09 outubro 2006

De mim para mim

Querida múltipla, não posso estar de acordo contigo, eu sou uma institucionalista nata. Acredito que é bom que existam comissões de defesa de direitos sejam eles das mulheres, dos homens ou dos animais abandonados; acredito que o Estado tem (e deve ter) um poder regulador da sociedade e além disso, acredito também no nosso poder enquanto consumidores/as. Para mim, o nosso maior papel enquanto cidadãs/ãos é fazer com que as instâncias políticas públicas e privadas funcionem como devem e enquanto consumidores talvez seja travar os abusos das empresas económicas. E com isso não excluo o poder individual que cada uma e cada um de nós tem para mudar, ou para contribuir para a mudança do mundo e das mentalidades. Mas esse poder individual não tem necessariamente que se circunscrever aos grupos da família, amigos, etc, também necessita passar para o Estado, para as empresas.

Os hipermercados aproveitam-se de uma série de preconceitos existentes e reproduzem-nos, muitas vezes contra os consumidores e contra si próprios. Ninguém retira benefícios das desigualdades existentes entre homens e mulheres. Por que não hão os homens poder usar a esfregona e o balde e usarem cabelos compridos e gostarem de dançar e de se arranjar e de não ser violentos? E por que é que as mulheres têm de assumir perante a sociedade o cuidado dos filhos/as e da casa e trabalhar fora de casa com sentimento de culpa?

Provavelmente a directora da campanha, ou o director, ou mesmo toda a equipa não se aperceberam da importância que tem para a nossa sociedade continuar a reproduzir estereótipos(ou idealtipos) que já não nos servem e que não queremos, pois não contribuem para a nossa felicidade (seja lá esta aquilo que for). Não me custa acreditar que as pessoas da campanha do Feira Nova, achem que sempre foi assim e que assim é que está bem, esta questão de repensar as nossas formas de ser homens e ser mulheres é um processo que leva muito tempo e não é preto no branco, mexe com muitas coisas estruturais em nós. Por isso tanto mulheres como homens terminamos reproduzindo aquilo que não queremos, tanto por acção como por omissão. (os homens também têm um papel na educação dos filhos, já seja activo ou ausente)

De qualquer forma, às vezes apetece-me gritar O REI VAI NU, pois de facto vai!

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