11 março 2009

Rostu inu turansurêchonu

Japão, 22:58h, e os néons em forma de rabiscos gritam num céu escuro e limpo em cores de verde, azul, encarnado e amarelo. Na rua, homens e mulheres movem-se apressadamente para apanhar o último comboio para casa, pequenos, franzinos e com expressões de grande seriedade, como os fatos cinzentos e gravatas sem cor que ostentam.

A estatura japonesa levou algumas companhias aéreas, operando de e para o Japão, a adicionar 3 assentos por fila na classe económica, aumentando assim a oferta de lugares sem necessariamente comprometer o conforto do passageiro.

Outro fuso horário, outros costumes. Aqui, nada é fácil, nada é garantido. Viver é um privilégio alcançado à custa de muito trabalho, dedicação. E honra. Honra que garante a praticamente não existente criminalidade, honra que dignifica e valoriza o indivíduo, independentemente da posição sócio-económica que ocupa, honra que traz força para vencer na adversidade. Numa terra onde há terramotos, maremotos, vulcões, montanhas inóspitas e vales agrestes, apenas 10% do espaço é habitável e a existência não é um dado adquirido, mas uma conquista individual.

Talvez por isso o reverso da medalha aparente uma grande estranheza ao ocidental. Desde os Pachinko - salas forradas a néon rosa-shock intermitente com máquinas de jogo semelhantes a um pinball com grandes desenhos dos primos e sobrinhos dos Son-Gokus e Sailor Moons deste mundo, às livrarias com filas interminaveis de pocket Manga, dos mais diversos e variados temas - histórias sobre amizade, episódios de guerreiros intergalácticos invictos e soft-porn - abrindo da esquerda para a direita e cuidadosamente embrulhados em plástico selado para evitar a propagação de possíveis doenças, tudo parece saído de um qualquer desenho animado e destinado a trazer um pouco de alegria e excentricidade.

O tema da saúde pública é, aliás, um assunto de grande preocupação na sociedade japonesa, em que as pessoas se auto-colocam máscaras descartáveis na cara, não para mitigarem possíveis efeitos resultantes da poluição, mas para evitarem contagiar outros com os seus germes.

Igualmente preocupante é o cuidado com a higiene, sendo as retretes equipadas com tampos aquecidos com duches (shower), duche para senhoras (bidet) e secador de partes privadas (dryer), todos eles com fluxos e temperaturas reguláveis. Alguns possuem ainda a opção de regulação do volume do autoclismo (loud/quiet). Curioso é que tais sofisticados equipamentos cohabitam lado a lado e em cubículos de igual número com retretes 'à turca´, o que se torna menos agradável quando se pensa que, ao se entrar nas casas de banho das empresas, é necessário descalçar os sapatos de rua e colocar os chinelos comuns- rosa para as senhoras e azul para os senhores - de utilização das instalações.

Narita kuko é ité okudasai, por favor.

4 comentários:

na prise és bestial disse...

Mais crónicas de viagem, faz favor.
Já agora, se oito e coisa san tiver disponibilidade, traduza as frases japonesas que aqui nos deixou.

nove e tal disse...

a última frase a oito san está a dizer que quer ir para o aeroporto de Narita.

a primeira no idea.

(Japão, que sorte!)

sete e pico disse...

bonita crónica e apoio a na prise, venham mais como esta.

ansofeis, diz a senhora do guichet da verificação, será que isto tem alguma tradução ao japonês?

8 e coisa 9 e tal disse...

Quanto ao titulo, experimentem dizer 'lost in translation' em japones....