28 abril 2008

Novembro de 2000

Aqui vai mais uma ronda de notícias ou lá como se possa chamar este desfiar de acontecimentos deste país que sempre está a começar tudo outra vez. Cada dia é apenas cada dia, primeiro e último, aqui a memória da história pertence ao chamado “curto prazo”.
Outro dia lia num jornal que a história deste pais é de apenas 4 anos, pois cada vez que há eleições muda tudo, mudam os políticos, as leis, a estrutura organizativa e todo o pessoal das distintas alcaldias ou instituições, desde o alcalde ao vigilante nocturno e à senhora da limpeza. Como exemplo, a ministra da cultura recém eleita quis fazer um novo programa de cultura e propôs suspender as temporadas de ópera e concertos de música clássica por ser música estrangeira, pois neste momento a sua política é de reforçar da identidade e a autoestima nacional através da cultura que produzem os próprios colombianos. Como é óbvio, a medida foi demasiado impopular e apenas uma pequena percentagem da população esteve de acordo com semelhante barbaridade em relação à musica clássica. Mas sim quanto ao promover a cultura colombiano, pois aqui cultura e identidade nacional vão ligadas. De facto, há uma campanha para instaurar um sentimento de identidade nacional, há necessidade de união entre irmãos. E cada grupo armado, cada elemento de governo e de estado e cada cidadão tem um sincero mas bizarro sentimento de nacionalismo. As FARC lutam pelo povo colombiano, matando aqueles que colaboram com os paramilitares. Os paramilitares lutam contra a guerrilha porque esta atenta contra o povo colombiano. Os militares lutam contra as guerrilhas e contra os paramilitares porque estes atentam contra os direitos humanos do povo colombiano. E o povo colombiano vai, ainda que timidamente, pois o medo aqui pertence ao mundo real, condenando os paramilitares e a guerrilha de atentarem contra os direitos humanos de todos os colombianos. Por outro lado, o Governo tenta conversar com todos, mas vê-se à brocha. Os paramilitares acusam o governo de não impor condições à guerrilha. A guerrilha faz greve de zelo nas negociações do processo de paz. E todos os 7 dias da semana, pontualmente às 6 da tarde, todas as rádios passam o hino nacional. E o povo colombiano responde: Presente.
E para concretizar com um exemplo recente de continuação do ciclo vicioso de críticas e de não intenção de união ou de diálogo. O Governo tentava negociar com a guerrilha o fim do sequestro e a entrega de guerrilheiros detidos, por militares sequestrados. Os paramilitares acham que o governo não tem que negociar isso com a guerrilha e sequestra a seis deputados do senado. O Presidente do Senado faz uma declaração pública contra o sequestro, contra a guerrilha, contra, embora mais soft, os paramillitares e contra o governo porque este não tem sucesso nas negociações com a guerrilha. O governo, ainda que com alguma justificação, é o saco de pancadas de todos os lados, inclusive de si próprio. E a interiorização da noção de Estado em todos os colombianos ainda é um processo que tem muito que caminhar.
Pertencer a um país é uma herança que te segue por onde vais. E ter um país em guerra e com tantos conflitos a tantos níveis não é uma herança fácil, pois a violência instala-se e demora a ser erradicada, de tão entranhada que está no dia a dia há tantos e tantos anos. (...)
Agora fico por aqui pois tenho de ir descansar depois da operação que fiz para arrancar dois dentes, e pela qual tive três anestesias, três. E ontem logo depois da operação fui para uma festa onde tomei alguns whiskys com muito gelo, por receita médica, mas não consegui cumprir a parte em que tinha que estar muito quietinha e não dançar. Por isso hoje o corpo está a dizer para ficar sossegada e descansar muito. E eu cumpro. Hoje.
Muitos beijinhos

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