que me partam o coração descobrindo que a inteligência não é assim tanta, a honestidade discutível e a graça se perca.


Prefiro admirá-los ao longe e rir-me sozinha com o que dizem e escrevem. E como sou uma atada, nem um piropo lhes mando.

6 comentários:

Anónimo disse...

A propósito deste post, e porque qualquer português que se preze tem que resvalar para a melancolia

Dai-nos, meu Deus, um pequeno absurdo quotidiano que seja,/ Que o absurdo, mesmo em curtas doses, /defende da melancolia /
e nós somos tão propenso a ela

O'Neill


Lembrei-me disto do Eugénio de Andrade


Não sei como vieste,
mas deve haver um caminho
para regressar da morte.
Estás sentada no jardim,
as mãos no regaço cheias de doçura,
os olhos pousados nas últimas rosas
dos grandes e calmos dias de setembro.

Que música escutas tão atentamente
que não dás por mim?
Que bosque, ou rio, ou mar?
Ou é dentro de ti
que tudo canta ainda?

Queria falar contigo,
dizer-te apenas que estou aqui,
mas tenho medo,
medo que toda a música cesse
e tu não possas mais olhar as rosas.
Medo de quebrar o fio
com que teces os dias sem memória.

Com que palavras
ou beijos ou lágrimas
se acordam os mortos sem os ferir,
sem os trazer a esta espuma negra
onde corpos e corpos se repetem,
parcimoniosamente, no meio de sombras?

Deixa-te estar assim,
ó cheia de doçura,
sentada, olhando as rosas,
e tão alheia
que nem dás por mim.

sete e pico disse...

já cá fazia falta o nosso poet bomber. welcome back!!

8 e coisa 9 e tal disse...

propensão para o absurdo, na mouche.

Anónimo disse...

"Tenho umas paixões intelectuais assolapadas e do mais variado que há; de direita e de esquerda, radicais e moderados, conservadores e liberais, altos, baixos, gordos, magros, com bigode, com barba e sem pêlo."

Eu também, eu também. E algumas das paixões também têm bigode, etc... Ultimamente ando assolapado por um tipo que desconfio que nem seja bem deste planeta, benzó Deus por nos fazer o favor de existir. Vejam-me lá este poema dele:

Pa larvas

Pára, pá
Pára, põe-te em pé
E desentope-te pá,
Desampara-te
Aprimora-te e desempenha-te pá
Em pânico, pois: estás à pinha, pá
Poluído, pasmacento, pleonástico
Fazes piruetas patéticas para quem passa pá
E as pombas perseguem-te com poias implacáveis
Por mais que procures poções piramidais
para os pessoalíssimos problemas
Perdes-te na palha:

E pedes apoio
Pões pinta de pobrezinho
E dás a pata pá
Dá a pata pá
Que eu passo-a a pente
com ponta de picos
Para depois te pedir perdão
Tenho tanta pena pá

Vai prescrutar a patagónia pá
Por aqui não se passa nada

Só passas tu:
Apimentado, pleno de papas e pomposo,
presa preguiçosa da piranha papal

Pobre pinóquio pedante

O teu prazer perdeu o pulso
Sapato polido sem pé
Pisa-te pá
Apunhala-te
Emporcalha-te
E põe-te a pau
Porque a paciência já é pouca
para pedir provas
A um povo tão perdido.
E podes bem pedir-me para parar
Porque é perigosa a publicidade para o país:
Mas não precisas de mim para parecer parvo
Eu só ponho no papel
A palavra que passa
Nos parques e esplanadas

Que pontua os patuás
Das pessoas porreiras
A palavra proibida

O poente, o pretérito
O pomposo passado
O património impraticável

O tempo que passa pá
Já passou pá, já passou

Pensa neste particular perfume
Esta pretensão a ser perfeito
Esta paranóia de parecer um príncipe
Entre os pilares apopléticos
E os profundos pinhais
E as pequenas propriedades privadas
A plenos portões
Para grandes patrões
E esposas mal podadas
E filhos poltrões
Que já se parecem com nada
Mimados de papillons.
Por aqui e por ali
No pequeno pátio
Tudo pronto
para apodrecer
Mas bem polido
País que os
pequenitos
Nunca pediram

Que parte o coração
A quem aproxima o pensamento

Por ser mais prático
Padecer de parkinson
Complacentemente

Não é nada pontual

As pessoas pensarem
Em partir daqui
para outras paragens
Outras expectativas:

E não te perguntas
Porque há tantos poetas cá?
Já partiram pá:
Vivem noutros planetas
Em prédios ao lado
Em pesadas penas
Ou em penugens de pássaros
Passaram a ponte
da possibilidade
Porque aqui só há
possibilidades pá

E muito pouco para partilhar
Tirando a patetice do pontapé na bola
E uma panóplia de produtos pindéricos
Que pesam a quem procura pousar
O pequeno coração no pavimento

Mas bendito sejas entre os povos do planeta
País precoce que pressentiu desde o princípio
Que a vida não pára de partir a porcelana:
E, então, porque não importá-la
E possuir apenas a aparência opulenta
A prosa do que é profundo
E não o fundo pardo do futuro que apoquenta.

J.P. Simões, Pa larvas

Isabela Figueiredo disse...

Eu cá, ainda está para vir o dia em que ache graça a um conservador ou liberal de direita. Preferia um polícia de bigode!

8 e coisa 9 e tal disse...

Olha o preconceito Isabela... Não negues à partida uma ciência que não conheces. Assim de repente lembro-me de dois; mas lá está, devem ser gajos atípicos.

o "achar graça" a que me refiro é do ponto de vista puramente intelectual, que o outro achar graça tem mais requisitos.