12 setembro 2006

Amor cavador

Sempre me disseram que não se faz queixinhas, mas não consigo evitar as palavras que me enchem a boca para te dizer que estou infeliz e a culpa é dele, daquele homem que tantas vezes é o que eu quero que seja mas que de repente se senta à mesa numa pressa brusca de camponês, sorve a sopa, ignora o guardanapo, daquele homem que tantas vezes diz o que eu quero ouvir e de repente é tomado de uma fúria mansa que cresce sem eu saber como até acertar aqui onde a cara e coração acabam cavados pela sua mão.

3 comentários:

Anónimo disse...

é uma forma muito bonita e bem escrita para contar um dos males ainda demasiado existente no nosso país, a violência doméstica

dizia ela baixinho disse...

Entre nós e as palavras há metal fundente
entre nós e as palavras há hélices que andam
e podem dar-nos morte violar-nos tirar
do mais fundo de nós o mais útil segredo
entre nós e as palavras há perfis ardentes
espaços cheios de gente de costas
altas flores venenosas portas por abrir
e escadas e ponteiros e crianças sentadas
à espera do seu tempo e do seu precipício

Ao longo da muralha que habitamos
há palavras de vida há palavras de morte
há palavras imensas, que esperam por nós
e outras, frágeis, que deixaram de esperar
há palavras acesas como barcos
e há palavras homens, palavras que guardam
o seu segredo e a sua posição

Entre nós e as palavras, surdamente,
as mão e as paredes de Elsinore

E há palavras nocturnas palavras gemidos
palavras que nos sobem ilegíveis à boca
palavras diamantes palavras nunca escritas
palavras impossíveis de escrever
por não termos connosco cordas de violinos
nem todo o sangue do mundo nem todo o amplexo do ar
e os braços dos amantes escrevem muito alto
muito além do azul onde oxidados morrem
palavras maternais só sombra só soluço
só espasmos só amor só solidão desfeita

Entre nós e as palavras, os emparedados
e entre nós e as palavras, o nosso dever falar

Mário Cesariny, You are Welcome to Elsinore

Anónimo disse...

ahhh fadista!!! seja bem vindo