17 novembro 2008

Anestesia

Ontem contava as horas para te poder ligar. Para ouvir a tua voz, para te contar como tinha corrido os meus dias que passavam, apagados e discretos, durante as horas insuportáveis e intermináveis que teimavam em arrastar-se até que tu acordasses e eu te pudesse ligar.

Estavas do outro lado do mundo e do tempo, numa outra instância da vida, num outro estado de alma. Procuravas alguém que te fizesse companhia para os dias cinzentos que se aproximavam, enquanto eu buscava paixão intensa, pronta-a-usar, como uma pastilha elástica que se cospe após perder o sabor.
Fomos ambos enganados. Tu perdeste-te em mim e eu perdi-me por causa de ti.

Amámo-nos. Muito. Tanto que assustava. Tanto que aterrorizava. Tanto que eu fugi. E tu deixaste-me ir.
E o ontem foi ante-ontem, o mês passado, o ano passado, há oito anos atrás.

E o tempo nunca mais parou.

4 comentários:

na prise és bestial disse...

Doeu. Viver é fodido. Um abraço, oito e coisa.
(a verificação de palavras diz perseste)

sem-se-ver disse...

este é dos tais que só dá para isto:

um beijo.

foi dançar a bossa nova disse...

a multiplicidade é, de facto, tramada!

verificação: crende
não dá para tirar isto?

Anónimo disse...

O bom do tempo é que só acaba quando chega ao fim.