12 maio 2009

Desesperacimento

Morre a tua luz, cada dia um pouco mais. O teu corpo definha, enfraquecido pela tristeza que te entrou pela proximidade da morte. A doença e a sua cura extirparam-te o tumor, o humor, esqueceste o amor que tinhas dentro de ti. Já não ouço as tuas gargalhadas, desinteressas-te de tudo, como se a morte fosse a única alternativa, como se nada mais importasse a não ser  o dia em que fecharás os olhos para sempre. Abandonas as palavras e deixas o silêncio, cada dia mais intenso, como gritos surdos com que nos feres os tímpanos da alma. Morres sem morrer como se nos habituasses ao que será o futuro sem ti. Às vezes já não sei quem és tu. E minha tristeza deu lugar à raiva e a raiva deu lugar ao gelo que me mina o coração. Depois de tantos anos a conhecer-te já não sei quem és. Nem quem sou para ti.

5 comentários:

sem-se-ver disse...

(brutal)

d. inês sequiosa disse...

(suuuuspiro)
Um grande abraço

Alba disse...

E um dia a luz desaparece dos seus olhos e cada olhar é um misto de raiva e pedido de ajuda. E nós impotentes só a olhar. E a desesperar também. A revolta transmitida em cada gesto, em cada esgar. E apesar de ter cumprido as últimas vontades, não consigo deixar de me lembrar que partiu com a alma num luto prévio, por Alguém lhe retirar o que merecia viver por direito.
- Estás comigo todos os dias Mãe!...

Alba disse...

Um sincero beijo.

foi dançar a bossa nova disse...

desesperecimento... sim...