Se não tivesse a certeza de estar em Istambul, podia jurar que estava na feira do relógio, tal era a quantidade de gente que regateava aos gritos, a oportunidade de arranjar um taxi que os levasse até ao local do seminário. Kasparov, o buldogue estava ao seu lado com o ar mais enjoado do mundo depois daquelas horas aos trambolhões no compartimento de carga do avião. A senhora do guichet Nº 5, de lábios carnudos, vermelhos e peruca à Marylin Monroe perguntou-lhe se não tinha nada a declarar. Juraci podia ouvir as conversas nos outros guichets do lado. Num deles, alguém declarava que tinha um marido para a troca, outro perguntava se seria viável montar um esquema de fuga ao fisco e quantos anos conseguiria viver no luxo absoluto sem ser catado. Estas pessoas estavam confusas. Os funcionários do aeroporto permaneciam calmos e direccionavam as pessoas para o seminário, onde para além do curso, também estavam instaladas tendas de atendimento ao público. Juraci limitou-se a apresentar o documento que conprovava o registo no seminário e enfiou uma nota de 50 euros na manga da blusa da Marylin para ela lhe chamar um taxi à parte. Juraci queria ir para o Norte de Istambul em direcçao às margens do mar Negro onde o professor Uganbanga a esperava. Ao seu lado, sentado no banco do taxi, kasparov acabava de vomitar mais uma peça de xadrês. Juraci tinha encontrado o cão assim na rua abandonado quando ele era ainda pequenito. Já sabia que alguém tinha lançado um feitiço qualquer ao cão e andava há anos a tentar quebrá-lo mas o máximo que tinha conseguido era que ele passasse a vomitar peças de damas e mal por mal, o xadrês sempre tinha mais prestígio. Desta vez, Kasparov vomitara uma rainha, seguido de um grande arroto de satisfação e Juraci não pode deixar de sorrir encararando o fenómeno como um bom presságio.
Ali estava o professor à sua espera, de mão levantada a segurar um enorme cartão que dizia, "Welcome, Juraci - A vidente contente!". Juraci correu a abraçá-lo. Ele ria-se atrapalhado ao mesmo tempo que endireitava os óculos e corava. Juraci sempre tinha achado que ele podia ser um sósia de Woody Allen, não fosse ter quase dois metros de altura e ter a mania que era imortal. Depois de um jantar luxuriante em que mais uma vez, a química que Juraci sabia ter com Uganbanga se tinha revelado, a conversa estava posta em dia e Uganbanga apresentou-lhe as novas bolas de cristal. O modelo "ver sem limites 6.5", não era nada menos do que tinha visto no folheto promocional. Juraci até sentiu que as lágrimas lhe vinham aos olhos. Uganbanga deixou-a ficar uns momentos sozinha para que ela pudesse fazer uma primeira previsão e levou Kasparov para outra sala onde pretendia lançar um contra feitiço ao pobre cão.
Juraci não sabia onde se havia de enfiar depois de ver o seu futuro estampado na nova bola. Ela e o professor casados e felizes, a viverem ali em Istambul, ele a traficar e ela a prever as maleitas do mundo. Era um amor antigo este deles os dois, que remontava há dez anos atrás quando Juraci lhe tinha comprado a sua primeira bola mas nunca concretizado porque Juraci não tinha querido deixar a pátria. No fim, acabara por casar com um activista que a tinha deixado em prol da luta contra o recente movimento do "bird porn" e que agora estava preso por ter sido apanhado em flagrande delito a mandar uma queca de binóculos, no meio do mato na zona de Mafra. Juraci desviou os olhos da bola. De facto, não havia mais nada que a prendesse ao seu país natal Quando Uganbanga surgiu a espreitar pela porta para saber se já podia entrar, Juraci lançou-lhe um olhar terno e Uganbanga soube logo ali que ela tinha decidido ficar. Kasparov correu para ela de contente. O cão não estava totalmente curado mas agora falava russo.
Ali estava o professor à sua espera, de mão levantada a segurar um enorme cartão que dizia, "Welcome, Juraci - A vidente contente!". Juraci correu a abraçá-lo. Ele ria-se atrapalhado ao mesmo tempo que endireitava os óculos e corava. Juraci sempre tinha achado que ele podia ser um sósia de Woody Allen, não fosse ter quase dois metros de altura e ter a mania que era imortal. Depois de um jantar luxuriante em que mais uma vez, a química que Juraci sabia ter com Uganbanga se tinha revelado, a conversa estava posta em dia e Uganbanga apresentou-lhe as novas bolas de cristal. O modelo "ver sem limites 6.5", não era nada menos do que tinha visto no folheto promocional. Juraci até sentiu que as lágrimas lhe vinham aos olhos. Uganbanga deixou-a ficar uns momentos sozinha para que ela pudesse fazer uma primeira previsão e levou Kasparov para outra sala onde pretendia lançar um contra feitiço ao pobre cão.
Juraci não sabia onde se havia de enfiar depois de ver o seu futuro estampado na nova bola. Ela e o professor casados e felizes, a viverem ali em Istambul, ele a traficar e ela a prever as maleitas do mundo. Era um amor antigo este deles os dois, que remontava há dez anos atrás quando Juraci lhe tinha comprado a sua primeira bola mas nunca concretizado porque Juraci não tinha querido deixar a pátria. No fim, acabara por casar com um activista que a tinha deixado em prol da luta contra o recente movimento do "bird porn" e que agora estava preso por ter sido apanhado em flagrande delito a mandar uma queca de binóculos, no meio do mato na zona de Mafra. Juraci desviou os olhos da bola. De facto, não havia mais nada que a prendesse ao seu país natal Quando Uganbanga surgiu a espreitar pela porta para saber se já podia entrar, Juraci lançou-lhe um olhar terno e Uganbanga soube logo ali que ela tinha decidido ficar. Kasparov correu para ela de contente. O cão não estava totalmente curado mas agora falava russo.
2 comentários:
Juraci e Uganbanga começaram a dedicar-se aos clássicos russos, com o seu kasparov que arrotava durante horas tolstoi, dostoievski e tchekov. Afinal a "ver sem limites 6.5" tinha mais funções do que ver o futuro, com garantia vitalícia, eliminando as dúvidas existenciais e o mau hálito matinal. A "ver sem limites 6.5" incluía também um tradutor russo/português de altíssima qualidade. O kasparov recitava, a bola de cristal traduzia.
A senhora do guichet nº 5 montou um negócio de psicoterapias breves no aeroporto de istambul.
adorei estas historias da juracy-a vidente contente
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