Corista reputada no casino da Figueira da Foz, a andaluza misteriosa causava furor na população masculina que naquele Verão de 1965 refrescava a vista longe dos olhares reprovadores das mulheres legítimas (que a odiavam com intensidade idêntica ao enlevo dos maridos). Dona de umas ancas musicais e de um decote vertiginoso, nem os seminaristas de férias escapavam à concupiscência libidinosa que exalava e ao inevitável sacramento da reconciliação bem provido de penitências mortificantes...
Era dona de um olhar felino e de uma desvergonha insinuada que cativava o mais polido dos filhos das boas famílias que a cortejavam engomados nos seus fatos de linho. Para lhes quebrar a a altivez mimada, bastava-lhe o sorriso trocista que aninhava sempre na ponta direita da sua boca. Imperava no meio deles por direito próprio de uma maneira tão eficaz quanto dissimulada. Não havia quem lhe regateasse um capricho, por mais excêntrico ou custoso que este fosse. Homens feitos perdiam fortunas por sua causa e uma multidão de adolescentes esperava cada uma das suas aparições com o fervor próprio dos crentes.
Todas as noites, no fim de cada espectáculo, era inundada de uma multidão de fãs, mais ou menos providos de buço, que se digladiavam para poder oferecer-lhe o último copo da noite e um braço para a conduzir ao carro.
As estrelas do cartaz empalideciam na sua presença e receavam medir-se com a sua popularidade. Achavam-na vulgar e desprovida de talento. Ninguém sabia bem qual era o seu.
Mais do que um desafio, ela era um destino. Um prenuncio irresistível de naufrágio. A encarnação feminina mais cabal do provérbio “vale o mal que faz pelo bem que sabe”. E eu bem sabia o bem que ela sabia…
Quando aquele bêbado idiota a atropelou com o seu AC Shelby Cobra 427 odiei-a, enraivecido, como se a culpa de morrer fosse sua. Mulheres assim merecem, no mínimo, a imortalidade…
Mari Luz, porque me abandonaste?!
Era dona de um olhar felino e de uma desvergonha insinuada que cativava o mais polido dos filhos das boas famílias que a cortejavam engomados nos seus fatos de linho. Para lhes quebrar a a altivez mimada, bastava-lhe o sorriso trocista que aninhava sempre na ponta direita da sua boca. Imperava no meio deles por direito próprio de uma maneira tão eficaz quanto dissimulada. Não havia quem lhe regateasse um capricho, por mais excêntrico ou custoso que este fosse. Homens feitos perdiam fortunas por sua causa e uma multidão de adolescentes esperava cada uma das suas aparições com o fervor próprio dos crentes.
Todas as noites, no fim de cada espectáculo, era inundada de uma multidão de fãs, mais ou menos providos de buço, que se digladiavam para poder oferecer-lhe o último copo da noite e um braço para a conduzir ao carro.
As estrelas do cartaz empalideciam na sua presença e receavam medir-se com a sua popularidade. Achavam-na vulgar e desprovida de talento. Ninguém sabia bem qual era o seu.
Mais do que um desafio, ela era um destino. Um prenuncio irresistível de naufrágio. A encarnação feminina mais cabal do provérbio “vale o mal que faz pelo bem que sabe”. E eu bem sabia o bem que ela sabia…
Quando aquele bêbado idiota a atropelou com o seu AC Shelby Cobra 427 odiei-a, enraivecido, como se a culpa de morrer fosse sua. Mulheres assim merecem, no mínimo, a imortalidade…
Mari Luz, porque me abandonaste?!
3 comentários:
Eu também quero umas ancas musicais.
grande história
e eu quero uma prosa destas.
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