12 outubro 2006

E a guerra aqui tão perto

Se tivesse sido Portugal o país invadido, muitos dos nossos filhos, amigos, irmãos, companheiros ou colegas poderiam estar agora a engrossar estas estatísticas.

9 comentários:

Anónimo disse...

E se tivesse sido Portugal o país invadido por 655 mil iraquianos?
Portugal que claro está, existe neste formato e com as fronteiras assim deleniadas à custa de milhares e milhares de mortos também...e quem fala de Portugal fala do mundo todo...
Somos todos iguais, dois homens, uma guerra... é a lei humana. O lirismo não tem peso aqui, é irrelevante contra a força da natureza...
Eu quando era miúda também papava a teoria dos filmes do farwest que punha os cowboys do lado dos bons e os índios do lado dos maus até a minha mãe me explicar que aquilo não era bem assim..e de facto não é nem nunca foi pois não?

Anónimo disse...

delineadas..scusi..

8 e coisa 9 e tal disse...

É verdade, Portugal passou por muitas guerras, mas também por muitas tentativas de paz e foram essas que prevaleceram e fizeram com que hoje tenhamos um sistema que nos permite relacionarmos de outras formas diferentes à agressão e submissão do outro, ainda que continuem a haver desigualdades e injustiça. Mas não vivemos em guerra, e acredita, isso é muito bom. Quando há guerra, olhas nos olhos de um soldado e só consegues ver vazio, cegueira e ódio, estes soldados, a maior parte deles jovens, muito jovens, são mesmo carne para canhão, são aqueles que entram para os grupos armados para sobreviver à pobreza e que morrem enquanto outros estão nos bastidores a planear a guerra como se de um video game se tratasse.
E se vires a família, os amigos e os vizinhos de uma das muitas pessoas que são mortas com uma bala no meio da testa, ou destroçadas por um rocket, só consegues ver dor, uma imensa dor e uma impotência tremenda. As guerras legitimam o poder de matar, tudo, todos, os fardados e os civis, tudo o que seja o outro que é inimigo. Na guerra sim existem os bons e os maus, uma explicação básica e primária do mundo que autoriza a aniquilar o outro ainda que seja utilizando armas ilegais que afectam gerações inteiras do lado do que se chama Inimigo.
Mas se fosse de facto uma força da natureza a apetência para a guerra, quase como uma determinação genética da espécie humana, como é que se explicaria que nem todos os povos utilizem a guerra como meio de relação, internamente e/ou com os seus vizinhos? Como se explicaria as sucessivas transições de diversos países, em particular europeus, para sistemas ideológicos que privilegiam a não violência e a não agressão? Como se explicaria que as mulheres vão menos à guerra que os homens e que cada vez mais homens defendem a não violência?
A natureza humana, se existe, não é imutável, e para mudá-la (tem sido) é de facto preciso de deixar de acreditar que o mundo se divide em bons e maus, como a tua mãe muito bem te explicou, e acreditar que temos capacidade para fazer melhor.
Se isso é lirismo, então levemos a poesia para o meio da rua.

PS: quanto aos erros ortográficos, estás à vontade, quem tem telhados de vidro não atira pedras à vizinha.

Anónimo disse...

Acredito piamente nesse discurso, carissíma múltipla, mas só em teoria, na prática, nicles.
uma grande parte dos soldados seguem de bom grado para a guerra em defesa do seu país..cegos sim..pela guerra psicológca que o seu governo criou habilmente para os fazer acreditar ser essa a decisão certa...e não há ódio nenhum nos olhos deles..parece que sim mas não há..o que há é medo... só medo e terror....
Quanto às suas familias, muitas delas decidiam a favor da ida dos filhos para a guerra com medo da pressão social da vizinhança..não queriam um filho "traidor" à pátria em casa.
As guerras não legitimam o poder de matar..quem legitima o poder de matar são os senhores que decidem a guerra em nome de qualquer coisa que naquele momento lhes é vantajoso adquirir ou conquistar..
Em relação a haverem países que não escolhem essa via, bom, são países que não possuem poder bélico e logístico suficiente para poder exercer pressão sobre outros..é-lhes mais vantajoso seguir a corrente ou permanecerem simplesmente neutros.
As mulheres desde sempre foram menos à guerra que os homens porque eram necessárias para a manutenção da economia quando os homens partiam e os homens cada vez escolhem mais a não violência porque socialmente já sofrem menos pressão para provar a sua masculinidade...
De resto as guerras não vão tender nunca a minimizar e no dia em que a Europa se tornasse realmente numa potência única sentiriamos certamente o seu poder bélico e opressivo a florescer...os sistemas ideológicos são meras paredes que criam a ilusão da ordem e da segurança..as paredes caem...já cairam todas e vão voltar a cair...a guerra não desaparece, a tendência é de facto para que se torne é menos visual, mais escassa de efeitos especiais em prol da subtileza e da carga psicológica.
Para finalizar, se a história nos ensinou de facto algo foi mesmo que a natureza humana é tudo menos mutável, o que é mutável são as estruturas, os sistemas, as regras e as leis sob as quais ela se rege e as quais cria como um bem necessário para poder evoluir dentro dos mesmos sistemas que criou.
Porque na sua essência, o homem permanece o mesmo, igual e imutável. O mesmo guerreiro nato que através das prodigiosas capacidades mentais conquistou a pouco e pouco o planeta todo só para si.
Não esquecer as guerras não televisionadas, não esquecer as milhares de espécies, que acredita são mais de 655 mil, que já foram exterminadas por nós e que mereciam os mesmos direitos a viver e a povoar...ou só estamos a falar de guerras entre a nossa espécie?
Não esquecer que a natureza não está só em nós....bem gostaria que não fossemos mutáveis nesse aspecto... talvez esquecessemos menos o nosso próprio umbigo.

So para rematar, um pequeno fait divers, o senhor Nixon assistiu sentado ao lado de spielberg à estrondosa ante-estreia que foi "E.T. - o Extra-terrestre". Nos momentos finais do filme, Nixon virou-se para o realizador e disse-lhe baixinho : "Não existem nesta sala nem sequer uma dúzia de pessoas que tenham consciência do quanto isto é uma realidade..".

Anónimo disse...

Na minha singela opiniao quer me parecer que quem mata nao é quem dispara a arma mas sim quem as fabrica e nos obriga atravês de injecçoes de medo constantes a ver inimigos em todo o lado sobretudo do lado de lá. Essa guerra interior surda e viral é que nos cega e nos abstrai da verdadeira questão que no meu entender é fulcral. Nao é necessário odiar para estarmos em guerra , basta acordar e olhar para o mundo para perceber que no fundo o Homem esta em guerra consigo próprio. O seu avanço ao longo da História sempre esteve dependente dos conflitos bélicos. Como é que é; Deus escreve direito por linhas tortas? Mas afinal Who guards the Guardians ?

8 e coisa 9 e tal disse...

A questão da guerra e da não violência, das causas que explicam a guerra, é de facto uma questão complexa, não é pão, pão, queijo, queijo,como o choffer e a/o anonima/o também o demonstraram. Esta discussão daria panos para mangas, não para chegarmos a nenhum lugar de certeza mas para podermos expor e partilhar as nossas certezas sempre mutáveis. Desculpem a desordem mas vou só comentar algum dos pontos dos comentários me foram sugerindo.

“se a história nos ensinou de facto algo foi mesmo que a natureza humana é tudo menos mutável, o que é mutável são as estruturas, os sistemas, as regras e as leis sob as quais ela se rege e as quais cria como um bem necessário para poder evoluir dentro dos mesmos sistemas que criou.” Não posso estar de acordo, não consigo dissociar as estruturas, as regras, as leis, das pessoas que os fazem, pessoas essas que vão sendo diferentes de época para época, por isso é que só até 1948 tivemos a convenção dos direitos humanos e só há menos de meia dúzia de anos foi formado o tribunal penal internacional. As estruturas e os sistemas não caem do céu, são feitos pelos seres humanos, são feitos de formas diferentes de país para país e são mudados, adequados às mentalidades vigentes, nem sempre da forma como muitos de nós desejariamos mas é o que vai sendo possível. Não é nenhuma força da natureza, genética, imutável, são os seres humanos, condicionados pelos seus contextos sociais, políticos e económicos que vão fazendo as mudanças.

Agora, a guerra é de facto uma ideologia instalada no sistema dominante, legitima-se a guerra e a violência, e da paz quase nada se ouve falar, é coisa de subversivos, de freaks, ou neohippies. As iniciativas pela paz não tem tempo de antena nos grandes media, mas não é por causa disso que elas deixam de existir. E em muitos países em guerra ainda mais.

As guerras são muitas e diversas, numa das que eu estive mais perto, o conflito interno da Colômbia, não havia nenhum orgulho em ter um filho a servir num grupo armado, ao contrário, por vezes havia famílias que tinham um filho nos paramilitares, outro na guerrilha e outro no exército nacional, e nunca se podiam encontrar todos, sobre pena de pôr todos os membros da família em risco de morte. E vi ódio, ódio mesmo, ódio cego a tudo aquilo que era o outro e à própria vida que levavam. Também na nossa guerra colonial, nem todas as famílias tinham orgulho em ter um filho a servir a pátria, muitas ajudaram-nos a passar a fronteira e a buscar exílio noutro país. Mas também dessas não reza a história, a nossa história tão filtrada e escrita à luz de demasiados interesses opostos a dinâmicas de paz.

Sobre a questão de saber quem é que de facto mata que lançou a anónima eu diria que quem mata são os soldados, são eles que disparam as armas, mas também são, como é óbvio, e esses são os principais responsáveis, os grandes poderes que as engendram no conforto dos seus gabinetes. E também somos nós, quando não controlamos os poderes que nos governam, pois também não nos podemos demitir da nossa capacidade individual. Como dizem os Molotov, grupo de rock mexicano, “cuanto más poder le dieres al poder, más duro te van a venir a joder”.

8 e coisa 9 e tal disse...

errata, onde se lê molotov deve ler-se control machete.

Anónimo disse...

Eu por acaso considero-me subversiva, freak, neohippie, por vezes parva e até tenho uma amiga que diz que sou fã da corrente nihilista. Et lasse, não saíamos mais daqui com esta discussão, tenho todo o respeito pela tua opinião e até admiração senão alguma inveja pelo óbvio optimismo cara colega blogger.
Venha de lá esse cocktail Molotov que Control machete não fica aqui bem.

8 e coisa 9 e tal disse...

querida multipla, já somos duas, eu também me considero uma neohippie, e há quem diga que o meu optimismo roça o ingénuo, coisa com a qual eu estou totalmente em desacordo, optimismo, optimismo, ingenuidades à parte... E que tal lançarmos um coktail molotov com gás hilariante?