29 novembro 2008

Já não sei como te quero

Cada vez te quero menos e mesmo assim continuo ao teu lado a gostar do calor do teu corpo desse lado de lá. Cada vez suporto menos os nossos desencontros de palavras e pensamentos, cada vez mais penso que já não sei o que me liga a ti além dos filhos, somos pais, é talvez isso que nos une. Cada vez que olho fundo os teus procuro desesperada os peixes verdes que lhes via em todos estes anos do nosso amor. Agora só vejo o vazio, os teus olhos já não são peixes verdes mas continuo a chamar-te meu amor, a ligar-te pelo menos uma vez ao dia para saber de ti, a perguntar como estás, como foi o teu dia, sem que isso me interesse. Mecanicamente coordenamo-nos nas coisas da casa, na vida de todos os dias, mas cada vez mais me sinto presa a estes dias, a tu que já não és tu e a mim que já não sei quem sou. Outro dia pensei que tinha chegado ao fim, disse-te não aguento mais, e senti-me livre, alegremente livre. Mas depois convenci-me ou senti, (já não sei) que ainda te amava e continuamos com esta engrenagem perra dos dias que já não sabemos como os queremos construir. Esta engrenagem perra que vai sendo a nossa vida. E contudo, não consigo dizer, sentir, que não te amo.

28 novembro 2008

Homem de todos os dias

Quero-te para muitas coisas e, sobretudo, quero-te todos os dias. Quero por o pé no fim da cama e sentir a tua perna do lado de lá. Quero acordar e sentir o calor que se liberta dos nossos corpos. Quero o teu sorriso rasgado quando chego a casa e depois quero ouvir-te dizer 'olá meu amor' e eu a perguntar sou mesmo o teu amor e tu a dizeres és mesmo o meu amor, vezes e vezes sem conta. Quero as nossas conversas, importantes, banais, triviais até ao silêncio partilhado e ainda um olhar que vale mil palavras. Quero os arrufos que acabam em gargalhadas e se dissolvem em um, dois, três, muitos beijos. Quero-te nos dias que passam sempre iguais e quero-te nos dias que passam sempre diferentes. Quero-te todos os dias neste absurdo que é a vida de todos os dias. E então sou feliz.

Homem objecto

Não penses que quero mais do que isto. Umas horas de ginástica para desentorpecer o corpo, uns suspiros e gemidos, uma vertigem qualquer que acaba nesta ponta da cama. És apenas isto que está aqui ao meu lado: um corpo de que me sirvo quando quero. Não quero saber os livros que lês, as viagens que fizeste, as angústias que te mordem as canelas à noite, o trabalho que te ocupa durante o dia. Quero-te apenas neste tempo em que te encontro aqui, corpo com voz que me enche estas horas, corpo com voz que não usa pasta de dentes, não acorda inchado de sono, não vê televisão. E sobretudo, um corpo que não tem cotovelos em cima da mesa.

Não nasci para isto

Deves achar que gosto disto. Deves achar que me divirto secretamente de cada vez que te digo que não suporto a tampa do champô aberta. Deves achar que encontro um gozo qualquer em lembrar-te sete vezes por dia que se lava a loiça depois de se usar. Deves achar que não me importo de te ver colado à televisão. Deves achar que gosto desta merda de vida que levamos, as minhas zangas e os teus sorrisos trocistas, as tuas ausências e os meus suspiros. Não foi isto que imaginei quando te disse que sim. Os cotovelos em cima da mesa, a forma como engoles a cerveja, a tampa da retrete molhada, os telefonemas de picar o ponto durante o dia, os beijos cada vez mais mecânicos. Tira a merda dos cotovelos de cima da mesa e põe-te a andar. Não nasci para isto.

Closer


dos meus elementos.
do que me faz feliz.

(Domingo passado, Guincho).

26 novembro 2008

Arqueologia de mim

Faz hoje vinte anos que comecei a namorar com o meu primeiro amor. É estranho chamar-lhe primeiro amor, está tudo tão distante que chego a acreditar que nunca aconteceu. Fecho os olhos e decido ser arqueóloga de mim mesma. O primeiro beijo numa escada e a certeza de que era mais do que um beijo (o dois na casa das dezenas), os telefonemas longuíssimos por coisa nenhuma (o zero na casa das unidades), a primeira vez que ouvi amo-te com a surpresa aterrorizada de quem não sabe o que fazer com isso (vinte anos?). Poderia jurar que nunca aconteceu, não fosse ter-me lembrado do dia do mês e do ano em que comecei a ser uma pessoa crescida.

25 novembro 2008

disclaimer

O post abaixo não é meu. O que é uma pena. Também quero.

24 novembro 2008

Porno Chanchada

Quero sexo. Intenso, duro, suado. Daquele que não nos deixa respirar, falar, sentir mais nada a não ser um prazer imenso, entre o céu e o inferno, entre a alegria e a tristeza, entre o clímax e a dor. Quero cheirar-te, lamber-te, morder a tua pele esticada, eriçada, molhada; quero puxar os teus cabelos ensopados, agarrar o teu peito musculado, apertar na minha mão o teu sexo duro e erecto, a pedir mais, mais de mim. De ti.
Quero foder-te por cima, por baixo, pela frente, por trás, quero fazer-te vir, uma, duas, três, mil vezes, e eu contigo, olhos nos olhos, em síncope ritmada, sincronizada, perfeitamente alinhada.
Quero que me chames tua, quero que digas que sou linda, quente, saborosa. Que te excito como nunca outra o fez. Como se fossemos o último par da Terra e amanhã acabasse o mundo.
Achas que é pedir muito?

22 novembro 2008

abraço-me às palavras que escrevi

"Dizem-me que as entrevistas valeram a pena. Eu, como de costume, duvido, talvez porque já esteja cansado de me ouvir. O que para outros ainda lhes poderá parecer novidade, tornou-se para mim, com o decorrer do tempo, em caldo requentado. Ou pior, amarga-me a boca a certeza de que umas quantas coisas sensatas que tenha dito durante a vida não terão, no fim de contas, nenhuma importância. E porque haveriam de tê-la? Que significado terá o zumbido das abelhas no interior da colmeia? Serve-lhes para se comunicarem umas com as outras? Ou é um simples efeito da natureza, a mera consequência de estar vivo, sem prévia consciência nem intenção, como uma macieira dá maçãs sem ter que preocupar-se se alguém virá ou não comê-las? E nós? Falamos pela mesma razão que transpiramos? Apenas porque sim? O suor evapora-se, lava-se, desaparece, mais tarde ou mais cedo chegará às nuvens. E as palavras? Aonde vão? Quantas permanecem? Por quanto tempo? E, finalmente, para quê? São perguntas ociosas, bem o sei, próprias de quem cumpre 86 anos. Ou talvez não tão ociosas assim se penso que meu avô Jerónimo, nas suas últimas horas, se foi despedir das árvores que havia plantado, abraçando-as e chorando porque sabia que não voltaria a vê-las. A lição é boa. Abraço-me pois às palavras que escrevi, desejo-lhes longa vida e recomeço a escrita no ponto em que tinha parado. Não há outra resposta" (retirado daqui)
José Saramago, cumpriu 86 anos. Muitos parabéns!

21 novembro 2008

Um caos perto de si

Fim-de-semana em grande em Lisboa. O exercício prociv IV promete transformar os próximos dias num inferno.
Para detalhes de sítios a evitar na cidade de Lisboa, vejam aqui.

20 novembro 2008

Um dia vou ter vontade

de lhe dizer tudo o que ainda não disse. Talvez lhe vá à cara também. Muitos anos de silêncio dá nisto, uma vontade que cresce devagarinho quase sem dar por ela. Um dia vou ter vontade de mostrar tudo o que sei e nunca lhe contei.
Enquanto a vontade não chega, entretenho-me a pensar como será esse dia.

às vezes eu também

O meu iPod caiu ao chão e está avariado tens de arranjar um sentido qualquer para a tua vida e de repente essas duas coisas que me são preciosas, o meu amigo acossado e o meu iPod avariado são uma única coisa que me acorda tens de arranjar um sentido qualquer para a tua vida sinto subir uma fúria tens de arranjar um sentido qualquer para a tua vida e apetece-me bater na pessoa que acossa o meu amigo, apetece-me espezinhar o iPod tens de arranjar um sentido qualquer para a tua vida tenho sono e a máquina do café não funciona foda-se tens de arranjar um sentido qualquer para a tua vida subi de novo as escadarias da Baixa-Chiado foda-se hoje almoço sozinha foda-se a luz da falta de gasolina já se acendeu no tablier foda-se a mensagem que tinha de mandar ontem a uma amiga não foi processada por saldo insuficiente foda-se ainda nem recebi o salário de setembro foda-se tenho um emprego que não gosto foda-se tenho de arranjar um sentido qualquer para a minha vida.
Tudo isto e o resto aqui.

É daquelas coisas que não percebo...

O fascínio desmesurado dos homens com a Cláudia Vieira. Não consigo ver muita graça (nenhuma aliás) naquele palminho de cara, embora reconheça que tem um corpinho laroca. Mas como ela há várias e não provocam delírios destes nem inspiram campanhas tão idiotas como a da Triumph (vão lá ver, tem umas modelos bem mais giras na minha opinião), como é tão bem notado aqui.

18 novembro 2008

Sonhos...



Maravilhoso, este "Johnny Guitar".Há dias que dou por mim a trautear a melodia sem que perceba bem porquê.

Algumas postas depois, finalmente, Juraci - a vidente contente - O desfecho.

Se não tivesse a certeza de estar em Istambul, podia jurar que estava na feira do relógio, tal era a quantidade de gente que regateava aos gritos, a oportunidade de arranjar um taxi que os levasse até ao local do seminário. Kasparov, o buldogue estava ao seu lado com o ar mais enjoado do mundo depois daquelas horas aos trambolhões no compartimento de carga do avião. A senhora do guichet Nº 5, de lábios carnudos, vermelhos e peruca à Marylin Monroe perguntou-lhe se não tinha nada a declarar. Juraci podia ouvir as conversas nos outros guichets do lado. Num deles, alguém declarava que tinha um marido para a troca, outro perguntava se seria viável montar um esquema de fuga ao fisco e quantos anos conseguiria viver no luxo absoluto sem ser catado. Estas pessoas estavam confusas. Os funcionários do aeroporto permaneciam calmos e direccionavam as pessoas para o seminário, onde para além do curso, também estavam instaladas tendas de atendimento ao público. Juraci limitou-se a apresentar o documento que conprovava o registo no seminário e enfiou uma nota de 50 euros na manga da blusa da Marylin para ela lhe chamar um taxi à parte. Juraci queria ir para o Norte de Istambul em direcçao às margens do mar Negro onde o professor Uganbanga a esperava. Ao seu lado, sentado no banco do taxi, kasparov acabava de vomitar mais uma peça de xadrês. Juraci tinha encontrado o cão assim na rua abandonado quando ele era ainda pequenito. Já sabia que alguém tinha lançado um feitiço qualquer ao cão e andava há anos a tentar quebrá-lo mas o máximo que tinha conseguido era que ele passasse a vomitar peças de damas e mal por mal, o xadrês sempre tinha mais prestígio. Desta vez, Kasparov vomitara uma rainha, seguido de um grande arroto de satisfação e Juraci não pode deixar de sorrir encararando o fenómeno como um bom presságio.
Ali estava o professor à sua espera, de mão levantada a segurar um enorme cartão que dizia, "Welcome, Juraci - A vidente contente!". Juraci correu a abraçá-lo. Ele ria-se atrapalhado ao mesmo tempo que endireitava os óculos e corava. Juraci sempre tinha achado que ele podia ser um sósia de Woody Allen, não fosse ter quase dois metros de altura e ter a mania que era imortal. Depois de um jantar luxuriante em que mais uma vez, a química que Juraci sabia ter com Uganbanga se tinha revelado, a conversa estava posta em dia e Uganbanga apresentou-lhe as novas bolas de cristal. O modelo "ver sem limites 6.5", não era nada menos do que tinha visto no folheto promocional. Juraci até sentiu que as lágrimas lhe vinham aos olhos. Uganbanga deixou-a ficar uns momentos sozinha para que ela pudesse fazer uma primeira previsão e levou Kasparov para outra sala onde pretendia lançar um contra feitiço ao pobre cão.
Juraci não sabia onde se havia de enfiar depois de ver o seu futuro estampado na nova bola. Ela e o professor casados e felizes, a viverem ali em Istambul, ele a traficar e ela a prever as maleitas do mundo. Era um amor antigo este deles os dois, que remontava há dez anos atrás quando Juraci lhe tinha comprado a sua primeira bola mas nunca concretizado porque Juraci não tinha querido deixar a pátria. No fim, acabara por casar com um activista que a tinha deixado em prol da luta contra o recente movimento do "bird porn" e que agora estava preso por ter sido apanhado em flagrande delito a mandar uma queca de binóculos, no meio do mato na zona de Mafra. Juraci desviou os olhos da bola. De facto, não havia mais nada que a prendesse ao seu país natal Quando Uganbanga surgiu a espreitar pela porta para saber se já podia entrar, Juraci lançou-lhe um olhar terno e Uganbanga soube logo ali que ela tinha decidido ficar. Kasparov correu para ela de contente. O cão não estava totalmente curado mas agora falava russo.

17 novembro 2008

Anestesia

Ontem contava as horas para te poder ligar. Para ouvir a tua voz, para te contar como tinha corrido os meus dias que passavam, apagados e discretos, durante as horas insuportáveis e intermináveis que teimavam em arrastar-se até que tu acordasses e eu te pudesse ligar.

Estavas do outro lado do mundo e do tempo, numa outra instância da vida, num outro estado de alma. Procuravas alguém que te fizesse companhia para os dias cinzentos que se aproximavam, enquanto eu buscava paixão intensa, pronta-a-usar, como uma pastilha elástica que se cospe após perder o sabor.
Fomos ambos enganados. Tu perdeste-te em mim e eu perdi-me por causa de ti.

Amámo-nos. Muito. Tanto que assustava. Tanto que aterrorizava. Tanto que eu fugi. E tu deixaste-me ir.
E o ontem foi ante-ontem, o mês passado, o ano passado, há oito anos atrás.

E o tempo nunca mais parou.

16 novembro 2008

Dia da Memória


Somos todos actores e um destes dias podemos passar a protagonistas.
Para M..

Quem é o Gualter? E o Walter? (ou a impossibilidade de ver um sem pensar no outro)






Carta aberta

Excelsa Maria de Lurdes,
devo em primeiro lugar confessar-te que a minha luta diária contra o preconceito esbarra sempre em pessoas de nariz afiado e lábios demasiado finos, que me fazem de imediato pensar em bichos alados de grande porte. É isso e homens pequenitos... Sei que são preconceitos estúpido, pelos quais devia ser penalizada na avaliação mas todos os dias me penitencio e tento ser melhor.
O que me leva a escrever-te, na esperança que a internet faça parte das tuas ocupações rotineiras, é a vontade de te aligeirar a terefa pondo-te ao corrente de uma outra forma de avaliação da carreira docente, esta praticada no país do Asterix e do Gaston Lagaffe. Faço-o porque entendo que o Sarco, pessoa com nariz bastante mais proeminente que tu, não queira abrir o jogo para que não copies um modelo tão mais simples. Não fosse a crise económica e a Carla Bruni que insiste em cantar pelo Eliseu fora, era até possível que ele ficasse irado e tentasse descobrir a identidade do bufo.
Ora cá vai. Por cada região escolar, dispõem os gauleses de um inspector, pessoa neutra e devidamente formada que, imagina, não está sentada numa poltrona ergonomicamente adaptada no Ministério da Educação, não. O inspector é alguém que, em determinada fase da vida, foi também professor formado pela "Education National" e que fez formações específicas tendo, por sua vez, sido alvo de uma avaliação para poder ascender à categoria de inspector. A cada quatro anos um docente sabe que deverá ser alvo de uma inspecção da qual resulta uma nota assente em critérios diversos e devidamente operacionalizados, que faz com que o inspeccionado progrida ou não na carreira. Mas, para além da nota, o inspector dá um feed-back in loco ao inspeccionado. Para além disso, compete ao inspector animar e propor estágios pertinentes que mobilizam o corpo docente em período lectivo, com o propósito de melhorar as práticas pedagógicas. Manias dos países mais civilizados estas de apostar na formação contínua...
Vantagens de tudo isto? Para além da neutralidade evidente do inspector (até porque para os francius a hierarquia é inquestionável - cada macaco no seu galho, mesmo!), este dá a ideia de ser alguém que trabalha; poupa-se na burocracia dos milhentos papéis, libertando os profs para o que realmente têm de fazer; colegas docentes podem voltar a ir beber uns copos à sexta-feira à noite sem medo que "o filho da mãe" que tem ao lado lhe passe a perna a curto prazo; os profs stressam à mesma e o inspector não se safa de alguns impropérios em surdina pelos corredores, mantendo-se assim o "status quo".
Sabes, é que às vezes, porque um tem um nariz mais assim e uns lábios mais assado, e porque neste mundo não há lugar para todos em cima do mesmo galho há uns que se vêem injustamente ostracizados, vítimas de estereótipos e de preconceitos demasiado estúpidos.
Estarei disponível para mais esclarecimentos, e até para a teu lado estudar novos modelos, na caixa de comentários associada a esta mensagem. No entanto, tens de ser paciente com a irregularidade da minha consulta. É que mesmo sem a avaliação, o tempo não dá para tudo.
Cumprimentos, tua
Oito e coisa, nove e tal.

14 novembro 2008

Às vezes


dou por mim a pensar se as pessoas que conheço se divertirão na cama, será que a minha chefe ou esta ou aquela colega gosta da sua sexualidade? O senhor da mercearia onde vou todos os dias, gostará de sexo? Pergunto-me... Conheço pessoas que gostam de sexo, pessoas que não gostam de sexo, e pessoas que vão gostando mais ou menos consoante os seus parceiros/as, a vida, os dias, a curva das costas que se acentua ou a pressão do ranho que aperta o nariz, a cabeça, a alma.

E se a senhora dos jornais olhasse para mim com a mesma pergunta com que eu olho para ela, talvez adivinhasse que não me anda a apetecer sexo, que não me apetece namorar nem com ele nem com ninguém mais, pelo menos de momento. Não sei que me passa, gosto de sexo, gosto de namorar, sempre gostei do sexo com companheiros de relações longas, mas agora, há essa parte de mim que se quer fechar. E esta grande falta de tusa que não me ajuda em nada à musa.

13 novembro 2008

Casa das cores

O MSV prepara-se para inaugurar a Casa das Cores, um centro de acolhimento temporário para crianças em perigo, vítimas de maus-tratos e/ou negligência, no Parque da Belavista.

O problema é a angariação dos meios necessários para a pôr a Casa das Cores em funcionamento o mais rapidamente possível porque:
- A previsão de custos é de 305.370,50 € / Ano;
- A Segurança Social só financia cerca de 50% destes custos;
- Estamos em crise e as empresas estão a cortar nos apoios sociais;
- O MSV já está a fazer um grande esforço para manter os outros projectos;
- Não há dinheiro pôr a Casa das Cores a funcionar.

Para tentar abrir portas já em Janeiro de 2009 foi lançada a campanha dos Amigos da Casa das Cores. Peço-vos que se tornem um Amigo e que se lancem na angariação de 2.000 Amigos.

O Amigo da Casa das Cores é todo aquele que contribui mensalmente para o funcionamento da casa e acompanha regularmente o seu trabalho. O donativo é feito através do sistema de débitos directos, com quantias que podem ser de 5€, 10€, 15€…Enfim aquilo que cada um puder e quiser dar.

Basta clicar em Ser Amigo e seguir os passos. Podem fazer tudo on line ou em qualquer ATM.

A informação do projecto está toda no site. Sejam amigos!

a derrota e a glória

"E penso - eu não sou a filha do meu pai. E repenso: também não sou a filha da minha mãe, muito menos da minha mãe, essa mulher inquebrável que nunca chora a não ser pelas suas árvores e pelos jardins votados ao abandono.
Eu sou qualquer outra coisa de intermédio, mas não sou mistura de nenhum dos dois. Sou a derrota e a glória. Sou bonita e sou feia. Sou amiga e venenosa. Sou mercenária e bondosa. Sou a mão que escreve e a mão que pinta. Sou a voz que canta e a voz que defende causas invencíveis."
Quando a descobri, dei por mim a ler tudo o que deixara escrito ali. Às vezes isto dos blogues é muito mais do que o nada disfarçado de qualquer coisa.

11 novembro 2008

Tony Robbins

Quero ser oradora motivacional. Dizer às pessoas que são lindas e maravilhosas, que a vida não é uma merda e que, sim, há pessoas que gostam delas como são, só assim e sem mais nada. Dar-lhes uma bofetada na cara aparvalhada pela dormência instalada dos dias que se desenrolam lentamente, uns atrás dos outros, na cara triste de expressão sombria tolhida pela falta de confianca e de auto-estima, na cara aflita, da expressão inundada por uma ansiedade cruel e mortal.
Abaná-las violentamente para exorcizar a modorra que lhes permeou a capacidade de decisão e lhes cerceou a vontade e lhes consumiu o desejo para querer, ser, fazer e acontecer, hoje, aqui e agora.
E torturá-las com recordações felizes, com lembranças bonitas e memórias deliciosas, que foram profundamente enterradas num subconsciente qualquer, para nunca mais voltarem a ser vistas ou sentidas.
E forçá-las a reagir. A sentir. A amar.
Será que funciona ao espelho?

Amor com todos

O meu amor por ti tem muitas coisas dentro. Tem o amor mentolado da adolescência e os passeios ao fim da tarde em ruas de que não sei o nome. Tem os vidros embaciados de um carro em frente ao mar. Tem horas de espera elásticas. Tem a ilha de sangue num lençol branco e o espanto pela descoberta de mim. Tem o primeiro desgosto que se repete em todos os que se seguiram. Tem as histórias de um passado que não sei se aconteceu. Tem os amores que vivi antes de ti. Tem os medos que transbordam líquidos até aqui e me molham os pés. Tem as mulheres que foram tuas e agora me povoam minúsculas num desconcerto de muitas vozes. Tem estradas e casas e cheiros, um ribeiro ali ao fundo, uma janela a dar para os telhados, uma noite de fogo de artifício, tem sono e fome e sede, uma capela perdida num monte, tem o silêncio e o som, tem árvores e plantas, a lua a nascer num céu ainda claro e a dor de ser eu com tanta coisa dentro.

Das Kapital

Acabei de receber um telefonema do meu banco. Queriam saber porque razão inusitada tenho mais uns trocos na conta. "É porque, como sabe, temos de investigar a proveniência tendo em vista a prevenção do branqueamento de capital". Não, não sei e incomoda-me profundamente que saltem janelas de pop up num qualquer pc alertando para o facto de que o meu saldo saiu - ainda que muito temporariamente, mas isso não interessa nada! - de uma pobreza envergonhada.
Não gosto de intromissões na minha vida. Não gosto de ser policiada. Não gosto de big brothers. Não gosto que um banco vá à falência e o sistema financeiro não tenha dado por nada, não tenha sabido de nada. Não gosto da impunidade. Não gosto que, tendo eu mais um zero miserável no lado direito do saldo, o mesmo sistema financeiro diga, cheio de verve,"ahhhhh, vamos ter de investigar, isto é muitoooooooo estranho! só pode ser lavagem de dinheiro!".
Vou passar ao dinheiro vivo e contado em mão e anotar tudo num qualquer caderno de mercearia. Vou passar tudo para o meu colchão. Vou entrar no submundo e poupar nas despesas de manutenção de conta.
Que imbecilidade!

10 novembro 2008

dia de festa



Sermos muitas dá nisto. Quase todos os meses alguma de nós faz anos e é mais um dia de festa. Já foi a mais nova das oito e coisa nove e tal. Hoje, perante o riso geral, fica um bocadinho mais perto das outras. Parabéns miúda.

Manual de instruções para parecer credível

Se deseja parecer credível siga atentamente estes passos. Atenção! Para que seja eficaz deve usá-los correctamente.
Primeiramente, semicerre os olhos e faça uma pausa de cerca de trinta segundos antes de começar a falar sobre qualquer tópico. É importante transmitir a ideia de que sabe bastante do que está a falar. De seguida, recorra ao suporte da imaginação. Deslize o suporte para cima até o ouvir encaixar. Dirija a imaginação para si mesmo e enumere dois ou três exemplos que justifiquem o seu raciocínio. Nunca use exemplos reais. Quanto mais inventar, melhores serão os seus resultados.
Certifique-se que a sua audiência não sabe absolutamente nada sobre o que diz enquanto cruza a perna e de soslaio olha para o tecto. Gesticule bastante e dê ênfase a todas as sílabas finais de cada palavra.
Para favorecer o arejamento deixe um espaço livre de cerca de cinco minutos. No final, será extremamente credível!

09 novembro 2008

Amor sem ti

Danço aqui para que me vejas. Não tenho medo das minhas pernas demasiado nuas, dos meus braços exagerados, do meu riso sozinho no meio da sala. Sou a mulher sem medo que dança para que a vejas, sou a mulher dos olhos pintados (eu pinto os olhos), das noites cheias de gente e sítios (eu tenho uma vida), da música que oiço e dos livros que leio (roth eno hélder mehldau). Sou a mulher de saltos altos que muda pneus cozinha escolhe vinhos faz broches tem opiniões viaja lê. Sou a mulher que te sorri do meio da sala. Danço aqui porque sou tua embora ainda não o saibas.

Jardinando

imagem aqui
Um domingo com um sol fantástico, uma noite bem dormida e um jardim para tratar. Resolvi dedicar o dia à jardinagem. Peguei, então, na roupa de trabalho (whatever that means), em luvas, sacho, ancinho, mangueira, terra, água, vasos e plantas e dei início à redecoração do meu quintal.

Tive surpresas e desilusões: os jarros começaram a proliferar pelo quintal, mas o arbusto de alfazema secou quase 2/3, pelo que tive que o cortar. Mas os lírios estão lindos e recomendam-se. Têm a cumplicidade de uma romãzeira que lhes serve de abrigo. As estrelícias estão sossegadinhas num dos cantos. Uma pata-de-leão (ou costela-de-adão) lá vai recuperando depois da chuva de granizo do mês passado, que lhe abriu buracos feios nas suas largas folhas. O hibisco de flor encarnada parece-me débil, mas umas quantas flores reavivam-me a esperança. O arbusto-quase-árvore de lúcia-lima encostada ao hibisco começa a perder as folhas. Para meu gande espanto, vejo a roseira entrelaçar-se por todo o lado, ramos a crescer na mais pura das anarquias. E a pereira do lado direito? Hummm... Vai precisar de um enxerto, não dá fruto há dois anos ou mais.

Entretanto, num canteiro grande plantei jarros, petúnias, hortênsias, agapantos. Semeei salsa e hortelã. Mudei a petúnia de lugar.

A meio dos 'trabalhos', apareceu a minha vizinha da frente, uma senhora amável e que passou o resto da tarde comigo. Ofereceu-me aloe vera que também plantei. Ensinou-me que as plantas não se podem ofender (cortar demasiado) e que a cameleira que tenho de frente para a rua dá uma flor gentil (não muito grande).

Entre a poesia e sabedoria das palavras desta senhora que fez a 4ª classe aos 27 anos, fartei-me de aprender e passei uma tarde com as mãos na terra, na água e ao sol: uma ligação directa aos elementos que são parte daquilo de que, também, faço parte.

A beautiful day!

Pensamento pré-menstrual

Devia haver uma autoridade celestial qualquer que impedisse algumas pessoas de procriarem. É pedir demais?

06 novembro 2008

Pertinente

[mail recebido hoje e pespegado aqui]

Dear Sir,
In view of current developments in the banking market, if one of my cheques is returned marked 'insufficient funds', does that refer to you or to me?

Yours faithfully

Joe, the plumber.

Precisa-se

olha apartir d domimgo exte e o meu numero novo
pexo vx n deiem a ninguém mt mxm ao joao
pk ele tem kaxe o num todox d vx bjx julieta
Recebi esta mensagem escrita de um número que não conheço.
Alguma alma caridosa pode traduzir este fascinante texto da novíssima prosa portuguesa?

05 novembro 2008

Made in USA

Acabei de ouvir os dois discursos: o da vitória e o da derrota.

Achando melhor o segundo, deitei uma lágrima em qualquer um dos dois. Pelo amor e orgulho a/de um país, pela dignidade, pela vontade de servir. Pelo moderno "Deus - Pátria - Família", infelizmente tão relativizados e denegridos neste lado do Atlântico

I hope they can!

Yes we can


04 novembro 2008

Muita terra. Minha terra.

Gostava de conseguir explicar às minhas queridas múltiplas, a do pouca terra e a dos requintados cálculos matemáticos, que a terra é, afinal, muita:

O mar, regedor do batimento cardíaco. O chão, quente de vulcão, com o temperamento excessivo que só às divas é permitido. O céu cinza chumbo ou azul profundo, nunca igual. O cheiro a verde, a azul, a amarelo, a rosa, a lilás, a castanho, ao arco íris.

Não é uma questão de escala, de contemplação bucólica ou de pitoresco. É que não há diferença entre terra, mar e céu. É tudo uma e a mesma coisa e nós somos parte dela. Uns sem os outros não existem. O mundo somos nós e a linha do horizonte, redonda, perfeita. Somos infinitos, livres da tirania dos limites! Cortar esta unidade, viver sem ela, é cortar a própria alma.

Obamming



(re)posta-se o de Fevereiro passado.
É hoje.

03 novembro 2008

Pouca terra

Não viveria aqui nem que me pagassem, penso trinta vezes por dia. Ao segundo dia de trabalho nos açores descubro que sou continental. Isto das ilhas é muito bonito, mas só aguento tanta beleza num toca e foge com dias contados. Preciso de terra para me sentir viva, gosto que o mar esteja só de um lado, a fazer o seu trabalho de estar ali. Aqui, para onde quer que olhe, falta terra e sobra mar.

01 novembro 2008

Juraci - A vidente contente

Crónicas de uma vidente em crise temporária.

Lisboa - Istambul, com escala num país qualquer de nome impronunciável. A reboque, duas malas carregadas de profecias não cumpridas que somavam dez anos de vida e o seu buldogue Kasparov. O mestre em Istambul tinha sido muito claro ao telefone. Ou arrotava a maçaroca para fazer o seminário de "novas técnicas de vidência online" ou arriscava-se a perder de vez o grau de grão-mestre das artes e magias da vidência. Os tempos eram outros. Mas o que lhe fazia afliçao nem era isso porque à custa de ter previsto a catástrofe do casamento da D.Firmina, o ataque repentino de gota do Sr.Humberto ou o desaparecimento sórdido do caniche da D. Graça que morava rés-vés com o bairro chinês, entre outros tantos casos, tinha conseguido amealhar três caixas das grandes de bolachas sortidas em moedas de dois euros. O que lhe fazia aflição era o seu próprio divórcio e a morte prematura do seu papagaio que não tinha conseguido profetizar a tempo e horas.
Nunca pondo em causa as suas capacidades, Juraci - a vidente contente - podia jurar que o mal estava na sua bola de cristal pessoal, um modelo que o famoso Professor Uganbanga tinha jurado durar uma vida e outras tantas mas que afinal, ao final de um ano já lhe desfocava metade da verdade e que ao fim de três, deixara de lhe mostrar o futuro para lhe começar a mostrar somente o presente. E o presente de Juraci - a vidente contente - era sempre a mesma coisa. Fazer sessões atrás de sessões. Era como estar a ver repetições do Dallas no canal Rtp Memória. Tornava-se chato. Por isso, Juraci - a vidente contente - pretendia fazer o seminário e aproveitar para trazer de lá, o último modelo em bolas de cristal. O modelo "ver sem limites 6.5" que lhe garantia não só o acesso ilimitado ao futuro como lhe permitia já o acesso a alguns universos paralelos, para aqueles clientes mais exigentes que gostassem de saber, por exemplo, como seria a sua vida casados com a Pamela Anderson do Baywatch e coisas assim, e também a actualização automática dos upgrades. Era um sonho.

Não perca o próximo episódio das crónicas de Juraci - a vidente contente - em crise temporária e a sua chegada a Istambual para reencontrar o seu velho amigo, Professor Uganbanga, famoso e virtuoso vidente-mor e traficante de bolas de cristal.