23 abril 2008

10 de Janeiro de 2000


da viagem de avião

Da parte das decolagens confesso que não me lembro muito bem, pois adormeci das duas vezes que entrei no avião (em Lisboa e em Madrid) inchadissima de tanto chorar, mas enfim, nem sempre se pode estar bela e airosa. No avião para Bogotá vim ao lado de um italiano de 48 anos, simpatiquíssimo, um rockeiro todo vestido de preto e com um grande rabo de cavalo nos seus cabelos brancos, que administra cá uma fazenda de café. Era muito engraçado e simpático e para além da fazenda tinha também uma escola para os filhos dos agricultores e fazia muito trabalho social.
(...) Logo no dia a seguir fui jantar com algum pessoal do acnur e amigos deles e depois fomos todos para casa de um deles “bailar”. Soltou-se-me a louca e pela primeira vez atinei com o ritmo da salsa e dancei até de madrugada (lembram-se de eu dizer que durante um ano não ia tocar em charros? Esqueçam, era erva e da boa...)

da cidade

Bogotá é uma cidade linda, linda, linda, nada como eu tinha imaginado, podia ser uma cidade europeia (etnocentrismos à parte), está bem urbanizada, tem jardins, muitas árvores e do lado oriental está cercada por umas montanhas enormes e lindas, poderosas. Mas é enorme, tem 7 milhões de habitantes...

da Colômbia

Com o tempo contarei mais, ainda estou a tentar captar as coisas, é tudo muito novo para mim, as pessoas parecem ser muito politizadas, muito conscientes da realidade social e política do país, mas ainda é muita informação por minuto e assim que parece que começo a perceber alguma coisa, aparece logo de seguida uma contra informação, é tudo muito complexo...

(...)

Com a distância do tempo, percebi que Bogotá de facto não tem nada a ver com uma cidade europeia, pois só uma pequena parte tem edifícios de outros séculos (o Bairro da Candelária) e o mais antigo é do século XVIII. Apesar de ter sido fundada no século XVI, não ficaram muitos vestigios dessa época. Às vezes, os meus amigos levavam-me a visitar monumentos que para eles era muito antigos e eu ficava espantadissima por serem dos anos 50, para mim isso era super recente! A noção do “antigo” é muito diferente cá e lá.

Quanto ao perceber minimamente a Colômbia, como verão pelas próximas cartas, demorei muito tempo a perceber este país tão diferente do meu, pela minha juventude na altura, e pela mesma complexidade do país. Durante o primeiro ano, ouvi, ouvi, ouvi toda e qualquer pessoa que me quisesse contar a sua versão e a sua história e tive sorte pois encontrei muita gente interessante e com vontade de falar. Lenta e acelaradamente, lá fui começando a perceber um bocadinho melhor este país.

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