12 maio 2009

O funil

O vizinho do lado que ouve música muito alto. A minha mãe que me enche o frigorífico de sopas que deixo azedar. A minha irmã que não sabe escolher namorados e me telefona em lágrimas todas as semanas. O café que esfria depressa porque o cretino do senhor antónio não escalda a chávena como lhe peço. Os jornalistas que são uns abutres e só falam de desgraças. Os velhos que entopem os balcões da caixa geral de depósitos para actualizar a puta da caderneta. O francisco que só sabe falar das gajas que anda a comer e me chateia a molécula porque o meu mal é estar há muito tempo sozinho e garante que isto passa quando eu for com ele ao bar das brasileiras simpáticas. Estou farto desta maltosa toda, estou farto do enfado que cresce em mim, da impaciência com que me olho ao espelho, da barriga que amolece e dos anos que vou coleccionando. Quero que se lixe esta merda toda, já não posso ser tudo o que quiser, tenho o frigorífico cheio de sopas, tenho um estranho rancoroso que olha para mim no espelho e me sorri bela merda em que te tornaste. Quero que se foda o funil que tenho à minha frente, estou-me nas tintas para que vá ficando cada vez mais estreito até ao dia em que já não caberei nele.

2 comentários:

sete e pico disse...

que se fodam os funis da vida. Gonic, diz o guichet, acho que se enganou e queria dizer fonix

nove e tal disse...

bela merda que te tornaste. confere.

obrigada múltipla minha.