08 agosto 2006

O abatimento

"É a rapidez de tudo isto que mais custa. De repente. Assim. Pontes destruídas, pernas arrancadas, infâncias perdidas e estradas destruídas, edifícios esventrados, aviões no céu e gritos. Assobio e explosão e prece desesperada, uma respiração demasiado curta, coração que bate, grande pavor, sono interrompido, ironia, vergonha e humilhação. Tudo isto de repente. Instantaneamente. Como uma faca atravessada na garganta.

Faz alguns dias que ando sem fixar a atenção em nada, à procura das palavras. Sem acreditar naqueles que dizem «não há palavras para exprimir…», pelo contrário, fixar-me nisso. Quando não temos mais nada, restam-nos ainda as palavras; se começamos a dizer que já não há palavras, então está mesmo tudo perdido, escuridão, escuridão.
Procurar, mesmo que não se encontre. Olhar para as mãos e ver aí, nas nossas próprias veias e músculos, ali, nos braços, a impossibilidade de actuar. Constatar e ser impiedoso para consigo mesmo e assumir: não há nada que eu possa fazer, não sei o que fazer, sinto-me impotente, só me resta esperar e seguir a decepção."

Wajdi Muawad, libanês.

1 comentário:

JPN disse...

abraço forte.