16 novembro 2008

Carta aberta

Excelsa Maria de Lurdes,
devo em primeiro lugar confessar-te que a minha luta diária contra o preconceito esbarra sempre em pessoas de nariz afiado e lábios demasiado finos, que me fazem de imediato pensar em bichos alados de grande porte. É isso e homens pequenitos... Sei que são preconceitos estúpido, pelos quais devia ser penalizada na avaliação mas todos os dias me penitencio e tento ser melhor.
O que me leva a escrever-te, na esperança que a internet faça parte das tuas ocupações rotineiras, é a vontade de te aligeirar a terefa pondo-te ao corrente de uma outra forma de avaliação da carreira docente, esta praticada no país do Asterix e do Gaston Lagaffe. Faço-o porque entendo que o Sarco, pessoa com nariz bastante mais proeminente que tu, não queira abrir o jogo para que não copies um modelo tão mais simples. Não fosse a crise económica e a Carla Bruni que insiste em cantar pelo Eliseu fora, era até possível que ele ficasse irado e tentasse descobrir a identidade do bufo.
Ora cá vai. Por cada região escolar, dispõem os gauleses de um inspector, pessoa neutra e devidamente formada que, imagina, não está sentada numa poltrona ergonomicamente adaptada no Ministério da Educação, não. O inspector é alguém que, em determinada fase da vida, foi também professor formado pela "Education National" e que fez formações específicas tendo, por sua vez, sido alvo de uma avaliação para poder ascender à categoria de inspector. A cada quatro anos um docente sabe que deverá ser alvo de uma inspecção da qual resulta uma nota assente em critérios diversos e devidamente operacionalizados, que faz com que o inspeccionado progrida ou não na carreira. Mas, para além da nota, o inspector dá um feed-back in loco ao inspeccionado. Para além disso, compete ao inspector animar e propor estágios pertinentes que mobilizam o corpo docente em período lectivo, com o propósito de melhorar as práticas pedagógicas. Manias dos países mais civilizados estas de apostar na formação contínua...
Vantagens de tudo isto? Para além da neutralidade evidente do inspector (até porque para os francius a hierarquia é inquestionável - cada macaco no seu galho, mesmo!), este dá a ideia de ser alguém que trabalha; poupa-se na burocracia dos milhentos papéis, libertando os profs para o que realmente têm de fazer; colegas docentes podem voltar a ir beber uns copos à sexta-feira à noite sem medo que "o filho da mãe" que tem ao lado lhe passe a perna a curto prazo; os profs stressam à mesma e o inspector não se safa de alguns impropérios em surdina pelos corredores, mantendo-se assim o "status quo".
Sabes, é que às vezes, porque um tem um nariz mais assim e uns lábios mais assado, e porque neste mundo não há lugar para todos em cima do mesmo galho há uns que se vêem injustamente ostracizados, vítimas de estereótipos e de preconceitos demasiado estúpidos.
Estarei disponível para mais esclarecimentos, e até para a teu lado estudar novos modelos, na caixa de comentários associada a esta mensagem. No entanto, tens de ser paciente com a irregularidade da minha consulta. É que mesmo sem a avaliação, o tempo não dá para tudo.
Cumprimentos, tua
Oito e coisa, nove e tal.

2 comentários:

Alvaro_C disse...

Grrrande post.
Temo que a figura do inspector acabasse por ser ainda menos querida do que o processo de avaliação proposto. É natural. Afinal a avaliação não é uma coisa nada natural. Assim mais ou menos como ir ao dentista.. ninguém gosta, mas tem de ser...
Temos particulares problemas com hierarquias, avaliações, listas, seriações e demais coisas assim... O melhor mesmo era esta coisa estar decretada em Bruxelas, ou noutro sítio qualquer que não aqui... Para que se pudesse dizer: foram eles, foram ou outros, sacanas, eu não queria distinguir ninguém, deus me livre, são eles que exigem... Connosco essas coisas funcionam sempre. Veja-se a alegria com que entrámos no importado reino de Bolonha...

foi dançar a bossa nova disse...

Bolonha é uma bela localidade!