09 abril 2008

Vou

vou escrever escrever escrever até esta insatisfação rebentar, disse eu à minha casa de palha e ao meu telhado de vidro que não me serve sequer para mandar pedras aos vizinhos e hoje que bem me estava a apetecer uma intifada contra a vida que está do outro lado deste muro que cada dia cresce mais e que já não me deixa ver o outro lado. Estou cercado de pedras, cercada de graffitis, cercada pelo barulho das ambulâncias que a cada dois por três passam nesta cidade que para mim hoje é maldita, malvista, malescrita, malvivida.
Vou escrever escrever escrever até esta angústia me passar, vai-te embora melga, vai para a tua rua, vai para o raioquetaparta vai para o diabo que te carregue.
Vou escrever, escrever, escrever até que por fim o meu lugar no mundo hei-de encontrar e hei-de plantar àrvores e construir uma casa grande, grande e hei-de juntar muita gente que quer ser feliz e hei-de espalhar flores e pássaros por toda a cidade e hei-de escrever, escrever, escrever até as minhas penas secar.
Vou escrever, vou esc, vou ver, vou er, vou!

4 comentários:

JPN disse...

escreve, quanto mais escreves mais satisfeito fico...

dizia ela baixinho disse...

muito bem!

Anónimo disse...

"Eu hei-de"... é das coisas mais bonitas que se podem escrever. Só espero que os acordos não acabem com estas belezas com hifen. Diz o filósofo Gil que nós temos medo de existir. Logo nós que temos um verbo como haver... Não é medo não Senhor. É ansiedade.

San disse...

nós escrevemos também, contigo, quando lemos.
:)