05 outubro 2007

A torneira

Era uma vez uma rapariga que vivia numa casa muito velha. Uma noite acordou com a torneira a pingar. O barulho foi crescendo crescendo e invadiu-lhe os sonhos e o corpo. Sentia os pingos a correrem-lhe no peito ping, no lavatório ping, no carro encarnado onde viajava com o avô ping, nas pernas ping, no campo de girassóis que se transformavam em girafas ping, nas mãos que agarravam a almofada ping, na senhora velha com uma capeline azul que lhes ofereceu azeitonas ping.

Levantou-se e flutuou pela casa à procura de um sítio onde o ping não ping entrasse nos seus sonhos ping e no seu corpo ping. Pela janela ping viu a árvore grande ping do jardim ping. Ali ping estaria ping a salvo ping.

Levou a almofada consigo e trepou até ao ramo maior. Antes de adormecer reparou numa falha da madeira ao lado da sua mão esquerda. Lá dentro havia qualquer coisa que brilhava, talvez um garfo esquecido ou um diamante escondido, os tesouros guardam-se sempre em sítios improváveis.

Regressou ao campo de girafas que entretanto tomavam chá com o avô, enquanto a senhora de capeline azul regava um jarro com girassóis e sorria muito. A girafa mais alta largou a chávena e pôs-lhe na mão um diamante enorme e transparente. O frio fê-la acordar. Não era um diamante nem um garfo que estava na sua mão esquerda. Era uma torneira que tinha nascido no ramo da árvore onde dormia.

3 comentários:

sete e pico disse...

socorrroooo!

D. Ester disse...

maravilhoso

dizia ela baixinho disse...

e a torneira que nasceu no ramo também pingava?

bela história, múltipla!