11 setembro 2006

A inveja é uma coisa muito feia

A inveja é uma coisa muito feia, mas a verdade é que gostava de conseguir soltar as palavras que estão presas cá dentro, deixar de ser carcereira de mim mesma e libertá-las nesta folha em branco que só existe no ecrã à minha frente, sem me importar com o estilo o argumento a forma ou a carne, livrar-me dos ossos e das espinhas que estão dentro da minha cabeça e me prendem a um silêncio estéril povoado de medos, deste silêncio de onde não saem mais do que monossílabos existenciais e hesitações gramaticais. A inveja é uma coisa muito feia, mas a verdade é que estou cansada de estar sentada nesta cadeira de mutismo em que vivo e que escondo atrás das cambalhotas e saltos mortais que os outros vêem mas que não passam de uma encenação que não me larga, que não deixo que me largue, que se calhar não quero largar, uma encenação que me torna aos olhos de todos uma pessoa normal com uma vida normal, uma encenação que é talvez a minha mais grandiosa vitória.

4 comentários:

Anónimo disse...

e se soltasses as palavras, para onde iriam elas?

Anónimo disse...

não está sozinha...
aliás, melhor, que sempre vai escrevendo qualquer coisa sobre isso
*

Anónimo disse...

ai que bom ler esta minha múltipla. (desculpa lá este cházinho na caixa de comentários, mas é o que se arranja ;))

Há a inveja da má e da boa, como bem nos ensinou uma das múltiplas. A da boa venha ela, a má que se destile que não queremos nada com isso.

dizia ela baixinho disse...

belas estas palavras desencarceradas, múltipla.