Fui educada em cânones seguramente em desuso.
O respeito pelos mais velhos, que se traduzia em levantar para os cumprimentar, deixar lugar para sentar, ser servido depois deles à mesa, esperar a minha vez para falar.
Os lugares para grávidas, deficientes e portadores de crianças de colo eram deixados livres para essas pessoas, e mesmo assim estando sentado noutro lugar prontamente se deixava o sítio mais cómodo, num sentido de civismo profundo de aumentar (ou pelo menos não diminuir) a qualidade de vida dos outros.
Também os sinais de cavalheirismo eram observados, não vendo nisso qualquer sinal de machismo mas sim de simpatia. Cada menina ou senhora era tratada como uma princesa: deixava-se passar à frente, abria-se primeiro a porta do carro, ajudava-se a pôr o casaco, levantar quando uma senhora entra e não se senta enquanto houver uma de pé, não começar a comer enquanto toda a gente não for servida.
A dona de uma casa ao receber convidados não fechava os seus talheres enquanto houvesse mais alguém a comer, para que todos pudessem comer ao seu ritmo sem serem pressionados. E evidentemente não se levantava qualquer prato enquanto alguém ainda estivesse no seu repasto.
Hoje sinto-me como se fosse o Buck Rogers, e tivesse aterrado de repente vinda de um passado longínquo. Quase ninguém segue ou parece conhecer as regras que me foram incutidas desde criança, tratam-me como se eu fosse um bicho raro quando não começo logo a comer mal tenho comida no prato e pensam que eu quero comer mais se não fecho os meus talheres. Acham que eu sou uma tansa por deixar o melhor lugar aos mais velhos ou às grávidas, porque a regra parece ser a do salve-se quem puder. E os empregados de mesa odeiam-me porque não os deixo despachar serviço enquanto há gente a comer na minha mesa.
Não tenciono abdicar da minha educação, incutida com tanto suor pela minha mãe. Tenho dificuldade em entender o mecanismo das pessoas que não fazem o mesmo aos seus filhos - o respeito pelos outros é tão importante como reciclar vidro o papel, mas estes é que estão na moda. Vá-se lá perceber porquê.
6 comentários:
Este post é um verdadeiro serviço público, um workshop instantâneo de etiqueta e boas maneiras. Quantas pessoas terão descoberto um maravilhoso mundo novo? Obrigada.
é a paula bobone que há em mim ;)
é verdade que o respeito pelos outros é fundamental para vivermos melhor, há regras verdadeiramente importantes como a de respeitar os mais velhos, as mulheres grávidas, as pessoas com dificuldades fisicas, etc, outras mais prescindiveis que fazem parte da etiqueta, que nos ajudam a dar sinais de cordialidade uns aos outros mas que são mais dispensáveis e perdoáveis, como o da "dona da casa"(?) fechar ou abrir os talheres.
Quanto ao cavalheirismo é bonito sim senhora, mas também foi fundado numa altura em que os homens tinham uma posição de protecção frente às mulheres, porque não agora deixarmo-nos de cavalheirismo ou damismos e abrirmos a porta aos homens para passarem primeiro quando nos apetecer?
Amiga sete e picos, não me parece que o cavalheirismo implique a ideia de que as mulheres são seres indefesos que precisam da protecção e indulgência paternal dos homens. O homem que cumpre os pequenos gestos mencionados no post não é forçosamente um machista antiquado; é apenas um homem bem educado.
Claro que podemos sempre questionar a pertinência e validade das regras de boa educação, relativizá-las através da comparação com outras latitudes ou acusar quem as segue de ismos diversos.
Na minha provecta antiguidade, agarrada à bengala digo que o cavalheirismo é ainda e sempre uma atitude muito recomendável.
subscrevo inteiramente na prise és bestial. mas também abro a porta aos homens, se se der o caso. gosto do protocolo mas também de subverter/inverter as regras.
Bravo! Li uns na diagonal, outros inteiros e postei neste. Já está nos favoritos!
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