Quando era pequena as viagens de carro eram intermináveis. Primeiro porque os meus pais tinham um mini e depois porque as estradas eram uma desgraça. Ir de Lisboa a Sintra demorava 1h, até Albufeira umas 4h.
Mal passávamos a ponte 25 de Abril eu e a minha irmã dizíamos a primeira de muitas repetições "falta muito?". Os meus pais lá nos iam pondo a cantar, a fazer o concurso das matrículas, a jogar ao sisudo uma com a outra. Mas sabíamos que quando vissemos o homem do sandman no alto da serra era porque estávamos mesmo a chegar, seguido do painel de azulejos da schweppes com a chaminé algarvia.
Acho que é por isso que gosto tanto daquela imagem do homem grande de capa preta a quem não se vê a cara. Quer dizer que estamos mesmo mesmo a chegar, seja lá onde for.
Mal passávamos a ponte 25 de Abril eu e a minha irmã dizíamos a primeira de muitas repetições "falta muito?". Os meus pais lá nos iam pondo a cantar, a fazer o concurso das matrículas, a jogar ao sisudo uma com a outra. Mas sabíamos que quando vissemos o homem do sandman no alto da serra era porque estávamos mesmo a chegar, seguido do painel de azulejos da schweppes com a chaminé algarvia.
Acho que é por isso que gosto tanto daquela imagem do homem grande de capa preta a quem não se vê a cara. Quer dizer que estamos mesmo mesmo a chegar, seja lá onde for.
13 comentários:
e muita sorte tinhas tu, o meu pai guiava tão lento que demoravamos pelos menos 8 a chegar ao algarve. A primeira vez que resolvemos ir todos em excursão para estrear o primeiro carro da familia, um datsun 120, saímos às 8 da manhã e chagámos ás 11 da noite. os meus irmãos e eu dormimos e voltámos a dormir e tenho a impressão de ter visto a minha mãe com um varão grande qual gondoleira a ajudar o carro na sua marcha...ainda atropelámos um motociclista pelo caminho e o tivemos de ir levar ao hospital. Inesquecível essa viagem..
grande posta, obrigada pela recordação de infância..o grande homem do sandman..que bom lembrar-me dele directo ao Alentejo no carro com os meus avós...
Já o caso do meu pai era diferente, ele guiava tão rápido que chegávamos a todo o lado em metade do tempo o que ouvia mais era a minha mãe a gritar "mais devagarrrr!"
não dava para dormir mas lá que me ria, ria.
e os insistentes pedidos para parar para fazer chichi, cortados com "não páro se for para fazeres uma pinguinha, aguenta-te!!"?
e quando se conseguia finalmente que parassem, o número de baixar as cuecas, encolher as pernas e ter um dos progenitores a pendurar-nos pelos joelhos para não molharmos os tornozelos?
Ou quando já éramos responsáveis por fazer sozinhas, acocorarmo-nos em equilibrio instável, com os pés bem separados e ver escorrer um trilho de nós pela terra abaixo, o enorme alívio decorrente justificando a paragem indesejada.
IAAA, os xixis!! fizes-te-me lembrar que quando era míuda nunca conseguia fazer xixi nessas condições sem molhar também as pernas e/ou os sapatos. E da minha mãe me ensinar que NUNCA me poderia sentar numa casa de banho pública pois podem-se apanhar doenças. isto o sandeman dá para muitas recordações...
e ir no banco de trás, onde nem existia cinto de segurança, de joelhos, virada para o vidro de trás do carro a dizer adeus aos outros?
e ouvir as mesmas cassetes vezes sem conta, até ficarem com a fita presa no leitor, que se rompia se se puxasse com demasiada força?
e antes dessas, usar aquelas cassetes de cartucho, do tamanho dos actuais VHS?
ou ter de rodar o botão para procurar estações de rádio, com imenso ruído zip zap boing no meio?
pois estamos mesmo a chegar aquele sitio que há anos permanece inalterado, cristalizado... como que flutua á frente dos nossos olhos, quando os fechamos num sorriso doce e ao longe vem uma gritaria alegre.
e hoje não me apetece sair daqui, não me apetece chegar, outra vez. sinto-me paralisado e quero desistir.
se quiseres desiste, mas não de ti próprio
e quem somos nós próprios senão um aglomerado de pedaços ligados a outros ? desistir é sempre perder-nos. hélas.
compreendo-o, mas olhe...(encolher de ombros)
Factóide inútil: a figura do homem da Sandman é inspirada na letra do fado "o Emboçado" onde assim vem descrito um tal incógnito que iria ouvir cantar envolto numa capa. O mesmo era D.Carlos I.
nesse caso, viva el-rei don carlos I !!
notem bem que hoje não fica ninguém emboçado neste blog!
(obrigado dorean; que eu saiba a lenda era um pouco mais complexa que o rei ir cantar, ele ia era laurear a pevide. Havia um ponto da estrada em que ele tirava o capuz, dizia-se que o rei perdia a vergonha nos paços)
eram os chamados "paços perdidos" (esta foi mesmo boa, não?).
Enviar um comentário