Cada vez te quero menos e mesmo assim continuo ao teu lado a gostar do calor do teu corpo desse lado de lá. Cada vez suporto menos os nossos desencontros de palavras e pensamentos, cada vez mais penso que já não sei o que me liga a ti além dos filhos, somos pais, é talvez isso que nos une. Cada vez que olho fundo os teus procuro desesperada os peixes verdes que lhes via em todos estes anos do nosso amor. Agora só vejo o vazio, os teus olhos já não são peixes verdes mas continuo a chamar-te meu amor, a ligar-te pelo menos uma vez ao dia para saber de ti, a perguntar como estás, como foi o teu dia, sem que isso me interesse. Mecanicamente coordenamo-nos nas coisas da casa, na vida de todos os dias, mas cada vez mais me sinto presa a estes dias, a tu que já não és tu e a mim que já não sei quem sou. Outro dia pensei que tinha chegado ao fim, disse-te não aguento mais, e senti-me livre, alegremente livre. Mas depois convenci-me ou senti, (já não sei) que ainda te amava e continuamos com esta engrenagem perra dos dias que já não sabemos como os queremos construir. Esta engrenagem perra que vai sendo a nossa vida. E contudo, não consigo dizer, sentir, que não te amo.
5 comentários:
As coisas e os outros podem mudar menos do que nós. Pode ser que os peixes verdes ainda lá estejam e que os olhos que encontravam peixes já só sejam capazes de ver... pássaros, por exemplo.
não deixa de ser curioso que o post abaixo "o de todos os dias" não merece comentários.
o que vende mesmo é o correio da manhã, o jornal do crime e a revista maria, seja nas suas versões originais seja em forma de blogs.
ou então, e imagino muito muito mesmo que assim seja, o simples facto de haver uma descrição como a de todos os dias, faz surgir uma aura de intocável, de ser algo tão raro que não se deve conspurcar, apenas ver, e de viés.
prefiro imaginar que é isso, a estranheza de algo raro por contraponto ao psico-drama fácil, banal e usual dos mid-late thirties.. isso e mais um par de sapatos
não deixa de ser curioso que o todos os dias não tenha ido deixar este comentário no post de baixo.
o post de todos os dias reflecte uma forma de sentir, este outra, o não nasci para isto otra e o homem objecto ainda outra. É possivel sentir cada um dos posts em diferentes momentos da vida ou das relações amorosas. Ás vezes amo com o amor de todos os dias, outros momentos não sei como te quero, e há momentos em que não é isto que quero, por favor vai-te embora, e vou mas é comprar um par de sapatos à loja do chinês.
Querida oito,
Mais triste que a tristeza profunda é o vou-tentar-convencer-me-que-ainda-sinto-alguma-coisa-so-para-dizer-que-sim-porque-lá-no-fundo-não-sinto-nada.
Eu prefiro a tristeza imensa, as lágrimas copiosas, os soluços intensos a uma anestesia total. É que, na primeira, sabemos que não se pode piorar, que tudo o que vier a acontecer será sempre um bocadinho melhor que o que já aconteceu ontem e isso constitui uma fonte de esperança, uma pequena luz ao fundo do túnel.
Da anestesia só se pode esperar um acordar violento, numa qualquer sala de recobro, fria, branca e impessoal. E muita dor a seguir.
por estes dias... estou sempre a ser apanhado com a Maria na mão.
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