10 junho 2007

Sexo, género e orientação sexual

foto newsweek


Há uns tempos fui ver o sexualidades com um amigo, filme que fala de uma amizade entre uma rapariga meio perdida na vida e a sua vizinha de casa, em processo de transição de homem para mulher. No final ficamos em suspenso entre a operação de mudança de sexo e a relação amorosa entre ambas.

Para o meu amigo a solução seria óbvia: deixar perder a cirurgia, assumir-se como homem e ficar com a rapariga. O seu choque foi enorme quando lhe sugeri que a transsexual pudesse ser lésbica. Para ele a transição de sexo implicava um desejo de heterosexualidade.

O meu amigo não é caso raro; muita gente pensa da mesma forma. Confesso que pude apresentar a panóplia de combinações possíveis e reais porque leio o fish speaker, não lhe estava a dar uma hipótese académica - seria equivalente ao caso da Siona, uma pessoa que existe e cuja existência vem documentada no blog.

Lá dissertei sobre sexo ser o biológico, com que se nasce, género aquilo que se sente, e como ambos podem não coincidir. E que quando isso acontece origina um processo doloroso, longo e penoso para a adequação do biológico ao sentido.
Além do mais, o sexo que se tem (ou se passou a ter) não tem relação directa com a orientação sexual. Há homens que gostam de mulheres, os que gostam de homens, os que gostam de ambos; o mesmo se aplica às mulheres; e o mesmo se aplica aos que se tornaram homens ou mulheres biologicamente através de cirurgia de adequação do sexo ao género.
Eu não conseguia entender porque é que isto não era óbvio para ele. Tal como não o é para muitas pessoas. A existência de transgéneros é assustador para alguns, a de homosexuais para outros, a de ambas simultaneamente provoca a perplexidade à maioria. E pur se muovono.

5 comentários:

Ruiva disse...

realmente também tenho essa experiência... há dias falava com uma amiga sobre uma mulher lébica que nasceu homem e a cara da minha interlucura também era de incredulidade!
Penso que, depois de séculos e séculos de repressão social ao nível sexual, as múltiplas sexualidades ainda são um universo desconhecido de muit@s! Lentamente as coisas compõem-se... espero eu!

sete e pico disse...

Compõem-se sim senhora, seremos muitas mil para desmistificar as fronteiras sufocantes do género.

Confesso que nestas questões das identidades aquilo que ainda me custa a entender são os queer, para quem não há de género definida, de manhã posso ser homem, à tarde mulher, é muita evolução para a minha mente ainda com um pé em braga outro em nova york

Siona disse...

Obrigada pelo post! ;)
Aqui fica o comentário.

Acho que a situação de que falas pode ser mais correctamente definida como two-gendered, ou two-spirited. E que, por acaso, é um conceito que acho muito interessante. Só imagino é que deve dar algumas dores de cabeça, por excesso de processamento mental multi-tasking, a quem passa por ele...

sete e pico disse...

two gendered, two spirited é mais ilustrativo de facto. Eu também sinto um grande fascinio pelo conceito, mas não consigo imaginá-lo muito bem dentro da minha cabeça. Talvez um dia quando consiga libertar-me mais...

Anónimo disse...

A ideia do two spirited é fascinante mas não tem nada de extraordinário (tirando a própria concepção de um terceiro género hibrido entre os dois sexos opositivos - intersexual) apenas establece uma inversão de prioridades no qeu respeita ao reconhecimento social dos individuos. nas sociedades ocidentais somos indexados ao nosso sexo biológico e é face a esse que ganhamos a nossa orientação sexual, nas sociedades indias como os navajo os individuos são reconhecidos pela sua identificação de género e é relativamente a esta que a sociedade constroi a orientação sexual. será deveras interessante notar que nessas sociedades a homosexualidade é igualmente mal vista , tal como acontece na nossa, simplesmente os principios na qual assenta esta classificação da orientação são distintos do nosso na medida em que se baseiam na identidade e não na biologia.