02 outubro 2007

Setembro

Setembro foi sempre o meu mês preferido. A luz suave, as cores vivas e quentes, a temperatura amena, a água mais quente do mar, o toque mais frio da areia. É nesta altura que nascem (florescem?) as “meninas prá escola” (beladona, para os mais eruditos) e, por causa disso, a minha mãe detestava-as! Eu não. Eu adorava vê-las porque, quando elas apareciam, já era Setembro. Já tinha chegado o meu tempo de férias das férias, o tempo onde serenava e descansava, arrumava a cabeça, fazia planos para o próximo ano, passava tardes inteiras à conversa.
E sim, inevitavelmente, em Setembro começavam as aulas. Nos primeiros dias, gostava sempre de passar por uma parede do jardim do meu liceu onde estavam estes versos do Antero de Quental:

“As fadas...eu creio nelas!
Umas são moças e belas,
Outras, velhas de pasmar...
Umas vivem nos rochedos,
Outras, à beira do mar...
(….)
Quantas vezes, já deitado,
Mas sem sono, inda acordado,
Me ponho a considerar,
Que condão eu pediria,
Se uma fada, um belo dia,
Me quisesse a mim fadar... (...)”

Queria que Setembro ainda não tivesse acabado. Este ano não considerei o condão que pediria. Entro em Outubro com a sensação que falta qualquer coisa.

13 comentários:

Anónimo disse...

September

The sun shines high above
The sounds of laughter
The birds swoop down upon
The crosses of old grey churches
We say that we're in love
While secretly wishing for rain
Sipping coke and playing games

September's here again
September's here again


"Secrets of the Beehive"
David Sylvian

hfm disse...

Como compreendo! Este ano passei-o na praia da minha infância.

D. Ester disse...

Como não lembrar o grande, o enorme, o imenso

Foi em Setembro que te conheci
Trazias nos olhos a luz de Maio
Nas mãos o calor de Agosto
E um sorriso
Um sorriso tão grande que não cabia no tempo

Vítor Espadinha, o resto aqui http://oitoecoisa.blogspot.com/2006/09/recordar-viver.html

Eu também gosto muito de setembro, já começo a sonhar com saias de fazenda, botas de camurça, camisolas de lã, chocolate quente e lareiras.

sete e pico disse...

Pois eu dos Setembros da minha infância lembro-me da minha insistência por vestir a roupa nova de outono (herdada da minha irmã)e como havia ainda dias muito quentes acabava sempre suadissíma e a arrepender-me de não saber esperar. E lembro-me também da excitação por voltar às aulas e de forrar os livros com a minha mãe.

No mês de setembro é como se houvesse uma espécie de ano novo sem data marcada.

AJO disse...

Setembro é um grande mês... parece que começa um novo ano... uma nova etapa... este ano Setembro passou sem que eu desse por ela...
Foi muito bom recordar o poema de Antero de Quental.
Boa semana

dizia ela baixinho disse...

bonito (o post e o poema).

eu gosto de todos os meses, menos de março (até dia 21) e de novembro (todos os dias sem excepção).

não gosto de 1 dia em agosto e de outros 2 em julho. há outro dia em fevereiro q tb não gosto.

gosto muito, muito, muito de junho, e de 1 dia em particular em abril.

gosto de maio, sobretudo de 2 dias.

de resto, não sou esquisita.

cacau disse...

sempre senti setembro como um bom mês para recomeçar...

8 e coisa 9 e tal disse...

Ao ler os v/. comentários , fui tentar arranjar uma explicação para esta sensação comum e descobri uma coisas engraçadas:

Setembro deve o seu nome à palavra latina septem (sete), dado que era o sétimo mês do Calendário Romano, aparentemente inventado por Rômulo em 753 a.C. e que começava em Março (mudou de forma diversas vezes desde a fundação de Roma e a Queda do Império Romano). Foi depois substituído pelo Calendário juliano, instituído por Júlio César no ano 46 a.C..

O Calendário gregoriano foi promulgado pelo Papa Gregório XIII a 24 de Fevereiro do ano 1582 para substituir o calendário juliano.

Gregório XIII reuniu um grupo de especialistas para reformar o calendário juliano e, passados cinco anos de estudos, foi elaborado o calendário gregoriano.
Em 1582, o Papa decretou pela bula Inter gravissimas que quinta-feira, 4 de Outubro de 1582 seria imediatamente seguido de sexta-feira 15 de Outubro para compensar a diferença acumulada ao longo de séculos entre o calendário juliano e as efemérides astronómicas


O calendário gregoriano distingue-se do juliano porque:
Omitiram-se dez dias (5 a 14 de Outubro de 1582).
Corrigiu-se a medição do ano solar, estimando-se que este durava 365 dias solares, 5 horas, 49 minutos e 12 segundos, o equivalente a 365,2424999 dias solares.
Acostumou-se a começar cada ano novo em 1 de Janeiro.
Nem todos os anos seculares são bissextos. Para um ano secular ser bissexto tem de ser múltiplo de 400. Deste modo evita-se a diferença (atraso) de três dias em cada quatrocentos anos.

A mudança para o calendário gregoriano deu-se ao longo de mais de três séculos (!!). Foi imediatamente adoptado em Espanha, Itália, Portugal e Polónia. Em França, Henrique III decreta o ajuste dos dias em Dezembro.A Grã-Bretanha e os países protestantes apenas adoptaram o novo calendário no século XVIII, preferindo, segundo o astrónomo Johannes Kepler, « estar em desacordo com o Sol a estar de acordo com o Papa ».
Os países da tradição da ortodoxa apenas o adoptaram no início do século XX. Na Rússia, só após a Revolução de Outubro de 1917, que segundo o calendário gregoriano ocorreu já em Novembro, é que a recém-formada URSS adopta o calendário gregoriano, em 1918.

Na mudança de calendário houveram várias omissões de dias, necessárias para implementar o novo esquema:
Até Março de 1700: 10 dias omitidos (como em 1582; porque 1600 foi ano bissexto)
De Março de 1700 a Fevereiro de 1800 : 11 dias omitidos (não existiu o dia 29 de Fevereiro de 1700)
De Março de 1800 a Fevereiro de 1900 : 12 dias omitidos (não existiu o dia 29 de Fevereiro de 1800)
De Março de 1900 a Fevereiro de 2100 : 13 dias omitidos (não existiu o dia 29 de Fevereiro de 1900 ; 2000 foi porém bissexto)

Curioso é que o calendário solar foi utilizado pela primeira vez pelos egípcios, há cerca de 6000 anos. Nesta contagem, o ano possuía 12 meses de 30 dias cada mês, que perfazia 360 dias. Entretanto, 5 dias a mais eram adicionais no final do ano para comemorar o aniversário de Osíris, Horus, Ísis, Neftis e Set. Com isso o calendário totalizava 365 dias. Os egípcios chegaram a notar que a duração exata do ano era de 365 dias e 1/4, mas não chegaram a corrigir o calendário, senão em 238 A.C.


Com tanto mando e desmando, tira uns, acrescenta outros, Revoluções de Outubro que só afinal só aconteceram em Novembro, faz todo o sentido que, quando o Sol cruza o equador rumo ao sul, comece um novo ano e que Setembro seja, para nós, o Janeiro dos outros!



"http://pt.wikipedia.org/wiki/Calend%C3%A1rio_solar"

d. inês sequiosa disse...

wikipedia bendita entre as páginas de internet.

zamot disse...

Muito bonito....

Anónimo disse...

seja qual for o mês, gosto mesmo é do dia seguinte.

Anónimo disse...

tomai lá um poema de setembro...

Pequena elegia de setembro

Não sei como vieste,
mas deve haver um caminho
para regressar da morte.
Estás sentada no jardim,
as mãos no regaço cheias de doçura,
os olhos pousados nas últimas rosas
dos grandes e calmos dias de setembro.

Que música escutas tão atentamente
que não dás por mim?
Que bosque, ou rio, ou mar?
Ou é dentro de ti
que tudo canta ainda?

Queria falar contigo,
dizer-te apenas que estou aqui,
mas tenho medo,
medo que toda a música cesse
e tu não possas mais olhar as rosas.
Medo de quebrar o fio
com que teces os dias sem memória.

Com que palavras
ou beijos ou lágrimas
se acordam os mortos sem os ferir,
sem os trazer a esta espuma negra
onde corpos e corpos se repetem,
parcimoniosamente, no meio de sombras?

Deixa-te estar assim,
ó cheia de doçura,
sentada, olhando as rosas,
e tão alheia
que nem dás por mim.

(Eugénio de Andrade)

sem-se-ver disse...

(lolll, dizia! adorei :))

e então o c'est en septembre do bécaud??