13 outubro 2006

Cavalo de Tróia

Vi-o da ameia mais alta. Achei que era demasiado bonito, e por isso tentei ignorar - quem é que o havia de ter deixado ali mesmo à mão de semear? Uma escultura assim tão especial havia de ter dono, não podia ser para mim.
Fiz de tudo para não olhar, porque sabia que ia querer ficar com ele. Mas continuava ali, em frente à muralha.
Um dia passei o portão e fui ver melhor. De perto era ainda mais bonito. Pensei que se olhar só mais um bocadinho não faz mal. Olhei de lado, de frente e de trás e voltei para dentro.
No dia seguinte espreitei lá para fora e ainda lá estava. Se calhar o dono já não o quer, se calhar é mesmo para mim. Se calhar posso trazê-lo para dentro, afinal está aqui mesmo à minha porta. Deve ser o destino, um presente dos deuses.
Não há de ser perigoso, afinal tenho muralhas altas e sólidas, se alguém o vier reclamar tenho modo de me proteger, pensei.
Não sei como foi possível que me esquecesse que os maiores perigos vêem de dentro.

3 comentários:

apicultor disse...

Ó traiçoeiro coração....

na prise és bestial disse...

É o que acontece às nesperas que ficam muito paradas

8 e coisa 9 e tal disse...

pois é, esta nêspera devia ter tirado umas férias, deixava a escultura apodrecer ao vento e à chuva, ou que voltasse para casa.

Todos sabemos como acabou a história de Tróia, os poucos sobreviventes tiveram de ir pregar para outra freguesia. E como eu gosto desta, é melhor que aprenda a viver em harmonia com ela.