11 novembro 2008

Amor com todos

O meu amor por ti tem muitas coisas dentro. Tem o amor mentolado da adolescência e os passeios ao fim da tarde em ruas de que não sei o nome. Tem os vidros embaciados de um carro em frente ao mar. Tem horas de espera elásticas. Tem a ilha de sangue num lençol branco e o espanto pela descoberta de mim. Tem o primeiro desgosto que se repete em todos os que se seguiram. Tem as histórias de um passado que não sei se aconteceu. Tem os amores que vivi antes de ti. Tem os medos que transbordam líquidos até aqui e me molham os pés. Tem as mulheres que foram tuas e agora me povoam minúsculas num desconcerto de muitas vozes. Tem estradas e casas e cheiros, um ribeiro ali ao fundo, uma janela a dar para os telhados, uma noite de fogo de artifício, tem sono e fome e sede, uma capela perdida num monte, tem o silêncio e o som, tem árvores e plantas, a lua a nascer num céu ainda claro e a dor de ser eu com tanta coisa dentro.

4 comentários:

dizia ela baixinho disse...

:)

gosto de ser tua múltipla. dá-me a ilusão que poderia escrever um texto tão bonito como o que acabei de ler.

zamot disse...

Muito bonito, obrigado. É bom ler coisas que não conseguiria escrever e tão acertadas. É bom escreveres estas coisas. Muita gente devia ler isto.

Alvaro_C disse...

quem anda por aqui a bater à porta destes corações de manteiga, quem é?

8 e coisa 9 e tal disse...

À medida que vamos crescendo descobrimos que levamos uma multidão dentro de nós. Uma multidão que não é feita só de pessoas, mas de muito mais coisas do que podemos imaginar. Obrigada dizia ela, zamot e manyfaces. Por aqui faz-se o que se pode pelos corações de manteiga.