24 junho 2007

Estranheza

Ontem à noite estava em Cascais com uns amigos, queríamos beber uma cerveja fora mas tudo parecia já estar fechado. Indicaram-nos um sítio perto da baía que ainda estaria aberto, e lá fomos rua abaixo.
Pelo caminho cruzámo-nos com gente que nos pareceu muito estranha, que faziam coisas como se estivessem bêbedos mas sem emitir qualquer tipo de barulho. Gente frita há em todo o lado, mas aquele silêncio era um bocado assustador. Comecei a pensar se não teríamos entrado numa twillight zone.
Entrámos no tal do bar e havia qualquer coisa diferente do habitual num sítio do género, mas não percebíamos bem o quê. Havia muitos bifes, o que é normal para aquela zona, ainda para mais nesta altura do ano, estavam todos arranjados para sair, um bocado trendy, mas havia qualquer coisa estranha.
Começámos a olhar em volta e as pessoas gesticulavam muito sem se lhes ouvir palavra, o que também nos pareceu dentro da norma, já que o barulho costuma ser tão alto que não se consegue sequer ouvir um amigo a 50 cm de distância. No entanto conversávamos sem dificuldades.
De repente percebemos o que se estava a passar; a música estava alta, sentiam-se as vibrações, mas faltava o bruaá, porque além de nós mais ninguém falava ali dentro. Eram todos surdos mudos.
Durante muito tempo nem conversava, estava fascinada a olhar para aquele mundo onde uma pessoa só comunica com contacto visual.
Um grupo decidiu tirar uma fotografia e começaram aos gritos para a máquina; um rapaz que estava de costas para eles não se incomodou com nada, como não os via não percebeu que estiveram prestes a cair-lhe em cima.
Vi um casal em manobras de sedução, ele já estava tão bêbado que só conseguia balançar o corpo e pouco mais mas ela ria-se imenso. O que será que diziam um ao outro?
Finalmente, descobrimos o motivo para aquele estranho povoamento. Está a decorrer por estes dias o Campeonato Europeu de Futebol de Surdos. Pensei que a grande diferença que deve haver para o campeonato dos que ouvem é a possibilidade de insultar o árbitro sem que este o oiça; para além de não ouvirem os impropérios dos adversários.

2 comentários:

Patricia Pereira disse...

Creio que o termo mais correcto é surdos enão surdos mudos, uma vez que apenas uma infima percentagem dos surdos é realmente muda.
Lembro-me da primeira vez que fui a uma festa na Ass.Port. de Surdos na Av. da Liberdade, a musica estava altissima e não entendia porquê (já que eram surdos!), depois de dar uns passos encostei-me a uma parede e percebi, tudo vibrava, chão, paredes, mesas, cadeiras, por causa do som. Assim podiam dançar :)

8 e coisa 9 e tal disse...

Tem razão patrícia, fica a correcção. Obrigado.