24 outubro 2007

Em nenhures ninguém quer construir estradas

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Quando nasceu percebeu-se logo que era uma espécie rara e muito viçosa. Cedo, muito cedo, começaram a crescer-lhe as mais belas flores. Todos os dias floria de maneira diferente. Nasciam-lhe: orquídeas, flores de hibisco, begónias, brincos-de-princesa, rosas, tulipas, jarros, margaridas, agapantos, flores de madressilva, gerberas. Formavam-se filas para ver qual a flor que lhe tinha nascido. E ela floria. E ela encantava.

Um dia construíram uma estrada que passava por cima do sítio onde tinha nascido. Começaram a tomar a outra estrada. Deixaram de lá aparecer. Deixaram de lá passar. Deixaram de a admirar. Deixaram de a regar. Ela deixou de florir. Então, o fenómeno deu-se: transformou-se num cacto.

Agora mora no deserto vermelho. Tem por amigos uma joshua tree e um escorpião. De quando em vez também aparece uma rattlesnake muito venenosa. Falam pouco e vivem em harmonia no meio da imensidão. Em nenhures ninguém quer construir estradas.

1 comentário:

na prise és bestial disse...

Hoje acordei com um espinho a sair-me do pescoço. Vou procurar um nenhures onde possa ficar sossegada.