27 agosto 2006

o admirável mundo novo

Assumidamente confiante marcou caminho deslizando de queixo erguido ao largo do prédio coberto de andaimes e engoliu todos os piropos mais e menos sem graça que iam caindo do terceiro andar. "Comia-te toda ó giraça!", "És boa!", "Leva-me pra casa que eu mostro-te como é!" e o inevitável, "Ó febra!!". O 36 estava ainda imóvel ali na paragem como percebendo da sua pressa e subiu os degraus aliviada. Que dia chato.
Olhou em volta os outros passageiros recortados no contra-luz de fim de tarde, em pausa, como se alguém tivesse premido o botão do comando da tv. A multidão como um vasto mar de sombras estáticas, desistentes de mais um dia qualquer. Também se sentia assim. E implodiu. O motorista enfiou a primeira e ela implodiu. Abriu uma janela. levantou a blusa branca, estatelou as mamas contra o vidro e gritou bem alto para o terceiro andar do prédio, "O que vocês queriam sei eu!". Risos, gargalhadas sonoras, mais uma centena de piropos todos em simultâneo e sem tradução possível e o autocarro arrancou. Baixou a blusa e sentou-se. Assumidamente confiante. E sorria. Agora os passageiros ainda pareciam belos no contra-luz de final de tarde mas já não eram sombras estáticas.

7 comentários:

Anónimo disse...

olha para ela a mostrar as mamas.. o que tu queres sei eu...

(com a respectiva nota de copyright)

Anónimo disse...

o 36 ? vou fazer um enorme esforço de memória e... sim, já sei o percurso

As meninas de odivelas
As meninas de odivelas
Ai mostram as mamas
Ai mostram as mamas
Ai mostram as mamas delas

Está gira a posta, é pena é ser fantasia.

Anónimo disse...

ó boa, descrevia-te toda

não há direito...desassossegar um gajo com esta prosa

Anónimo disse...

é de facto insuportável esta mania dos (alguns) homens de mandarem piropos, ou melhor jabardices, às mulheres, como se fossem um bocado de carne que por ali passasse. A propósito desta posta lembrei-me de uma resposta de uma amiga a um tipo que lhe disse: ó filha és tão boa que to metia todo num sitio que nunca ninguém to meteu..
Volta-se ela com um ar quase seráfico e amanda-lhe: "ai sim? só se se for na mala...". Não houve qualquer resposta do jabardo...

Anónimo disse...

chérie,

a propósito de piropos, há uns que já me fizeram (sor)rir bastante, dado o conteúdo: uma vez cruzei-me na rua com um tipo e nada faria prever o que dali poderia advir, imaginei a coisa mais sórdida, depois de tirada a pinta ao mânfio. cerrei os dentes e os ouvidos e fiquei à espera do pior. e não é que, para grande espanto meu, escapou-se-lhe daquela bocarra: 'e ainda dizem que as flores não andam'? claro que esta é a excepção e não a regra. de qq modo, o homem arrancou-me, naquele dia, um sorriso.

p.s. a menina é uma ousada, vai lá vai...

Anónimo disse...

Há piropos que violentam. Desde a puberdade somos confrontadas com homens que nos querem tocar no autocarro, no metro, na rua, que nos anunciam o que fariam se deixassemos e avisam-nos que há os que fazem mesmo quando não lhes deixam.

E depois ainda perguntam porque é que as mulheres são diferentes dos homens... Somos ameaçadas desde a menarca senhores, não é agradável. e como diz a minha avó, o mundo é dos homens porque são eles que têm a força física.

Anónimo disse...

eu cá gosto muito do baile da d. ester, é como o outro, não há baile como este, mas estou de acordo pirata, cada vez mais vamos vendo a diferença e as excepções a caminharem lenta, lentamente para serem regra... arrefinfem-lhe ó homens, a construir masculinidades diferentes, mais justas para vocês e para nós.