09 junho 2008

After we're gone

(Algures em Lisboa, depois de um funeral, detalhes de conversa entre irmãos e mãe)

- Eu: Ouçam, se eu por acaso morrer antes de algum de vocês, ficam a saber que quero ser cremada. E se a lei o pemitir, que as cinzas sejam deitadas no mar.

- Irmã X: e se te lançarmos ao mar e estiver vento, e esse mesmo vento nos devolver as tuas cinzas nas nossas caras? (risos)

- Eu: Escolham e estudem as condições meteorológicas mais propícias. Vento de feição para as minhas cinzas! E quero que a irmã Y toque aquela música que, aliás, já sabe qual é. Há muitos, muitos anos.

- Irmão X: Eu não me interessa o modo e como/para onde vou. Desde que cantem o Ave Maria da Nina Hagen... Mas cantado pela própria. E em alemão!

- Eu: Epá, és exigente, tu. E se a Nina Hagen não for viva?

- Irmão X: Então, uma cantora gótica à altura.

- Irmã Z: Eu gostava que cantassem o Gloria, de Vivaldi...

- Eu: Sempre foste muito sóbria... (...)

(Irmã X sempre em silêncio - a mais nova - a ouvir, sorrindo)

- Mãe: Para mim, o que é terra tem que acabar na terra. Ai de vocês se não me enterrarem e não tratarem da minha campa! Quero flores e manutenção e visitas semanais!

(Em coro): Sim, mãezinha...

Entretanto, lá fomos rindo, e brindando a vida. Despedimo-nos de quem partiu da melhor maneira que soubémos. Com a coragem e união imprescindíveis nestes momentos.

E a cidade abriu-se em violeta-flor, hoje. Um manto-passadeira de jacarandás feito.

Também quero ir em Junho.
Já, já, já é que não...

3 comentários:

Anónimo disse...

Sábia, a mais nova.
À terra o que é da terra:
http://manyfaces.blogs.sapo.pt/12099.html

sete e pico disse...

Lindissimo esse brinde à vida escrito neste post...

Anónimo disse...

é verdade, de como a morte se transforma em vida.