como não queremos raiva contra a luz que morre, arregaço as mangas (que não tenho) e pego na inspiração (que inexiste) e escrevo estas linhas contra as dores de dentes e as dores de alma, contra as roupas que encolhem com as lavagens ou as que alargam com o uso, contra o tempo que passa demasiado depressa e me faz chegar atrasada à vida, contra os dentes que desaparecem e os buracos que permanecem, contra os autocarros que não cumprem os horários e o pólen que me faz espirrar até à metafísica (esta tem dono e não sou eu), contra os amores que acabam e aqueles que nunca começam, contra o tomate que não sabe a nada e nem encarnado é, contra o outono que se disfarça de vermelho e laranja para dissimular a nudez que se anuncia.
3 comentários:
....contra os dias que nos escorregam das mãos como areia, contra a pilha de roupa que se acumula no canto do quarto e que anuncia o caos interior, contra os amores que não começam por causa do medo que nos vai dentro, contra as perguntas de merda e as conversas vazias.......
E depois o dia amanheceu com sol e calor. E eu sorri.
Olha que pena!
Eu a pensar que isto ia pegar como nos cromos do bairro, e íamos aqui afogar as nossas mágoas e tragédias cómico-pessoais, frustrações intergalacticamente universais.....e vai disto que a múltipla corta-nos o piu com um acesso de boa disposição.
Não há direito pá!!
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