12 dezembro 2007

Asneiras precisam-se

Gosto de dizer asneiras, palavras consideradas como feias, ofensivas, carregadas de fel. Não as digo de forma boçal ou para ofender directamente a outra pessoas, mas saem-me como expressão de alivio, em geral de dores físicas ou morais, ou quando uma coisa me surpreende muito, ou assusta ou mesmo entusiasma; o dizer asneiras ajuda-me a que uma parte da tensão(raiva, dor, nervos) se me vá no vento que leva as palavras palavrões. E como vivi vários anos fora do meu país habituei-me aos seus efeitos relaxantes na minha pessoa e à liberdade de poder dizer os meus caralho, fodassss, caralho à vontade nos cenário mais inusitados, pois ninguém compreendia e não tinha tanta pressão social em cima.

Mas ultimamente ando com um problema de expressão, com uma dificuldade no linguajar asneirento. Por um lado, agora convivo mais com crianças e com elas mas principalmente com a minha filha, obrigo-me com esforço a controlar a minha língua de prata, para que ela depois não comece a repetir tudo e a dizer que a mãe dela diz por isso ela também pode. Além disso, é melhor que ela primeiro aprenda que há espaços onde não pode dizer asneiras, para que depois mais tarde possa construir os seus próprios espaços de asneirar.
E por outro lado, ando com imensa dificuldade em encontrar vernáculo que me agrade e que não esteja relacionada com mulheres directamente. Cabrão, puta, filho da puta, filho da mãe, malparido, maricas, coninhas, corno, filho de um corno, etc, são tudo palavrões que continuam a marcar uma série de estereótipos em relação à mulher, à fidelidade e ao recato que esta deveria ter e não tem por isso cai nos palavrões do povo. Antes dizia-os e sabiam-me bem, não pensava sequer que eram ofensivos e que insistiam em manter uma imagem de mulher já tão desajustada, mas tão difícil de mudar nas mentalidades colectivas e nas práticas individuais. Agora, já não me ajudam a descarregar a tensão, antes me sabem a amargo.

Por isso tenho de enriquecer o meu merdaculário, agradeço imenso se alguém tiver sugestões para poder continuar a disfrutar destes meus lexotans orais e naturais, que o caneco, o caraças e o carôço já m’andam a desarranjar o sistema nervoso, são soft demais, não sabem a asneira!

9 comentários:

sem-se-ver disse...

f***-se?

não desajusta de imagem estereotipada nenhuma, pois não?

:))

foi dançar a bossa nova disse...

LOL!!
Tenho uma amiga a quem nunca ouvi um palavrão, por mais pequeno que fosse (sim, nem merda). Agora, descobri que tenho outra amiga que só quer poder dizer palavrões inclusivos! Tenho de vos juntar um dia destes!!

Anónimo disse...

Deixo ficar este texto de especial inspiração e graça do Miguel Esteves Cardoso. Sei que é longo para uma caixa de comentários mas vale a pena, não obstante ser do conhecimento geral. Para quem já o leu vale sempre a pena repetir a leitura e o sorriso que acompanha.

“PALAVRÕES”

Já me estão a cansar... parem lá com a mania de que digo muitos palavrões, caralho! Gosto de palavrões! Como gosto de palavras em geral. Acho-os indispensáveis a quem tenha necessidade de dialogar... mas dialogar com caracter! O que se não deve é aplicar um bom palavrão fora do contexto, quando bem aplicado é como uma narrativa aberta, eu pessoalmente encaro-os na perspectiva literária! Quando se usam palavrões sem ser com o sentido concreto que têm, é como se estivéssemos a desinfectá-los, a torná-los decentes, a recuperá-los para o convívio familiar. Quando um palavrão é usado literalmente, é repugnante.

Dizer "Tenho uma verruga no caralho" é inadmissível. No entanto, dizer que a nova decoração adoptada para a CBR 900' 2000 não lembra ao "caralho", não mete nojo a ninguém. Cada vez que um palavrão é utilizado fora do seu contexto concreto e significado, é como se fosse reabilitado. Dar nova vida aos palavrões, libertando-os dos constrangimentos estritamente sexuais ou orgânicos que os sufocam, é simplesmente um exercício de libertação.

Quando uma esferográfica não escreve num exame de Estruturas "ah a grande puta... não escreve!", desagrava-se a mulher que se prostitui.

Em Portugal é muito raro usarem-se os palavrões literalmente. É saudável. Entre amigos, a exortação "Não sejas conas", significa que o parceiro pode não jogar um caralho de GT2. Nada tem a ver com o calão utilizado para "vulva", palavra horrenda, que se evita a todo o custo nas conversas diárias.

Pessoalmente, gosto da expressão "É fodido..." dito com satisfação até parece que liberta a alma! Do mesmo modo, quando dizemos "Foda-se!", é raro que a entidade que nos provocou a imprecação seja passível de ser sexualmente assaltada. Por ex.: quando o Mário Transalpino "descia" os 8 andares para ir á garagem buscar a moto e verificava que se tinha esquecido de trazer as chaves... "Foda-se"!! não existe nada no vocabulário que dê tanta paz ao espirito como um tranquilo "Foda-se...!!". O léxico tem destas coisas, é erudito mas não liberta. Os palavrões supostamente menos pesados como "chiça" e "porra", escandalizam-me. São violentos.

Enquanto um pai, ao não conseguir montar um avião da Lego para o filho, pode suspirar após três quartos de hora, "ai o caralho...", sem que daí venha grande mal à família, um chiça", sibilino e cheio, pode instalar o terror. Quando o mesmo pai, recém-chegado do Kit-Market ou do Aki, perde uma peça para a armação do estendal de roupa e se põe, de rabo para o ar, a perguntar "onde é que se meteu a puta da porca...?", está a dignificar tanto as putas como as porcas, como as que acumulam as duas qualidades.

Se há palavras realmente repugnantes, são as decentes como "vagina", "prepúcio", "glande", "vulva" e escroto". São palavrões precisamente porque são demasiadamente ínequívocos... para dizer que uma localidade fica fora de mão, não se pode dizer que "fica na vagina da mãe" ou "no ânus de Judas". Todas as palavras eruditas soam mais porcas que as populares e dão menos jeito! Quem é que se atreve a propor expressões latinas como "fellatio" e "cunnilingus"? Tira a vontade a qualquer um! Da mesma maneira, "masturbação" é pesado e maçudo, prestando-se pouco ao diálogo, enquanto o equivalente popular "esgalhar um pessegueiro", com a ressonância inocente que tem, de um treta que se faz com o punho, é agradavelmente infantil. Os palavrões são palavras multifacetadas, muito mais prestáveis e jeitosas do que parecem. É preciso é imaginação na entoação que se lhes dá. Eu faço o que posso.

Miguel Esteves Cardoso

JPN disse...

excelente post(principalemente pela percepção de que pela linguagem se faz o mundo e que o mundo que essa linguagem constrói é muito acachapado. e muito boa oportunidade do MEC aqui metido.

hoje tirei o dia para ler (e me deliciar) com o oito e coisa.


às onze no farol, com pronúncia do norte, parece-me excelente para o fígado!

8 e coisa 9 e tal disse...

fantástico o texto do MEC, não conhecia e claro, não pude deixar de me rir, apesar de não concordar que a puta da torca é dignificante para a puta ou para as duas. Já o esgalhar o pessegueiro é lindo, entra já para o meu merdaculário.

Sem-se-ver, obrigada pela intenção mas fodassss (eu gosto mais com as letras todas e de preferência antecedido e precedido de caralho) já é corrente no meu quotidiano verbal.

Querido JPN, ainda bem que hoje tiraste o dia para te delerciar (não é erro, não, é uma nova palavra que mistura ler e deliciar)
com o(ou será a?) oitoecoisa. É sempre um prazer ter-te por cá. Mas...às onzes no farol? com pronuncia do norte? Nááá.. sabe-me a carôço e a caneco, não dá pica...

Agora ando a embeber-me da cultura asneirenta espanhola, hostia, que cago en la virgen, de puta madre, mas confesso que me sinto constrangida, eu que não religiosa, to hard for me. Já o capitão haddock en catalão tem sido uma fonte de inspiração magnífica...

8 e coisa 9 e tal disse...

ó bossa nova, quando quiseres é só marcar o café, eu quando quero sou toda uma leiddd.

mm disse...

eu também tenho esse problema com a minha criança e o que ando a tentar (é difícil) é dizer asneiras em língua estrangeira que poucos conheçam (para que ela própria as possa repetir sem ser repreendida na escola). Escolhi o polaco, porque sei algumas boas palavras, que sabem bem gritar e insultar, mas acho que tenho de aprender mais.
Resumindo: a minha sugestão é palavrões em línguas estrangeiras desoconhecidas da maioria. Um fuck, merde ou putamadre são quase um mesmo que um puta foda-se caralho. Não servem.
Viva o "kurva match" (é como se lê, não como se escreve)!

sem-se-ver disse...

imaginei que sim... mas como não o tinha incluído, não resisti a provocar um bocadinho :)

ok, 2 bocadinhos (por causa daquilo do desajuste face à imagem estereotipada)

foi dançar a bossa nova disse...

Querida Oito, eu sei que és uma leidd! E a minha amiga também! Mas sobre isto têm prespectivas tão diferentes que tenho-me rido sozinha a imaginar a vossa troca de impressões sobre o porquê de a alma se libertar, ou não, com um bom palavrão e a importância de ele ser inclusivo, ou não!!!