18 janeiro 2007

Região memoral

- Mãe, o que é região memoral?
- Região memoral? Não sei...
- Sabes aquela senhora de véu que dá aulas lá na escola? Ela dá aulas de região memoral. E eu gostava de ir a essas aulas, para aprender mais sobre Deus e Jesus.
(Ou os efeitos de pais agnósticos nas aspirações de uma criança de seis anos)

17 comentários:

sete e pico disse...

lindo, lindo, lindo!

quando era miuda também andei na região memoral, que no meu tempo se chamava catequese, apesar dos meus pais serem ateus convictos. Mas como achei aquilo tudo demasiado fantasioso e eu nunca acreditei no pai natal, resolvi desistir na véspera da primeira comunhão.

Ruiva disse...

Eu consegui aguentar até à comunhão solene, depois desisti...
Isso é uma fase, depois passa.

anauel disse...

Já o post "Fazer Sexy" tinha feito saltar certas memórias. Também tenho uma filha que há pouco tempo teve seis anos. Também ela um dia soube o que é "fazer sexy" e também ela, agora, diz querer ir à catequese... Mas como vou eu explicar-lhe que ela só lá vai chatear-se?... Aceitam-se de bom grado argumentos para contrariar este seu estranho desejo. O argumento de que na catequese não há fazer sexy não vale...

Anónimo disse...

Essas aulas até seriam interessantes (mas não aos 6 anos)se de facto se discutisse religião, ateismo, moral, Deus ou Jesus. São temas fascinantes e importantes. A questão é que se discute uma religião (parece que se tem de escolher uma), um Deus e sua respectiva família. Está muito centrado numa solução e não numa discussão...
Como sou um agnóstico a caminho de Ateu e um bocadito para o agressivo, na linha do último livro do Richard Dawkins, acho que as escolas laicas se devem preocupar com outras coisas que bem precisam de ser defendidas (ciência, racioanalidade, civismo), em vez de região memoral ou religião imoral.

PS: Na minha escola uma Professora de região memoral foi chamada a atenção pelos Pais por defender o comunismo. Foi-se a ver e era o ecumenismo. Ficou tudo mais descansado.

sete e pico disse...

gostei desse PS manyfaces. Para o anuel: acho que talvez não se tenha que contrariar nada, só mesmo deixá-los descubrir o seu próprio caminho. Se as crianças têm vontade de saber mais sobre deus e a religião, deixai-os descubrir, da maneira que lhes é possível. Na escola podem ir ás aulas de região memoral e depois em casa podem conversar com os pais e com os amigos, ler livros e descubrir todo o outro mundo que existe mais além da religião católica. As crianças são seres que estão a descobrir o mundo e isso é algo que têm que fazer por elas próprias, como diziam no matrix, há uma diferença entre conhecer o caminho e percorre-lo.

Aclaro que isto digo eu agora, certamente quando a minha filha chegue a esta idade estarei eu a fazer as mesmas perguntas.

Anónimo disse...

:))) tão querido o raio do miúdo!
E ele sempre vai frequentar as aulas?

8 e coisa 9 e tal disse...

Hoje voltou à carga com a região memoral. À saída da escola explicou-me que Deus criou tudo o que existe: o universo, os planetas e estrelas, as pessoas. Foi também Deus que criou a alegria, as cores e a matéria.
Terá chegado o momento de me render à evidência da região memoral na vida do meu filho? Só me resta esperar que a senhora do véu também defenda o comunismo como a da escola do manyfaces.

dizia ela baixinho disse...

esse miúdo é um poeta.
vão por mim.

Cool Mum disse...

Vá lá, eu tenho uma que gostava era de 'comer a bolacha' na igreja.

FuckItAll disse...

Ora, deixem lá os miúdos descobrirem as regiões que quiserem, e aborrecerem-se - ou não - com elas...

XR Cork Regenerative Culture disse...

A mim parece-me óptimo! :o)

Falo por experiência própria...
Os meus pais de religiosos não têm nada e para tristeza da minha avó nem baptismo recebi. Acharam eles que quando tivesse idade para saber das coisas logo faria as minhas escolhas. Sucede que na minha escola não só havia religião como havia duas turmas: religião católica e religião evangélica. E todos os outros meninos iam. Ora eu não queria ficar de fora e desde pequeninha que a curiosidade era muita. Mas como não sabia qual escolher fui para a católica que sempre era a da minha avó. E verdade é que não achei aquilo nada mau. Ora isto na 2ªa classe. Conversava-se sobre o que era o bem, como se podia ajudar os outros, ouviam-se histórias e cantavam-se musiquinhas, pelo que não ofendia a ninguém. Pela mesma altura a minha avó começou fim-de-semana sim fim-de-semana também a perguntar se eu não queria ir com ela à missa casa. E eu desconfiei... mas como achei que a faria feliz lá me decidi a ir uma vez (sem exemplo, ficou logo acordado). E descobri que também aquilo não fazia mal a ninguém. Chegava, sentava-me ao lado da minha avó, ficava a olhar enquanto ela ia lá à frente fazer a vénia, sorria às pessoas que em geral sorriam umas para as outras, quando havia uma musiquinha que fosse mais na onda do "obrigada pelo mundo que é tão lindo" em vez de reza-cantada lá me atrevia a participar e de resto ficava sentada a ver tudo com atenção e a sentir uma grande calma. À parte disso, levantava-me quando todos se punham em pé e ficava sentada quando se ajoelhavam. Não comia a "bolacha" e não dizia rezas nem acabava as frases do padre. Ainda me passou pela cabeça mexer os lábios (que bem sabemos é o que muita gente faz) mas abstive-me de o fazer porque para além de achar tolo senti que seria falta de respeito. Fui mais umas vezes durante a minha infância ver como era, se estava igual, e havia vezes em que os pedaços da bíblia lidos por uns e outros em voz alta me diziam qualquer coisa, se bem que aplicados a outras situações e com morais ligeiramente diferentes. Ser desconfiada ajudou. Nunca fiquei com sentimentos menos bons (os pecados e o inferno e mais a confissão e tudo isso entrou por um lado e saiu por outro) e acho que me fez bem pelas mais diversas razões. Acho que me ajudou desde cedo a identificar que parte daquilo que me dizem tem a ver comigo e a rejeitar sem remorsos tudo o resto, respeitando no entanto os sentimentos e convicções dos outros (ser tolerante no fundo). Consegui racionalmente perceber porque iam as pessoas à missa e o que lá procuravam. De tal forma que quase que me indignava quando amigos meus católicos iam à missa todos os domingos "porque sim". Não foi por isso que fiquei convertida. Depois de 2 anos nas aulas de religião católica achei que aquilo já era revisão e pedi aos meus pais para me mudarem para a turma do lado. Foi assim que tive aulas de religião evangélica. Percebi as diferenças e encarei novas perspectivas do que "é a religião para as pessoas". Daí em diante até ao 10º ano fui alternando. Um ano numa turma um ano noutra. Se havia coisas com as quais não me identificava tentava perceber porquê e quando havia conceitos que achava disparatados discutia com os professores os meus pontos de vista. E como o fazia eu assim o faziam os meus colegas. Quando no 11º a alternativa a religião era filosofia a escolha foi óbvia mas acho que esta experiência me fez um bem imenso.
É isto que desejo à tua criança. A curiosidade é tão boa. E tantas coisas que vai descobrir!
Boa sorte!

p.s.: têm aqui um lindo blog. venho cá sempre espreitar.

JPB disse...

Eu no meu tempo achava que a disciplina se chamava "Religião Imoral."

sete e pico disse...

zero fem. contaste uma linda história, achei graça à ideia de ir alternando entre a religião católica e a evangélica até chegar...à filosofia.

nove e tal disse...

pois eu era o pesadelo da minha catequista. ela lá botava um dogma e eu mandava-lhe com um 'porquê'? passei 7 anos a chatear-lhe a molécula, sempre insatisfeita com as respostas (fazia-me confusão tudo, desde o espírito santo ser uma pomba, Maria ter engravidado virgem e ser venerada por esse motivo, lembro-me de um dia ter perguntado à catequista se Maria depois de ter tido Jesus, se tinha relações sexuais com São José e se tinha perdido a virgindade. fui expulsa da sala nesse dia...). achei aquilo sempre tudo uma aldrabice pegada, era um pesadelo ter q ir à catequese, seguida de 1 hora de missa (já p não falar no momento da confissão) nunca me consegui concentrar na ladaínha do padre. aos 13 anos comuniquei aos meus pais que não queria ser crismada pq não queria confirmar o meu 1º e único sacramento. não acreditava nem nunca acreditei, em suma.

de qq modo, gostava de perceber o q é essa coisa a q chamam 'fé'. será um gene? terei nascido sem ele? (é uma provocação, como é óbvio).

quanto ao teu filho, acho muito bem q ele faça/decida o seu próprio caminho. e se decidir acreditar em Deus como criador do mundo, da matéria e da alegria, pois q se respeite isso.

Anónimo disse...

"À saída da escola explicou-me que Deus criou tudo o que existe: o universo, os planetas e estrelas, as pessoas. Foi também Deus que criou a alegria, as cores e a matéria."

Bem, na minha altura as virtudes de Deus não eram tão extensas e criativas. E havia até o espectro do castigo divino que ajudava a assustar a malta. Estou a ver que os Profs da região memoral têm andado numas aulas de Marketing... É difícil competir com um tipo que criou a alegria e as cores. Para a criação dos planetas e estrelas já eu tenho a contra-argumentação preparada. Mas o outro lado está a melhorar o pacote de maravilhas divinas. Estou a ficar preocupado. isto é quase concorrência desleal. O Abel Mateus devia pronunciar-se.

Anónimo disse...

"p.s.: têm aqui um lindo blog. venho cá sempre espreitar."

Tenho aqui um lindo blog? Bem, até fiquei comovido com um convite nestes termos. Vou lá sim senhora.

FuckItAll disse...

Às vezes parece, moiro, às vezes...