24 outubro 2007

Dino quê?

Quem conhece o caminho pela auto-estrada da Crel em direcção a Loures, sabe que passa por um túnel onde foi construída, a delinear o seu arco de abertura para a passagem dos veículos, uma figura em ferro que representa a cabeça de um dinossauro. Isto acontece porque este túnel passa exactamente por baixo dos terrenos onde em, 1993, foi descoberto um trilho de pegadas com 140 metros de extensão, deixadas por um dinossauro herbírovo e outro carnívoro, que datam do período Cretássio, e que é não só a maior pista encontrada em solo europeu mas também uma das maiores do mundo.

Ora estes dinossauros que na altura não faziam ideia que estavam a pisar a futura freguesia de Carenque e muito menos o território Português, foram muitíssimo infelizes com o sítio que escolheram para passear com toda a razão, claro, visto que também era impossível para eles saberem a quantidade de palermas que 95 milhões de anos depois estariam aqui a habitar o planeta em vez deles.

Foi com alguma excitação que num fim de semana destes, eu e o meu mais que tudo resolvemos ir matar tempo até ao almoço com um passeio para ir visitar as tão faladas pegadas de dinossauros em Carenque. Chegar a Carenque já foi díficil, parece que ninguém está muito preocupado em querer mostrar onde fica o raio da freguesia com placas de sinalização. Sempre em andamento, sem sabermos muito bem para onde ir, aparece de repente mesmo à nossa frente um pequeno barracão de 10m2 , não mais que isto, construído em alumínio, vejam só, pintado de azul, com umas letras amarela pintadas por cima da porta trancada a cadeado, que diziam “A toca dos dinossauros”. Em frente ao fabuloso edíficio um pequeno jardim todo cercado de rede, com pelo menos 20 estátuas de dinossauros de algumas espécies que nunca vi em livros e que na realidade se assemelhavam mais a crocodilos bípedes, todos pintados em verde alface, todos com as bocas abertas e as línguas vermelhas e uns cotos em vez de garras, que não tive dúvidas tinham sido obra de algum projecto de estudo de uma escola primária das redondezas. Depois de muitas voltas dadas, lá encontrámos, finalmente, alguns prédios de habitaçao e um senhor que nos explicou qual era a entrada certa onde virar o carro até ao terreno. O diálogo que se seguiu com este senhor foi hilariante, no mínimo.

-Mas as pegadas depois estão assinaladas lá?, perguntámos nós.

-Não, disse o senhor, aquilo não se vê nada.

-ah não?

-Não, atão aquilo depois com as obras do túnel, eles tiveram que tapar aquilo tudo para não se estragar, atão aquilo agora tá tudo debaixo da terra.

-Atão mas não voltaram a destapar?

-Não. Nunca mais encontraram aquilo outra vez, eu vivo aqui há uma quantidade de anos e eles nunca mais mexeram ali.

Cada vez mais entusiasmados por descobrir que este país não era de todo imprevísivel, quisemos na mesma ir lá testemunhar a desgraça com os nossos próprios olhos. Depois de estacionar o carro, andámos cerca de 500 metros em várias direcções, perdidos em busca de qualquer sinal, de qualquer vestígio mas ao invés disso o que encontrámos foi terreno baldio e variadíssimos montes dispersos de entulho das obras e outros, como cartuchos de espingarda vazios, por exemplo, deixados no chão por alguém que talvez se tivesse entusiasmado demais com o “Jurassic Park” do Spielberg e que julgou que as pegadas ainda tivessem dono.

Escusado será dizer que a hora de almoço já tinha passado largamente quando chegámos a casa mas que nos sentimos culturalmente muio mais ricos, lá isso sentimos e em júbilo por saber que foram só precisos uns míseros 13 anos para finalmente ter sido aprovada a obra para a construção de um museu que vai finalmente permitir a preservação e a abertura ao público deste achado magnífico.

1 comentário:

dizia ela baixinho disse...

uma verddeira epopeia, esta história!

uma verdadeira tristeza, este país.