Um novo significado para a alcunha pincel. Finalmente, o literal. Já merecia.
31 dezembro 2007
Párem as rotativas!
Um novo significado para a alcunha pincel. Finalmente, o literal. Já merecia.
30 dezembro 2007
28 dezembro 2007
pergunta que me atormenta desde as almôndegas do jantar
tropeção?
- Eu amo-te.
- Também.
- Mesmo?
- Mesmo.
- Amas-me como eu sou?
- Sim.
- Quanto?
- Muito.
- Não estás a mentir?
- Não.
- Mentira, o amor não se quantifica.
- Foda-se, eu sabia esta."
"Retrato de uma princesa desconhecida"
Para que os seus pulsos tivessem um quebrar de caule
Para que os seus olhos fossem tão frontais e limpos
Para que a sua espinha fosse tão direita
E ela usasse a cabeça tão erguida
Com uma tão simples claridade sobre a testa
Foram necessárias sucessivas gerações de escravos
De corpo dobrado e grossas mãos pacientes
Servindo sucessivas gerações de príncipes
Ainda um pouco toscos e grosseiros
Ávidos cruéis e fraudulentos
Foi um imenso desperdiçar de gente
Para que ela fosse aquela perfeição
Solitária exilada sem destino"
Sophia de Mello Breyner
OST extemporânea*
Não sei porquê, só hoje ficou disponível a música que carreguei de propósito para este momento. Já não me lembro do que escrevi na altura para justificar tamanha ingerência. Provavelmente que me comovem os casos/histórias de amor.
Into my Arms in The boatman´s call, Nick Cave & The Bad Seeds.
Descubra as teclas que faltam
Por exemplo, um esforço titânico para perceber o que queria eu dizer com "ola lá, estiveste com o velote oje?" "oza, oza , a de te calar a ti também".
O que eu queria
Estou zangada consigo pai, não quero que me faça isto. Não quero que esteja doente. Está a fingir não está, pai? Como quando eu era pequena e brincávamos no chão da sala, o pai fazia de conta que estava morto e eu fazia-lhe cócegas desajeitadas, o pai continuava de olhos vítreos até que de repente se levantava com um grito que me assustava e divertia, para recomeçarmos de novo.
Pare lá com isso pai, já chega. Passei a manhã toda a ler o jornal ao seu lado, não se passa nada estamos só a ler os jornais juntos, num quarto de hospital mas como se fosse numa sala de estar. O meu teatro, porra que já mereço um óscar. Estou bem, o pai está bem, estamos aqui mas podíamos estar na sala de estar, no fundo é a mesma coisa, até levo o computador para trabalhar e tudo, estamos ali os dois, só os dois, depois vêm as manas e estamos todos juntos, é bom.
Mas não é nada bom pai. Se não fica bem depressa não tenho quem tome conta de mim.
26 dezembro 2007
Nova filantropia
Do schools today kill creativity?
on all the crap I learned in highschool
it's a wonder
I can think at all
- Paul Simon, Kodachrome, 1973
Uma das minhas músicas preferidas de sempre, editada no ano em que nasci (deve ser fetiche), resume bem o que sempre me pareceu ter sido a educação que o país me deu. Depois de ver este vídeo (Do schools today kill creativity?) de um homem brilhante chamado Ken Robinson (não se deixem intimidar pelos 20 minutos, vale mesmo a pena e passam a correr), é impossível não se ficar tocado pela sua clareza e clarividência sobre a formatação de cabeças dos sistemas de ensino, em todo o mundo.
Durante a escola primária somos preparados para o ensino secundário, no secundário para os exames que hão de vir, para depois cumprirmos alegres a nossa missão de estudantes universitários. Todos à licenciatura, é para o menino e para a menina. E para quê?
Este ano entraram nas universidades e politécnicos portugueses 80% das pessoas que o desejavam. O ministro e o ministério congratularam-se imenso com estes números, a mim parecem-me apenas assustadores. Há demasiada gente a fazer formação superior. E digo demasiada porque o país e o mundo não precisa deles, mas todo o nosso sistema de ensino é direccionado para levar os meninos ao colo até essa paragem, a pressão social está desse lado. As pessoas perdidas emprenham pelos ouvidos, ninguém analisa criticamente esta realidade até porque não foram ensinadas nem estimuladas a tal. Não se pensa, não se questiona, não se critica. Faz-se, é-se, cumpre-se. Cumprem-se os requisitos mínimos. Isto sai para o exame? Não? Então não se estuda. Tenho de saber isto para passar na cadeira? Não? Então é acessório.
O ensino não forma ninguém, formata pessoas para que memorizem uma série de informação e que a saibam despejar tal-e-qual como a engoliram. Basta fazer a prova, mudar a maneira de se perguntar a mesma coisa e ninguém sabe responder. Como se em vez de português as questões estivessem em checo, numa língua desconhecida e indesejada.
Não é promovida a criatividade. Não são estimuladas as características pessoais dos alunos, quer-se que toda a gente saiba as coisas da mesma forma. Não querem ter alunos, querem laranjas normalizadas.
Claro que há excepções, em todos os pontos do ensino. Bato-me para que as excepções não tenham de ser cavaleiros românticos mas a bitola pela qual os demais se deveriam reger.
"If you are not prepared to be wrong you'll never come up with anything original", ouve-se no video. Não podia estar mais de acordo.
As múltiplas vão ao bingo
Encontrámos o que nos pareceu um restaurante simpático e acolhedor, com a dona-cozinheira-empregada de mesa à porta, a garantir-nos a qualidade da comida. Sentado ao nosso lado um branco deslavado com boina à banda atirava-se à sua cachupa com a voracidade de um puma esfaimado. Atrás de nós, dois franceses gozavam da very typical tasca em tranquilidade. Nós continuávamos nas imperiais.
Quando a comida chegou o desbotado de boina esquerdalha levanta-se e pega numa viola remendada à força de fita cola, e começa a brindar-nos com umas mornas desafinadas. No fim da música, como nós ignorávamos o homicídio qualificado e premeditado de que estávamos a ser testemunhas, o marido da cozinheira gerente-empregado de mesa-mestre de cerimónias, desata a aplaudir como um frenético e tivémos que lhe seguir o acto. Como de resto em todas as músicas, qual delas a mais interessante. Pedimos rapidamente a conta e fugimos dali, mas antes fomos presenteados com um cesto do pão forrado a papel de mesa, onde se exigia a contribuição para a música. Pensando que se pagássemos ele se calava obedecemos. Não funcionou.
Já na rua discutiamos onde ir. Dançamos, bebemos, cinema, a indecisão era total. De repente o bingo surgiu-nos como uma validíssima hipótese, algumas quase davam saltinhos de alegria, outros entristeciam-se com a sugestão. Malgrado estes últimos, fomos à procura de uma sorte melhor ali para os lados da avenida da república.
Entrámos, procurámos mesa, sentámo-nos. Tirámos o som dos telefones, pedimos um cartão para cada e esperámos o início da contagem das bolas. Treze, um três. Vinte e um, dois um. Cinquenta e sete, cinco sete. Linha, ouvimos. Estava correcta, mais alguma linha na sala? Seguimos para bingo.Vinte e dois, dois dois; sessenta e sete, seis sete; setenta e quatro, sete quatro. Oitenta e quatro, oito quatro. Começo a ouvir uma das múltiplas a repetir cinquenta e dois, cinquenta e dois, cinquenta e dois, mas continuo atenta ao meu cartão. Ela está nervosa, o ar podia-se cortar com uma faca. De repente oiço cinquenta e dois, cinco dois. A múltipla urla BINGO, eu e outra das múltiplas damos um grito histérico, os jogadores habituais olham-nos com desprezo. Recebemos um troféu monstruosamente fálico enquanto recolhem o seu cartão para verificar a veracidade da afirmação, quase que aposto que toda a gente da sala reza para que nos tenhamos enganado, mas não. Ao primeiro cartão fizémos bingo. A noite prometia.
Fizémos 6 rondas de cartões para cada um, tantas quantos éramos, mas nem uma linha mais para amostra. Como não queriamos perder a onda de sorte que estávamos convictos ter atingido, decidimos pedir um cartão para a mesa toda. 6 pessoas, número seis, debruçadas sobre a mesa redonda a olhar para o mesmo bocado de papel, nervosas de cada vez que saia um dos nossos. Mas havia sempre alguém a gritar pelo prémio antes de nós.
Tentámos várias táticas, de alguma forma teríamos de ganhar não apenas um novo bingo mas também o acumulado: o cartão a rodar de mão em mão, o cartão para uma mão de cada vez, os números anotados com riscos horizontais, oblíquos, cruzes ou bolas. Nada, a sorte tinha-nos abandonado, tinham razão os antigos ao cantarem laudes aos principiantes. Provámos que no bingo não há lugar para mourinhos.
Deixámos o recinto, sem acumulado mas com um prémio. O primeiro. O dos pardais. O bingo é nosso.
24 dezembro 2007
Previsão de final de ano
23 dezembro 2007
o fim do ano é uma altura óptima para se continuar a fazer exactamente o que já se estava a fazer antes
Vinhas à procura do sofá conhecido.
Mas eu levantei-me e comigo levei as minhas ancas plataforma para longe do teu olhar que eu sabia seguir-me.
Cada passo uma projecção.
Cada passo uma rejeição.
Forte, óbvia e (nada) absoluta.
As minhas pernas estão cada vez mais rijas.
Isso dá-me uma espécie de ascendente, não é?
Enquanto fumavas o teu cigarro incrédulo começaste a crer, devagarinho.
Mas tu e ambos sabemos que se te escrevo isto hoje é porque ainda aqui estás.
Isso, as minhas rijas pernas não torneam. Isso é pedra assente.
Entraste-me na infância do amor. É a pior altura.
És monstro grande e forte, altas montanhas de alces de barriga aberta e vibrante vermelha a correr.
Confundimo-nos tanto tempo que agora me faltam bocados.
Cada impulso na tua direcção é cada vez mais forte.
E então? Eu também viajo dentro de ti, numa estrela fugaz na tua memória, feita para desaparecer?
Ainda existe o telhado de terra com restos de cidade onde disseste para sempre comigo?
Mas olha: Eu já não sou essa.
22 dezembro 2007
Dia de Natal
Lá para o Norte é melhor:
Há a neve que faz mal
E o frio que ainda é pior.
E toda a gente é contente
Porque é dia de o ficar
Chove no Natal presente
Antes isso que nevar.
Pois apesar de ser esse
O Natal da convenção
Quando o corpo me arrefece
Tenho o frio e Natal não.
Deixo sentir a quem quadra
E o Natal a quem o fez,
Pois se escrevo ainda outra quadra
fico gelado dos pés.
Fernando Pessoa
Pondo de parte as contradições, partilho com o autor o horror ao frio, à neve, aos pés gelados, tão inevitáveis nesta quadra. E adoro este Fernando quase ingénuo, infantil. BOM NATAL|
21 dezembro 2007
Sexo, mentiras e telemóveis
Saladas não estava preparada para isto. Argentina não estava preparada para isto. O mundo inteiro abre a boca de espanto.
Sex makes the world go round.
(descobri um blog onde se publicaram as fotografias do chofer a dançar com as professoras. recuso-me a divulgá-lo para não contribuir para a já demasiado extensa devassa da privacidade dessas mulheres.)
20 dezembro 2007
corpo têxtil
Cá dentro no meu covil enfeitado é sempre demasiado tarde para o que eu quero e demasiado cedo para o que os outros querem de mim. Ou ao contrário.
Nasci com cem anos e vou tendo cada vez menos. Por este andar vou chegar ao zero e depois não sei como é que vai ser.
Os meus demónios têm cara de relógio e corpos de sangue frio. Primeiro rastejam no soalho e depois amarinham pelas minhas pernas e cravam-se nos meus joelhos dez vezes por cada minuto que já passou.
Assim, trago o tempo à mostra e não há roupa que o tape.
A sua cadência escorre pelos buracos têxteis. Trago o tempo à vista nos olhos e nos dentes.
Ganho créditos para a máquina mas gasto-os logo. Rapidamente é tarde de mais.
Vejo o tempo nos meus amigos e nos filhos deles.
Vejo o tempo nos meus pais e avós, nos dos outros e no autocarro.
Não é bom de se ver. A mim dói-me.
Vejo todos os meus minutos nas mãos e na pele deles. Como transparências sobrepostas, eles têm as minhas horas coladas às deles com amor. E levam-nos daqui para ali quando viajam e quando já não nos vemos.
Como polvos depois da pesca, transportamos nos baldes o tempo uns dos outros às costas.
Em mútuo festejo e invasão sugamos os dias uns aos outros. Por amor e por falta.
quote of the day
Palavras sábias da Dona Capitolina
Quero lá saber, Portugal é maior e também deve!
19 dezembro 2007
Tenho
Parabéns para mim!
18 dezembro 2007
Um mês e pêras
e, claro, uma bossa nova. Para dançar.
João Gilberto e Caetano Veloso
17 dezembro 2007
Presente de natal*
Em alternativa, e em noites de céu estrelado, podes sempre tentar localizar a estrela polar. Ela indica-te o norte (se estiveres no hemisfério norte, claro).
desnortear
fazer perder o norte, o rumo;
desorientar;
fig.,
perturbar;
embaraçar;
v. refl.,
desorientar-se;
perder o rumo.
in priberam.pt
16 dezembro 2007
Hoje até cantava com eles
... and a partridge in a pear tree!
(John Denver & The Muppets)
Novo aviso à navegação
Peço aos seguintes amigos/companheiros da blogoesfera que divulguem o estudo nos respectivos blogues, se assim o entenderem. Deixo o 'recado' a:
10 feet under
100 nada
20 centímetros
31 armada
azinhaga da cidade
câmara clara
cibertúlia
fishspeaker
ma-schamba
o mundo perfeito
prèlude à l'après midi d'un faune
respirar o mesmo ar
sem-se-ver
tangências
tubus eternus
uma aventura tão grande como a vida
verdade ou consequência
womenage à trois
Da(s) sexualidade(s)
In collaboration with his partner, Sheree Rose, Bob Flanagan's performances combined text, video, and live performance in an exploration of sex, illness, and mortality. BOB FLANAGAN succumbed to cystic fibrosis on January 4, 1996.
Texto aqui.
(Visto no blogue A Perfect Sonnet, um vídeo + texto a propósito das preferências por práticas sado-masoquistas. Um texto que me surpreendeu e impressionou, pela crueza e sinceridade na explicação do que é/pode ser a pertença a um grupo considerado diferente/minoritário.)
Aproveitando a ocasião, a autora do blogue - Patrícia Pascoal - está neste momento a desenvolver um estudo sobre sexualidade, tendo disponibilizado, para tal, um inquérito online. Fica aqui o apelo à participação neste estudo. O inquérito está aqui (onde podem também obter mais informações sobre o estudo e respectiva autora).
14 dezembro 2007
Este ano nunca mais acaba
led Zeppelin
post colocado no blog ana de amsterdam
Pois é. Descobri aqui, no blog da Ana de Amsterdam que eu devo ser inequivocamente um homem, por sinal inferior. Sendo que gosto genuinamente dos Led Zeppelin há quase 20 anos e espantosamente, daqueles solos de guitarra "medonhos" que duram cinco minutos e aliás de toda a discografia desta banda que mudou a face do rock.
Esta senhora Ana, com todo o respeito, não percebe obviamente nada de música mas não tem culpa disso, claro. Simplesmente não é informada ou falta-lhe o ouvido. Porque não gostar é uma coisa, não ter capacidade para reconhecer o talento mesmo naquilo que não gostamos já é outra. É uma vergonha.
Bem, querelas à parte, as notícias fabulosas são que, os Led Zeppelin se voltaram a reunir para um concerto completo, pela primeira vez desde a morte do baterista John Bonham em 1980, para um concerto na Arena O2 em Londres, esta segunda feira e apresentaram de novo, para uma assistência de 18 mil sortudos e escolhidos a dedo, alguns dos clássicos que fizeram a história da música mudar ao longo de uma brilhante carreira de 12 anos. "Três dos mais inspiradores músicos da história da humanidade", Robert Plant, Jimmy Page e John Paul Jones, subiram ao palco londrino acompanhados pelo baterista Jason Bonham, filho de John Bonham, uma reunião há muito prometida aos fâs de todo o mundo.
9 milhões foi o número de fãs oriundos de 50 países, que concorreram ao aos 18 mil lugares disponíveis na arena O2 para assistir a este concerto cujos lucros vão reverter para a fundação para a educação Ahmet Ertegun, co-fundador da editora Atlantic, uma organização que fornece bolsas de estudo a músicos.
Entre as personalidades ligadas à música que marcaram presença no concerto, foi possível reconhecer por entre o público, Paul MacCartney, Davis Gilmour e Dave Grohl.
Espera-se agora uma tourneé mundial.
Pelo menos eu, mulher assumida e genuína fã de Led Zeppelin, espero.
Aqui fica Since I've been loving you... para os fãs que por aqui passarem e para quem quiser conhecer...
13 dezembro 2007
instantâneo
just give me sex whenever I want it
'cause all I ask for is instant pleasure
instant pleasure, instant pleasure
Rufus Wainwright, Instant pleasure
12 dezembro 2007
Asneiras precisam-se
Mas ultimamente ando com um problema de expressão, com uma dificuldade no linguajar asneirento. Por um lado, agora convivo mais com crianças e com elas mas principalmente com a minha filha, obrigo-me com esforço a controlar a minha língua de prata, para que ela depois não comece a repetir tudo e a dizer que a mãe dela diz por isso ela também pode. Além disso, é melhor que ela primeiro aprenda que há espaços onde não pode dizer asneiras, para que depois mais tarde possa construir os seus próprios espaços de asneirar.
Por isso tenho de enriquecer o meu merdaculário, agradeço imenso se alguém tiver sugestões para poder continuar a disfrutar destes meus lexotans orais e naturais, que o caneco, o caraças e o carôço já m’andam a desarranjar o sistema nervoso, são soft demais, não sabem a asneira!
p.em.p
Mistério das meias solitárias
A internet é boa. Dá-nos pretextos para não trabalhar, horas de pesquisas inúteis, conversas intermináveis, informações essenciais. Foi na internet que descobri a solução para o insondável mistério das meias solitárias, aqueles bocados de tecido que guardo na esperança de um dia reencontrar o par desaparecido. Uma alma igualmente torturada fez a pergunta que me levou até à solução do mistério:
11 dezembro 2007
Feliz Natal
Tenho saudades dos meus amigos
(às vezes) Procura-se
Idade não interessa, profissão menos, sexo e orientação sexual indiferentes.
Respostas a esta caixa.
As conjugações do meu dia
Eu odeio-te;
Eu odeio-o/a;
Eu odeio-nos;
Eu odeio-vos;
Eu odeio-os.
ataque de fúria
Armo-me em grande educadora do automobilista português e descarrego a minha fúria em sinais de luzes, buzinadelas e sinalefas raivosas, seu ganda camelo vai mazé para a faixa da direita, caganda besta não sabe que se circula pela faixa da direita?
Mas o povo é sereno e sempre que regresso à auto-estrada dou por mim a espumar de fúria e a sonhar com o lexotanzinho que me trará de volta à normalidade.
10 dezembro 2007
e porque hoje fazem anos
Com excepção de todos os outros
Ainda há quem se acanhe
Com a pronúncia que tem
Mas com cinco letras apenas
Se escreve a palavra Manhe
Que é de todas a mais bela
Mais bela que o céu azul
E aqui tem mais letras
Do que no sul
Abel foi morto por Caim
Irmão nunca vi mais ruim
Trespassou Abel, que ao tombar Gritou "Mãe!"
A mãe, por sinal já defunta
Levantou-se mesmo assim
Disse para Caim
"Já não és meu filho Meu filho da mãe!"
A Democracia é também
Uma mãe mais doce que o mel
Só que às vezes Abel mata Caim
Caim mata Abel
Por aqui se prova, afinal
Que mãe afinal não há só uma
Só em Portugal
são mais do que as mães é isso, Mãe
A Democracia é o pior de todos os sistemas
Com excepção de todos os outros
Há muitos países que julgam
Que têm democracia,
inclusive às vezes, o nosso
Mas encha-se de justiça o fosso
E erga-se a liberdade ao meio
Que só de intenções
Está o inferno cheio
Não há justiça sem liberdade
E o vice-versa é também verdade
E essa é a luta, no fundo
Pelos direitos humanos no mundo
Sérgio Godinho: A Democracia
09 dezembro 2007
A revelação
Ithaka
hope your road is a long one,
full of adventure, full of discovery.
Laistrygonians, Cyclops,
angry Poseidon-don't be afraid of them:
you'll never find the things like that on your way
as long as you keep thoughts raised high,
as long as a rare excitement
stirs your spirit and your body.
Laistrygonians, Cyclops,
wild Poseidon-you won't encounter them
unless you bring them along inside your soul,
unless your soul sets them up in front of you.
Hope your road is a long one.
May there be many summer mornings when,
with what pleasure, what joy,
you enter harbors you're seeing for the first time;
may you stop at Phoenician trading stations
to buy fine things,
mother of pearl and coral, amber and ebony.
sensual perfume of every kind-
as many sensual perfumes as you can;
and may you visit many Egyptian cities
to learn and go on learning from their scholars.
Keep Ithaka always in your mind.
Arriving there is what you're destined for.
But don't hurry the journey at all.
Better if it lasts for years,
so you're old by the time you reach the island,
wealthy with all you've gained on the way,
not expecting Ithaka to make you rich.
Ithaka gave you the marvelous journey.
Without her you wouldn't have set out.
She has nothing left to give you now.
And if you find her poor, Ithaka won't have fooled you.
Wise as you will have become, so full of experience,
you'll have understood by then what these Ithakas mean.
Constantine P. Cavafy
07 dezembro 2007
Militarização da vida quotidiana (II)
Note to self
06 dezembro 2007
quando for grande
Quotes
"Jerry Seinfeld"
maravilhoso mundo num clix
05 dezembro 2007
04 dezembro 2007
Os bombeiros da Vidigueira
Um fogo deflagrou num Monte Alentejano.
Os bombeiros foram imediatamente chamados para extinguir as chamas. O fogo estava cada vez mais forte, e os bombeiros nao conseguiam dominar as chamas. A situação já estava a ficar fora de controlo, quando alguém sugeriu que se chamasse o grupo voluntário da Vidigueira.
Apesar de alguma dúvida quanto às capacidades e equipamento dos voluntários, seria mais uma forma de auxilio. E assim foi.
Os voluntários chegaram num camião velho, desgastado pelos anos e operações de combate. Passaram em grande
velocidade e dirigiram-se em linha recta para o centro do incêndio! Foram mesmo até ao centro das chamas e pararam.
Estupefacta a população assistiu a tudo. Os voluntários saltaram todos para fora do camião e começaram a pulverizar freneticamente em todos os sentidos. Como estavam mesmo no meio do fogo, as chamas dividiram-se, e restaram duas porções facilmente controláveis.
Impressionado com o trabalho dos voluntários da Vidigueira , o dono do monte respirou de alívio quando viu a sua herdade ser poupada à devastação das chamas. Na hora, pôs as mãos na algibeira e passou imediatamente um cheque de 5000 euros à corporação voluntária.
Um repórter do jornal local perguntou logo ao comandante dos bombeiros:
- "5000 euros! Já pensou o que vai fazer ao dinheiro?"
- "Penso que é óbvio, não é?" - responde o comandante a sacudir a cinza do capacete:
- "A primeira coisa que vamos fazer é arranjar a porra dos travões do camião!!!"
03 dezembro 2007
Vocês puxam por mim...
Mas, como eu sou uma querida, levam também com os Panjabi MC´s
A importância de se ter genérico
adeus português
vigora ainda o mais rigoroso amor
a luz dos ombros pura e a sombra
duma angústia já purificada
Não tu não podias ficar presa comigo
à roda em que apodreço
apodrecemos
a esta pata ensanguentada que vacila
quase medita
e avança mugindo pelo túnel
de uma velha dor
Não podias ficar nesta cadeira
onde passo o dia burocrático
o dia-a-dia da miséria
que sobe aos olhos vem às mãos
aos sorrisos
ao amor mal soletrado
à estupidez ao desespero sem boca
ao medo perfilado
à alegria sonâmbula à vírgula maníaca
do modo funcionário de viver
Não podias ficar nesta casa comigo
em trânsito mortal até ao dia sórdido
canino
policial
até ao dia que não vem da promessa
puríssima da madrugada
mas da miséria de uma noite gerada
por um dia igual
Não podias ficar presa comigo
à pequena dor que cada um de nós
traz docemente pela mão
a esta pequena dor à portuguesa
tão mansa quase vegetal
Mas tu não mereces esta cidade não mereces
esta roda de náusea em que giramos
até à idiotia
esta pequena morte
e o seu minucioso e porco ritual
esta nossa razão absurda de ser
Não tu és da cidade aventureira
da cidade onde o amor encontra as suas ruas
e o cemitério ardente
da sua morte
tu és da cidade onde vives por um fio
de puro acaso
onde morres ou vives não de asfixia
mas às mãos de uma aventura de um comércio puro
sem a moeda falsa do bem e do mal
Nesta curva tão terna e lancinante
que vai ser que já é o teu desaparecimento
digo-te adeus
e como um adolescente
tropeço de ternura
por ti
Alexandre O'Neill
02 dezembro 2007
01 dezembro 2007
Declaração de sanidade
Pois sim. Mas em vez de fado do marciano chama-se "Senhor Extraterrestre".
A prova? Faz-se já aqui ao lado:
30 novembro 2007
Let's be careful out there
É verdade que as séries de televisão estão na moda. Fazendo a arqueologia desse fenómeno, este vídeo - que aqui posto - contém o genérico daquela que foi a minha série de culto, de 81 a 87.
Ladies & Gentlemen: Hill Street Blues.
E, claro, let's be careful out there.
De greve
Uma Felicidade
...imensa! A de poder olhar este rio cor de chumbo, num domingo ensolarado de Outono.
Memórias vivas
Essa corridinha passageira, sufocante
Interditas-me.
A existência corre absoluta e parece não haver já qualquer imensidão nas palavras - nos actos infames...
Que pena cabeça-de-chuva, cabeça-de-Inverno...
Os feitiços vão-se, vêm, vindo-se lentamente...
Usar-nos-emos até quando?
29 novembro 2007
Crise do meio da meia idade
Há os que se safam, os que se vão safando e os que já não têm safa. Mas todos têm em comum o sufoco. E com o sufoco vem a necessidade de recordar os tempos mais leves que são, naturalmente, a adolescência e a infância. Os desenhos animados, as brincadeiras na rua, as festas de garagem, os pátios dos liceus, as roupas horrendas e a sensação de vitória de ter saído incólume de tudo isso. E a esperança de, agora, também poder sair incólume de tudo isto.
E o mercado – essa grande entidade – está atento! Daí a M80 (muito ao jeito do antigo RCP), as reedições do Planeta Agostini e dos DVD´s da Heidi, do Marco e do Conan, os livros em formato antigo e com os desenhos originais da Anita. Até as calças são outra vez justas até mais não, com aquela tira nojenta por baixo dos sapatos.
Com os primeiros sinais de chuva e do Inverno, neste mundo curioso que é a blogosfera começaram os sinais desse sufoco. Nas músicas postadas, nas referências antigas, na necessidade de fuga para outro lado, ainda que só por um bocado. Uma das que mais me fez rir foi a do pisangambom, que escondi muito bem debaixo da mesa dos sumos numa das minhas primeiras festas de adolescente. É que, como nota a Ritti, “a única geração de jeito é a que teve 15 anos em 1990. Quem sobreviveu, como eu, à adolescência com os cabelos cardados, enchumaços XXL, calças de ganga pelo tornozelo lavadas a pedra, é feito de outra matéria”, as outras que me perdoem!
May the force be with us!!
Privação de cafeína
28 novembro 2007
Yolanda Becerra
english and rice
27 novembro 2007
Medusa do dia*
*Esgotaram-se-me as alforrecas. Mas a medusa também é bonita e é da mesma classe das alforrecas. Mais coisa menos coisa.
As minhas aulas
"Som a l'añy 50 abans de Crist. Tota la Gál.lia és ocupada pels romans... Tota? No! Un llogaret del Nord habitat per gals indomables rebutja una i altra vegada ferotgement l'invassor. La vida doncs no és gens planera per als legionaris romans dels petits campaments de Babaòrum, Aquàrium, Laudànum i Petibònum...
Os dias e as palavras
Passo o dia a alinhar palavras. Primeiro, leio-as num idioma que não é o meu. Depois, descubro o sentido que poderão ter na minha língua materna. Olho as palavras, sinto-as, saboreio-as, sondo as suas várias possibilidades, tomo decisões. Volto atrás e apago tudo. Volto a alinhar palavras. On and on. Até achar que está bem (esse «estar bem» nunca chegou, diga-se).
Há muitos anos, não sabendo ainda que me esperaria este quotidiano de alinhar palavras, peguei num livro e resolvi transpô-lo para o meu primeiro idioma. Tomei a seguinte decisão: não consultar o dicionário. As palavras cujo significado não conhecesse teria de intuir. Resultou um caderno que até hoje não ouso abrir.
Hoje, gostava de lançar o seguinte desafio que, para ser levado às últimas consequências, tem que obedecer a essa regra primeira: não consultar o dicionário. Aceitam-se, pois, traduções de um excerto do poema de Auden à vossa escolha (ou do poema na íntegra, se para aí estiverem virados) . Take your time. Sem consultar o dicionário, claro. Googlar muito menos.
Lay your sleeping head, my love,
Human on my faithless arm;
Time and fevers burn away
Individual beauty from
Thoughtful children, and the grave
Proves the child ephemeral:
But in my arms till break of day
Let the living creature lie,
Mortal, guilty, but to me
The entirely beautiful.
Soul and body have no bounds:
To lovers as they lie upon
Her tolerant enchanted slope
In their ordinary swoon,
Grave the vision Venus sends
Of supernatural sympathy,
Universal love and hope;
While an abstract insight wakes
Among the glaciers and the rocks
The hermit's carnal ecstasy.
Certainty, fidelity
On the stroke of midnight pass
Like vibrations of a bell
And fashionable madmen raise
Their pedantic boring cry:
Every farthing of the cost,
All the dreaded cards foretell,
Shall be paid, but from this night
Not a whisper, not a thought,
Not a kiss nor look be lost.
Beauty, midnight, vision dies:
Let the winds of dawn that blow
Softly round your dreaming head
Such a day of welcome show
Eye and knocking heart may bless,
Find our mortal world enough;
Noons of dryness find you fed
By the involuntary powers,
Nights of insult let you pass
Watched by every human love.
Lullaby, W. H. Auden.26 novembro 2007
Fez um ano, está na hora
Grande é a poesia, a bondade e as danças
Pedido de desculpas
- mensagens de previsões para mim
- quero ver senas de sado masoquismo
no entanto, e à laia de redenção, vou tentar fazer um post sobre os temas todos, para memória futura.
Havia um ADN que tinha três patas, foi fazer chichi e caiu. No dia anterior tinha pensado nisso, e escreveu-o no seu diário: "cheira-me que amanhã ainda vou partir os cornos no chão quando for fazer uma mija no caminho para o citoplasma. às tantas ainda descubro que gosto". Fim.
Fotografia do dia II
Fotografia do dia
25 novembro 2007
Um pesadelo científico
- Isso mesmo que tu acabas de perceber.
- Não acredito! Porque é que esse espaço está vazio? Onde é que elas estão?!
- Não adianta, está feito.
- Não é verdade... Não é verdade!
- É verdade sim: deitei fora as 'Scientific American' que coleccionava há uma década.
Acordei em sobressalto e já não voltei a adormecer. Era um pesadelo, este diálogo com a minha irmã. O problema é que ela não desce a montanha, não larga os mosquitos nem a humidade peganhenta.
Por isso, não sei se isto era um sonho ou uma premonição, pelo simples facto de não lhe poder perguntar: quando eu estou a dormir ela está acordada e quando ela está acordada eu estou a dormir.
Don't come knocking
imagens aqui
Imperdível.
24 novembro 2007
o que se descobre
23 novembro 2007
Fotografia do dia
Departure day
Alforreca do dia
A lembrar os dias de luz clara e temperatura amena.
A lembrar a última vez que inspirei fundo e pensei 'estou em casa'.
A lembrar que as alforrecas não devem ser pisadas de forma alguma, perigo de alergia.
A lembrar que atrás de uma alforreca vem sempre outra.
A lembrar.
22 novembro 2007
21 novembro 2007
Divanavegações
Apesar de que tenho conhecido alguns académicos e académicas feministas ou dos gender studies bastante divertidos, e que sei que os feminismos e os estudos de género, enquanto correntes teóricas ou enquanto movimentos sociais, não existem no singular, são muito diversos, acho que comprendo o Pedro Mexia, não consigo afastar o preconceito que teima em mim sobre os académicos, sejam eles e elas de que área forem: gente chata que vive num mundo que se fecha numa bolha de palavras e frases largas, pouco importadas em comunicar e partilhar o seu saber e encontrar traducções e aplicações deste no mundo fora da sua bolha. Isto não é verdade, eu sei. Mas o preconceito insiste em visitar-me.
ponto cruz
era outubro já é novembro quase dezembro
20 novembro 2007
É grave doutora?
Revendo outra vez o post e os seus comentários, em relação ao primeiro vector não encontro nenhuma possível indicação à peridiocidade ou frequência do acto sexual. Quanto ao segundo, faz-se referência ao prazer sentido com o corpo inteiro, incluindo, como é óbvio, a cabeça. O que poderia então levar a concluir que com quantas mais partes do corpo se sentir um climax sexual mais fodilhão/ona se é. Nesse caso haveria as pessoas fodilhinhas, fodilhãs ou fodilhonas.
Acordar em versão filipina
Ao longe parece-me que o carro estacionado à frente do meu está inclinado, que disparate. Ao chegar ao sítio vejo que está apoiado de um lado num macaco e que lhe levaram os 4 pneus. De repente um sorriso assalta-me o espírito: se se tivessem entusiasmado podiam ter feito o mesmo ao meu, o que me daria a desculpa ideal para não ir trabalhar! Chego mesmo a imaginar o telefonema de aviso, a minha vitimização, todos solidários comigo, claro com certeza. Envergonho-me em seguida desse pensamento torpe, já tenho idade para ter juízo.
Ao chegar à garagem da repartição dou de caras com um início de inundação, jorra água como se fosse o rio Jordão de uma saída de esgotos. Novo lapsus facial, vão ter de evacuar o edifício e mandar-nos a todos para casa, estou safa. Vou de imediato avisar quem de direito, cheia de esperança no corpo e na alma, mas dizem-me que o assunto vai ser tratado de imediato que não me preocupe.
Encolho os ombros, sinto-me um cruzamento de Felipe com o Calvin, com a agravante de me sentir do outro lado da barricada e de repente ter de dar razão à minha mãe. Ser adulto não tem assim tanta graça. Ainda não percebi se o pior é ter de cumprir obrigações ou descobrir que os pais têm mais razão que o crédito que sempre lhes demos. Duro golpe no ego.