12 maio 2009

O dia em que a realidade foi mais estranha que a ficção - Desafio fio fio em III Actos

Acto I
9:30 da manhã. Domingo. Casa do Artista. Workshop de ficção narrativa no centro de formação, uma iniciativa da produtora de eventos Storytime. Parece fácil apesar de nunca ter ido à casa do artista. Uma pessoa entra nas instalações, estaciona o carro e depois segue as indicações que lá hão-de estar afixadas. Errado. Na chegada ao portão vejo dois parques de estacionamento, um exterior fechado por cancela e sem máquina ou alguém para atender. Resta-me o parque interior. Desco a rampa até à cancela que tem uma máquina para meter moeda e tirar bilhete pela módica quantia de 1 euro por cada hora sendo que eu teria de permanecer ali até às dezoito horas. Contas feitas, volto a sair com o carro de marcha atrás para perceber que numa área de dois quilómetros não tenho nenhum sítio onde estacionar no exterior do edíficio. Volto lá para dentro. Desco a rampa, meto 1 euro e recebo o bilhete. Olho em frente depois de passar a cancela e vejo outra rampa de subida para o exterior que me daria acesso ao tal parque que estava fechado. No entanto tenho um sinal obrigatório à minha frente a avisar-me que devo seguir para a esquerda e enfiar-me no parque a pagar e sem refilar. Sinto um leve ardor nas narinas e resolvo seguir em frente. Estaciono o carro cá em cima ao ar livre num parque que é um mar de lugares vazios. Nenhuma placa informativa sobre a localização do centro de formação. Entro na recepcção de um edíficio que diz Residência. O segurança apressa-se a vir ter comigo com ar de quem se sente violentado.
- O centro de formação? - pegunto eu.
- Como é que entrou aqui?
- Hmm, subi ali pelo parque.
Ele exibe um meio sorriso como quem diz, olha esta tem a mania que é esperta e abana a cabeça.
- Não pode estar aqui. Tem de voltar a descer.
- Não vou pagar um euro por cada hora que aqui vou estar, que é até às dezoito.
- Um euro dá até às dezoito.
- A máquina lá em baixo diz que não.
- Está enganada, a máquina não diz isso.
- Diz sim.
- Está enganada, a máquina não diz isso.
- Ok, devo ter visto mal.
Silêncio.
- O centro de formação? - pergunto eu.
Ele faz o sorriso do Joker.
- Agora volta a descer e estaciona o carro lá em baixo e depois volta a vir aqui ter comigo a pé e eu explico-lhe onde é o centro.
O centro de formação, volto a perguntar de sobrancelha franzida, impávida e serena. Ele desiste do confronto com o batman.
- Ok, segue o parque sempre até lá ao fundo e depois encontra duas portas. Uma delas é a do Centro. Mas depois de entrar, feche-me a porta, se faz favor.
Sigo parque fora até não poder andar mais. 500 metros de parque. Encontro a porta e tal como ele tinha pedido, fecho-a atrás de mim e saio para o exterior. Está frio hoje. Vejo que me esqueci do casaco dentro do carro. Viro-me para voltar atrás e vejo que a porta fechada não tem maçaneta. Tinha-se partido algures no tempo e nada de improvisos, fica assim mesmo. Não posso voltar a entrar e já estou atrasada. O Joker tinha ganho. Caralhosmafodam!

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