31 dezembro 2007

Párem as rotativas!

Tim Patch de sua graça, Pricasso nome artístico, dá toda uma nova dimensão ao mundo do retrato a óleo. Há quem por necessidade aprenda a pintar com a boca ou com os dedos dos pés, mas este sul-africano sentiu a vocação chegar sem necessitar de perder qualquer dos membros superiores. É sem dúvida um estadio superior na arte de misturar tintas e obter resultados surpreendentes.


Para encomendas, mande uma fotografia mesmo por email, ele faz a pintura, filma a feitura (que dura aproximadamente 2o minutos), manda-lhe a tela e o DVD pela módica quantia de 150 euros mais transportes.



Um novo significado para a alcunha pincel. Finalmente, o literal. Já merecia.

30 dezembro 2007

Desejamos

a todos e todas que nos lêm e aos ursos polares em extinção:


28 dezembro 2007

pergunta que me atormenta desde as almôndegas do jantar

alguém sabe o que é feito da maria armanda, aquela deliciosa criança que esganiçava eu vi um sapo?

tropeção?

"Um pequeno passo para a mulher, um tropeção do c***** para o homem:



Há uma grande pressão no «eu amo-te». Depois do primeiro, é impossível fugir ao segundo. A partir daí, é um por dia, um por hora, um por minuto. Começa como necessidade fisiológica, termina como tique nervoso. E é preciso dizê-lo apaixonadamente. Sempre. Daí a pressão. É que há umas horas do dia em que estamos mais apaixonados do que outras.


- Eu amo-te.

- Também.

- Mesmo?

- Mesmo.

- Amas-me como eu sou?

- Sim.

- Quanto?

- Muito.

- Não estás a mentir?

- Não.

- Mentira, o amor não se quantifica.

- Foda-se, eu sabia esta."

"Retrato de uma princesa desconhecida"

"Para que ela tivesse um pescoço tão fino
Para que os seus pulsos tivessem um quebrar de caule
Para que os seus olhos fossem tão frontais e limpos
Para que a sua espinha fosse tão direita
E ela usasse a cabeça tão erguida
Com uma tão simples claridade sobre a testa
Foram necessárias sucessivas gerações de escravos
De corpo dobrado e grossas mãos pacientes
Servindo sucessivas gerações de príncipes
Ainda um pouco toscos e grosseiros
Ávidos cruéis e fraudulentos

Foi um imenso desperdiçar de gente
Para que ela fosse aquela perfeição
Solitária exilada sem destino"


Sophia de Mello Breyner

OST extemporânea*



* para este post.
Não sei porquê, só hoje ficou disponível a música que carreguei de propósito para este momento. Já não me lembro do que escrevi na altura para justificar tamanha ingerência. Provavelmente que me comovem os casos/histórias de amor.

Into my Arms in The boatman´s call, Nick Cave & The Bad Seeds.

Descubra as teclas que faltam

Uso um computador que não o meu; vou ao messener e de repente começo a notar que alumas teclas não funcionam, por mais que les carreue elas não querem saber. A comunicação com uma das múltiplas torna se ilariante. Descubro cada vez mais teclas que não cedem à mina fúria e necessidade de comunicação, incluindo o backspace que me obria a voltar atrás e fazer delete das letras que estão a mais.

Por exemplo, um esforço titânico para perceber o que queria eu dizer com "ola lá, estiveste com o velote oje?" "oza, oza , a de te calar a ti também".

A múltipla diz me para postar deste teclado, mas nem no bloer consio entrar, a password inclui uma das letras que não consio escrever. O que vale é que sou uma raparia de recursos, peço le que a escreva no msn para fazer copy paste. E assim aqui estou.

E vou me já embora porque estou a ficar atrofiada e cansada; às tantas é um pc pedaóico, quer-me demonstrar que aquilo que eu quero dizer nem sempre é o que os outros lêem. E assim, como que por milare uma das teclas começo a funcionar. Não á nada como abrir o livro de reclamações.

O que eu queria

O que eu queria mesmo é que o pai não estivesse doente, que não estivesse no hospital, que não tivesse tubos a entrar e sair por vários sítios, que se levantasse e se viesse embora comigo. Podemos ir ao circo, prometo que não vou ter medo dos palhaços, ou ao cinema, já não o obrigo a ver desenhos animados, ou ouvir cassetes no carro, não vou chamar piroso ao Roberto Carlos.

Estou zangada consigo pai, não quero que me faça isto. Não quero que esteja doente. Está a fingir não está, pai? Como quando eu era pequena e brincávamos no chão da sala, o pai fazia de conta que estava morto e eu fazia-lhe cócegas desajeitadas, o pai continuava de olhos vítreos até que de repente se levantava com um grito que me assustava e divertia, para recomeçarmos de novo.
Levante-se e dê um grito pai, eu assusto-me mas depois desato-me a rir, e saímos dali de mãos dadas e vamos comer um gelado ao Santini ou ver o mar sentados no muro de pedra ao lado dos baloiços, onde passou horas a empurrar-me "mais, mais" pedia-lhe sempre, até me ensinar a fazê-lo sozinha, com os pés bem fincados no chão atrás para o balanço inicial, e depois a aerodinâmica das pernas, a ilusão de que um dia faria a volta de 360º por cima da barra, basta que dê balanço suficiente.
Estou triste pai, estou farta disto, não quero mais, chega. A doença já me levou a mãe, o avô querido, a avó das torradas na cama, o avô que me levava a dar pão aos patos no parque eduardo VII, a tia que me tentou baptizar, o tio que se ria como o Egas da rua sésamo, a tia mais santa que já conheci. Foram tantos tantos tantos que a doença já me levou pai. Não quero mais doenças, não quero mais doentes, não quero mais hospitais nem médicos nem enfermeiras nem auxiliares nem remédios nem soros nem "comeu bem o almoço" nem "passou bem a noite" nem "hoje está bem disposto" e muito menos "ele hoje está mal disposto".

Pare lá com isso pai, já chega. Passei a manhã toda a ler o jornal ao seu lado, não se passa nada estamos só a ler os jornais juntos, num quarto de hospital mas como se fosse numa sala de estar. O meu teatro, porra que já mereço um óscar. Estou bem, o pai está bem, estamos aqui mas podíamos estar na sala de estar, no fundo é a mesma coisa, até levo o computador para trabalhar e tudo, estamos ali os dois, só os dois, depois vêm as manas e estamos todos juntos, é bom.

Mas não é nada bom pai. Se não fica bem depressa não tenho quem tome conta de mim.

26 dezembro 2007

Nova filantropia

A generosidade humana é grande. A generosidade humana não se esgota nas campanhas contra a fome em angola, os órfãos de guerra no darfur ou as vítimas de desastres naturais no outro lado do mundo. A generosidade humana é tão transbordante que tem ainda tempo para se preocupar com jovens mulheres que vivem atormentadas com a sua aparência física. Neste sítio podemos comover-nos com a criação de comunidades virtuais onde moçoilas saudáveis lançam fotografias e textos arrebatadores que mostram bem as dificuldades terríveis por que passam devido à ausência de volume mamário. Através do contacto com mecenas virtuais, estas mulheres conseguem angariar o dinheiro que lhes dará uma nova vida, sob a forma de implantes arredondados. Tal como tantas outras acções filantrópicas, descobrimos aqui o impacto que o envolvimento nesta louvável campanha tem nas vidas das beneficiárias.
Digam lá se não vivemos num admirável mundo novo.

Acordar do dia

Estou de volta.

Do schools today kill creativity?

When I think back
on all the crap I learned in highschool
it's a wonder
I can think at all

- Paul Simon, Kodachrome, 1973




Uma das minhas músicas preferidas de sempre, editada no ano em que nasci (deve ser fetiche), resume bem o que sempre me pareceu ter sido a educação que o país me deu. Depois de ver este vídeo (Do schools today kill creativity?) de um homem brilhante chamado Ken Robinson (não se deixem intimidar pelos 20 minutos, vale mesmo a pena e passam a correr), é impossível não se ficar tocado pela sua clareza e clarividência sobre a formatação de cabeças dos sistemas de ensino, em todo o mundo.

Durante a escola primária somos preparados para o ensino secundário, no secundário para os exames que hão de vir, para depois cumprirmos alegres a nossa missão de estudantes universitários. Todos à licenciatura, é para o menino e para a menina. E para quê?



Este ano entraram nas universidades e politécnicos portugueses 80% das pessoas que o desejavam. O ministro e o ministério congratularam-se imenso com estes números, a mim parecem-me apenas assustadores. Há demasiada gente a fazer formação superior. E digo demasiada porque o país e o mundo não precisa deles, mas todo o nosso sistema de ensino é direccionado para levar os meninos ao colo até essa paragem, a pressão social está desse lado. As pessoas perdidas emprenham pelos ouvidos, ninguém analisa criticamente esta realidade até porque não foram ensinadas nem estimuladas a tal. Não se pensa, não se questiona, não se critica. Faz-se, é-se, cumpre-se. Cumprem-se os requisitos mínimos. Isto sai para o exame? Não? Então não se estuda. Tenho de saber isto para passar na cadeira? Não? Então é acessório.


O ensino não forma ninguém, formata pessoas para que memorizem uma série de informação e que a saibam despejar tal-e-qual como a engoliram. Basta fazer a prova, mudar a maneira de se perguntar a mesma coisa e ninguém sabe responder. Como se em vez de português as questões estivessem em checo, numa língua desconhecida e indesejada.

Não é promovida a criatividade. Não são estimuladas as características pessoais dos alunos, quer-se que toda a gente saiba as coisas da mesma forma. Não querem ter alunos, querem laranjas normalizadas.




Claro que há excepções, em todos os pontos do ensino. Bato-me para que as excepções não tenham de ser cavaleiros românticos mas a bitola pela qual os demais se deveriam reger.




"If you are not prepared to be wrong you'll never come up with anything original", ouve-se no video. Não podia estar mais de acordo.

As múltiplas vão ao bingo

A noite entrou por nós adentro numa esplanada sobre a cidade, acompanhada de imperiais e caipirinhas. Estava-se bem entre amigos, procurámos um sítio para jantar que nos parecesse agradável para a continuação do serão.


Encontrámos o que nos pareceu um restaurante simpático e acolhedor, com a dona-cozinheira-empregada de mesa à porta, a garantir-nos a qualidade da comida. Sentado ao nosso lado um branco deslavado com boina à banda atirava-se à sua cachupa com a voracidade de um puma esfaimado. Atrás de nós, dois franceses gozavam da very typical tasca em tranquilidade. Nós continuávamos nas imperiais.


Quando a comida chegou o desbotado de boina esquerdalha levanta-se e pega numa viola remendada à força de fita cola, e começa a brindar-nos com umas mornas desafinadas. No fim da música, como nós ignorávamos o homicídio qualificado e premeditado de que estávamos a ser testemunhas, o marido da cozinheira gerente-empregado de mesa-mestre de cerimónias, desata a aplaudir como um frenético e tivémos que lhe seguir o acto. Como de resto em todas as músicas, qual delas a mais interessante. Pedimos rapidamente a conta e fugimos dali, mas antes fomos presenteados com um cesto do pão forrado a papel de mesa, onde se exigia a contribuição para a música. Pensando que se pagássemos ele se calava obedecemos. Não funcionou.


Já na rua discutiamos onde ir. Dançamos, bebemos, cinema, a indecisão era total. De repente o bingo surgiu-nos como uma validíssima hipótese, algumas quase davam saltinhos de alegria, outros entristeciam-se com a sugestão. Malgrado estes últimos, fomos à procura de uma sorte melhor ali para os lados da avenida da república.


Entrámos, procurámos mesa, sentámo-nos. Tirámos o som dos telefones, pedimos um cartão para cada e esperámos o início da contagem das bolas. Treze, um três. Vinte e um, dois um. Cinquenta e sete, cinco sete. Linha, ouvimos. Estava correcta, mais alguma linha na sala? Seguimos para bingo.Vinte e dois, dois dois; sessenta e sete, seis sete; setenta e quatro, sete quatro. Oitenta e quatro, oito quatro. Começo a ouvir uma das múltiplas a repetir cinquenta e dois, cinquenta e dois, cinquenta e dois, mas continuo atenta ao meu cartão. Ela está nervosa, o ar podia-se cortar com uma faca. De repente oiço cinquenta e dois, cinco dois. A múltipla urla BINGO, eu e outra das múltiplas damos um grito histérico, os jogadores habituais olham-nos com desprezo. Recebemos um troféu monstruosamente fálico enquanto recolhem o seu cartão para verificar a veracidade da afirmação, quase que aposto que toda a gente da sala reza para que nos tenhamos enganado, mas não. Ao primeiro cartão fizémos bingo. A noite prometia.


Fizémos 6 rondas de cartões para cada um, tantas quantos éramos, mas nem uma linha mais para amostra. Como não queriamos perder a onda de sorte que estávamos convictos ter atingido, decidimos pedir um cartão para a mesa toda. 6 pessoas, número seis, debruçadas sobre a mesa redonda a olhar para o mesmo bocado de papel, nervosas de cada vez que saia um dos nossos. Mas havia sempre alguém a gritar pelo prémio antes de nós.



Tentámos várias táticas, de alguma forma teríamos de ganhar não apenas um novo bingo mas também o acumulado: o cartão a rodar de mão em mão, o cartão para uma mão de cada vez, os números anotados com riscos horizontais, oblíquos, cruzes ou bolas. Nada, a sorte tinha-nos abandonado, tinham razão os antigos ao cantarem laudes aos principiantes. Provámos que no bingo não há lugar para mourinhos.


Deixámos o recinto, sem acumulado mas com um prémio. O primeiro. O dos pardais. O bingo é nosso.

(o prometido é devido)

24 dezembro 2007

Previsão de final de ano

Tenho fechado cá dentro um suspiro que não sai. Escondo-o tão fundo de mim que qualquer dia leio no jornal a notícia de um furacão de trazer por casa que arrasou três bairros de Lisboa e fez um número indeterminado de vítimas.

23 dezembro 2007

o fim do ano é uma altura óptima para se continuar a fazer exactamente o que já se estava a fazer antes

Voltaste aos meus dias com o pressuposto de que te podias sentar lá.
Vinhas à procura do sofá conhecido.
Mas eu levantei-me e comigo levei as minhas ancas plataforma para longe do teu olhar que eu sabia seguir-me.
Cada passo uma projecção.
Cada passo uma rejeição.
Forte, óbvia e (nada) absoluta.
As minhas pernas estão cada vez mais rijas.
Isso dá-me uma espécie de ascendente, não é?
Enquanto fumavas o teu cigarro incrédulo começaste a crer, devagarinho.
Mas tu e ambos sabemos que se te escrevo isto hoje é porque ainda aqui estás.
Isso, as minhas rijas pernas não torneam. Isso é pedra assente.
Entraste-me na infância do amor. É a pior altura.
És monstro grande e forte, altas montanhas de alces de barriga aberta e vibrante vermelha a correr.
Confundimo-nos tanto tempo que agora me faltam bocados.
Cada impulso na tua direcção é cada vez mais forte.
E então? Eu também viajo dentro de ti, numa estrela fugaz na tua memória, feita para desaparecer?
Ainda existe o telhado de terra com restos de cidade onde disseste para sempre comigo?

Mas olha: Eu já não sou essa.

22 dezembro 2007

Dia de Natal

Chove. É dia de Natal.
Lá para o Norte é melhor:
Há a neve que faz mal
E o frio que ainda é pior.

E toda a gente é contente
Porque é dia de o ficar
Chove no Natal presente
Antes isso que nevar.

Pois apesar de ser esse
O Natal da convenção
Quando o corpo me arrefece
Tenho o frio e Natal não.

Deixo sentir a quem quadra
E o Natal a quem o fez,
Pois se escrevo ainda outra quadra
fico gelado dos pés.

Fernando Pessoa

Pondo de parte as contradições, partilho com o autor o horror ao frio, à neve, aos pés gelados, tão inevitáveis nesta quadra. E adoro este Fernando quase ingénuo, infantil. BOM NATAL|

21 dezembro 2007

Sexo, mentiras e telemóveis

Saladas, uma pequena aldeia do interior, Argentina. Chega um motorista novo à escola, fresco, novo, com boa apresentação. Vem da capital, de Buenos Aires. Toda a gente repara nele.
A sua função é levar e trazar as professoras da escola primária e secundária das suas casas para o trabalho, fá-lo sempre com aprumo e nunca falha um horário.
Uma das professoras começa a namorar com ele, encantada não só com os seus dotes viris mas também com os números novos que ele lhe dá a experimentar. Novas posturas, maneiras de fazer e estar. Descobre uma mulher que não sabia ter dentro de si, revela-se, desabrocha. Sente-se feliz, na plenitude da idade e na abertura da sua sexualidade.
Deseja fazer vida com este messias da intimidade, mas ele estranhamente é-lhe fugidio - ela pensava que ele a desejava tanto quanto ela. Haverá outra, pensa em desespero.
Admirável mundo novo, em que basta uma palavra para se descobrir tudo sobre o outro. A password do computador e do mail. Quando acede ao abre-te sésamo descobre o que nunca poderia ter imaginado.
Não havia outra - havia mais 5. Se juntasse todas as suas amantes podia ter uma equipe de volei.
Chocada, a namorada não pára de abrir fotografias, umas atrás das outras. Reconhece o falo do seu homem em todas. Quase todas. As mulheres são as professoras que transporta diariamente com afã e aprumo, também elas apesar de casadas rendidas às suas novas acrobacias da cidade.
Despeitada e desesperada, alinhava a vingança. Copia as fotografias e guarda-as, nem sabe se tentar o confronto com o satã de Buenos Aires.
Decide-se e envia as provas para toda a gente da aldeia e arredores, incluindo a comunicação social. Rebenta o escândalo, as mulheres são apontadas a dedo, os maridos deixam-nas, o filho de uma delas dá entrada no hospital com um ataque de nervos depois de ouvir os comentários dos amigos ao corpo e prestação sexual da progenitora.

Saladas não estava preparada para isto. Argentina não estava preparada para isto. O mundo inteiro abre a boca de espanto.

Sex makes the world go round.

(descobri um blog onde se publicaram as fotografias do chofer a dançar com as professoras. recuso-me a divulgá-lo para não contribuir para a já demasiado extensa devassa da privacidade dessas mulheres.)

Presépio

Imagem de www.pititi.com


Porque o Natal é isto e apenas por causa disto... Um Santo Natal!

20 dezembro 2007

corpo têxtil

Vivo ao lado do tempo.
Cá dentro no meu covil enfeitado é sempre demasiado tarde para o que eu quero e demasiado cedo para o que os outros querem de mim. Ou ao contrário.
Nasci com cem anos e vou tendo cada vez menos. Por este andar vou chegar ao zero e depois não sei como é que vai ser.
Os meus demónios têm cara de relógio e corpos de sangue frio. Primeiro rastejam no soalho e depois amarinham pelas minhas pernas e cravam-se nos meus joelhos dez vezes por cada minuto que já passou.
Assim, trago o tempo à mostra e não há roupa que o tape.
A sua cadência escorre pelos buracos têxteis. Trago o tempo à vista nos olhos e nos dentes.
Ganho créditos para a máquina mas gasto-os logo. Rapidamente é tarde de mais.
Vejo o tempo nos meus amigos e nos filhos deles.
Vejo o tempo nos meus pais e avós, nos dos outros e no autocarro.
Não é bom de se ver. A mim dói-me.
Vejo todos os meus minutos nas mãos e na pele deles. Como transparências sobrepostas, eles têm as minhas horas coladas às deles com amor. E levam-nos daqui para ali quando viajam e quando já não nos vemos.
Como polvos depois da pesca, transportamos nos baldes o tempo uns dos outros às costas.
Em mútuo festejo e invasão sugamos os dias uns aos outros. Por amor e por falta.

quote of the day

"I am so busy doing nothing... that the idea of doing anything - which as you know, always leads to something - cuts into the nothing and then forces me to have to drop everything. "
jerry seinfeld

Em 2008


Palavras sábias da Dona Capitolina

quando lhe iam cobrar alguma dívida:

Quero lá saber, Portugal é maior e também deve!

19 dezembro 2007

Tenho

38 anos, menos um dente, a alma tranquila e amigos/as e amores, o mais importante desta vida.
Parabéns para mim!

Identidade Nacional

O meu país são os meus amigos e amigas.

18 dezembro 2007

Um mês e pêras

Dezembro é um mês e pêras, especialmente para o Oito e Coisa. Só múltiplas a fazer anos contei três.
Hoje é o dia da nossa representante insular, a quem deixamos um presente especial no seu aniversário. Porque as recordações de infância são (quase) sempre as melhores.


Foto daqui



e, claro, uma bossa nova. Para dançar.



João Gilberto e Caetano Veloso

óh mãe mas não sou eu, são os srs. dos CTT!


17 dezembro 2007

Presente de natal*

*Para a múltipla do post em baixo.
Em alternativa, e em noites de céu estrelado, podes sempre tentar localizar a estrela polar. Ela indica-te o norte (se estiveres no hemisfério norte, claro).

desnortear

v. tr.,
fazer perder o norte, o rumo;
desorientar;

fig.,
perturbar;
embaraçar;

v. refl.,
desorientar-se;
perder o rumo.

in priberam.pt

Pois eu já canto

My christmas song: "ho, ho f******* ho", by Eric Idle (Monty Pythons).

16 dezembro 2007

Hoje até cantava com eles



Esta é uma das minhas músicas preferidas de natal. Ter este elenco de luxo a cantá-lo é uma verdadeira benção!

... and a partridge in a pear tree!

(John Denver & The Muppets)

Novo aviso à navegação

Por receio de ter deixado um parte crucial do post anterior soterrado por baixo do surpreendente texto de Bob Flanagan, deixo aqui novamente o apelo à participação no estudo de Patrícia Pascoal. Dizia eu no post anterior (mais coisa menos coisa) que:

A autora do blogue A Perfect Sonnet está neste momento a desenvolver um estudo sobre sexualidade, tendo disponibilizado, para tal, um inquérito online. O inquérito está aqui (onde podem também obter mais informações sobre o estudo e respectiva autora). Participem!

Peço aos seguintes amigos/companheiros da blogoesfera que divulguem o estudo nos respectivos blogues, se assim o entenderem. Deixo o 'recado' a:

10 feet under
100 nada
20 centímetros
31 armada
azinhaga da cidade
câmara clara
cibertúlia
fishspeaker
ma-schamba
o mundo perfeito
prèlude à l'après midi d'un faune
respirar o mesmo ar
sem-se-ver
tangências
tubus eternus
uma aventura tão grande como a vida
verdade ou consequência
womenage à trois

Da(s) sexualidade(s)




In collaboration with his partner, Sheree Rose, Bob Flanagan's performances combined text, video, and live performance in an exploration of sex, illness, and mortality. BOB FLANAGAN succumbed to cystic fibrosis on January 4, 1996.

Texto aqui.

(Visto no blogue A Perfect Sonnet, um vídeo + texto a propósito das preferências por práticas sado-masoquistas. Um texto que me surpreendeu e impressionou, pela crueza e sinceridade na explicação do que é/pode ser a pertença a um grupo considerado diferente/minoritário.)

Aproveitando a ocasião, a autora do blogue - Patrícia Pascoal - está neste momento a desenvolver um estudo sobre sexualidade, tendo disponibilizado, para tal, um inquérito online. Fica aqui o apelo à participação neste estudo. O inquérito está aqui (onde podem também obter mais informações sobre o estudo e respectiva autora).

14 dezembro 2007

Este ano nunca mais acaba

com o que aconteceu desde janeiro até hoje, tenho medo do que me espera nas próximas trezentas e oitenta e quatro horas.

led Zeppelin

"Gostar dos Led Zeppelin é um sinal da inferioridade masculina. Não conheço uma mulher que goste genuinamente de tal banda. Mas já vi, com estes olhos que a terra há-de comer, o meu cunhado, um advogado pacato e risonho, pouco dado a rodopios e meneios de anca, na pista do Tóquio, sóbrio, mas completamente tresloucado, a dançar um daqueles solos de guitarra medonhos que duram cinco minutos. Uma vergonha."
post colocado no blog ana de amsterdam

Pois é. Descobri aqui, no blog da Ana de Amsterdam que eu devo ser inequivocamente um homem, por sinal inferior. Sendo que gosto genuinamente dos Led Zeppelin há quase 20 anos e espantosamente, daqueles solos de guitarra "medonhos" que duram cinco minutos e aliás de toda a discografia desta banda que mudou a face do rock.
Esta senhora Ana, com todo o respeito, não percebe obviamente nada de música mas não tem culpa disso, claro. Simplesmente não é informada ou falta-lhe o ouvido. Porque não gostar é uma coisa, não ter capacidade para reconhecer o talento mesmo naquilo que não gostamos já é outra. É uma vergonha.
Bem, querelas à parte, as notícias fabulosas são que, os Led Zeppelin se voltaram a reunir para um concerto completo, pela primeira vez desde a morte do baterista John Bonham em 1980, para um concerto na Arena O2 em Londres, esta segunda feira e apresentaram de novo, para uma assistência de 18 mil sortudos e escolhidos a dedo, alguns dos clássicos que fizeram a história da música mudar ao longo de uma brilhante carreira de 12 anos. "Três dos mais inspiradores músicos da história da humanidade", Robert Plant, Jimmy Page e John Paul Jones, subiram ao palco londrino acompanhados pelo baterista Jason Bonham, filho de John Bonham, uma reunião há muito prometida aos fâs de todo o mundo.
9 milhões foi o número de fãs oriundos de 50 países, que concorreram ao aos 18 mil lugares disponíveis na arena O2 para assistir a este concerto cujos lucros vão reverter para a fundação para a educação Ahmet Ertegun, co-fundador da editora Atlantic, uma organização que fornece bolsas de estudo a músicos.
Entre as personalidades ligadas à música que marcaram presença no concerto, foi possível reconhecer por entre o público, Paul MacCartney, Davis Gilmour e Dave Grohl.
Espera-se agora uma tourneé mundial.
Pelo menos eu, mulher assumida e genuína fã de Led Zeppelin, espero.

Aqui fica Since I've been loving you... para os fãs que por aqui passarem e para quem quiser conhecer...



13 dezembro 2007

instantâneo

I don't want somebody to love me
just give me sex whenever I want it
'cause all I ask for is instant pleasure
instant pleasure, instant pleasure

Rufus Wainwright, Instant pleasure

Fotografia do dia

Fotografia de Rui Miguel Pedrosa

12 dezembro 2007

Asneiras precisam-se

Gosto de dizer asneiras, palavras consideradas como feias, ofensivas, carregadas de fel. Não as digo de forma boçal ou para ofender directamente a outra pessoas, mas saem-me como expressão de alivio, em geral de dores físicas ou morais, ou quando uma coisa me surpreende muito, ou assusta ou mesmo entusiasma; o dizer asneiras ajuda-me a que uma parte da tensão(raiva, dor, nervos) se me vá no vento que leva as palavras palavrões. E como vivi vários anos fora do meu país habituei-me aos seus efeitos relaxantes na minha pessoa e à liberdade de poder dizer os meus caralho, fodassss, caralho à vontade nos cenário mais inusitados, pois ninguém compreendia e não tinha tanta pressão social em cima.

Mas ultimamente ando com um problema de expressão, com uma dificuldade no linguajar asneirento. Por um lado, agora convivo mais com crianças e com elas mas principalmente com a minha filha, obrigo-me com esforço a controlar a minha língua de prata, para que ela depois não comece a repetir tudo e a dizer que a mãe dela diz por isso ela também pode. Além disso, é melhor que ela primeiro aprenda que há espaços onde não pode dizer asneiras, para que depois mais tarde possa construir os seus próprios espaços de asneirar.
E por outro lado, ando com imensa dificuldade em encontrar vernáculo que me agrade e que não esteja relacionada com mulheres directamente. Cabrão, puta, filho da puta, filho da mãe, malparido, maricas, coninhas, corno, filho de um corno, etc, são tudo palavrões que continuam a marcar uma série de estereótipos em relação à mulher, à fidelidade e ao recato que esta deveria ter e não tem por isso cai nos palavrões do povo. Antes dizia-os e sabiam-me bem, não pensava sequer que eram ofensivos e que insistiam em manter uma imagem de mulher já tão desajustada, mas tão difícil de mudar nas mentalidades colectivas e nas práticas individuais. Agora, já não me ajudam a descarregar a tensão, antes me sabem a amargo.

Por isso tenho de enriquecer o meu merdaculário, agradeço imenso se alguém tiver sugestões para poder continuar a disfrutar destes meus lexotans orais e naturais, que o caneco, o caraças e o carôço já m’andam a desarranjar o sistema nervoso, são soft demais, não sabem a asneira!

p.em.p

Às vezes dou por mim a ter um p.em.p. (pensamento em post).
Que é como que diz: pensar como se estivesse a escrever um post...
Ainda estou a recuperar do choque desta revelação!

Mistério das meias solitárias


A internet é boa. Dá-nos pretextos para não trabalhar, horas de pesquisas inúteis, conversas intermináveis, informações essenciais. Foi na internet que descobri a solução para o insondável mistério das meias solitárias, aqueles bocados de tecido que guardo na esperança de um dia reencontrar o par desaparecido. Uma alma igualmente torturada fez a pergunta que me levou até à solução do mistério:

11 dezembro 2007

Feliz Natal

Cada vez mais se aproxima a época em que se deseja bom natal sem já saber muito bem o que é de facto ou deixa de ser o natal; se é prazer, obrigação, fachada, sinceridade, se quê... O consumismo do Natal é um dos aspectos mais falado nestas épocas, e nos jornais acompanha-se de perto os gastos estimados dos consumidores portugueses em prendas para as crianças, prendas no seu total, etc.
Aquilo que eu gostava mesmo que o pai ou a mãe natal, o menino jesus, ou os reis magos trouxessem este ano é que não se consumisse tanto, que toda a gente pensasse que há muitas outras formas de dar presentes, de dar afecto, de dar amor, e começasse a dar tempo, começasse a dar-se e não só a traduzir-se em objectos.

Tenho saudades dos meus amigos

A vida absorve, consome, distrai, desvia-nos. Tenho saudades dos meus amigos, de vê-los, de conversar, de me rir com eles, de disparatar e divagar com eles, de analisar o mundo e nós próprios. Mas ninguém me convida para jantar e eu também não, cada vez menos me apetece cozinhar...

(às vezes) Procura-se

Alegre, bom companheiro, fiel, que goste do seu corpo e disfrute da sua sexualidade, com sentido político da vida, criativo, que se emocione e fale sobre si, com um bom trabalho psicológico feito sobre si mesmo. Carinhoso, atencioso, brincalhão, mas também regulador, educador e cuidador dos filhos. Entusiasmado, responsável e dedicado mas não obcecado com o seu trabalho. Que assume a casa como sua, que lhe dedique um (bom) tempo diário, que divida as tarefas domésticas, que não seja necessário dizer-lhe tudo o que tem de fazer, que saiba como cuidar uma casa, que seja autónomo e não deixe acabar o papel higiénico. Que me ame, me adore, me ache linda e única, que goste de namorar comigo, de ouvir-me, de conversar comigo e de fazer surpresas.

Idade não interessa, profissão menos, sexo e orientação sexual indiferentes.

Respostas a esta caixa.

As conjugações do meu dia

Eu odeio-me;
Eu odeio-te;
Eu odeio-o/a;
Eu odeio-nos;
Eu odeio-vos;
Eu odeio-os.

ataque de fúria

tenho sempre que guio em auto-estradas com três faixas, entupidas pelas centenas de anormais que ocupam a faixa do meio, entretidos a ultrapassar carros invisíveis.

Armo-me em grande educadora do automobilista português e descarrego a minha fúria em sinais de luzes, buzinadelas e sinalefas raivosas, seu ganda camelo vai mazé para a faixa da direita, caganda besta não sabe que se circula pela faixa da direita?

Mas o povo é sereno e sempre que regresso à auto-estrada dou por mim a espumar de fúria e a sonhar com o lexotanzinho que me trará de volta à normalidade.

10 dezembro 2007

e porque hoje fazem anos

A Democracia é o pior de todos os sistemas
Com excepção de todos os outros

Ainda há quem se acanhe
Com a pronúncia que tem
Mas com cinco letras apenas
Se escreve a palavra Manhe
Que é de todas a mais bela
Mais bela que o céu azul
E aqui tem mais letras
Do que no sul

Abel foi morto por Caim
Irmão nunca vi mais ruim
Trespassou Abel, que ao tombar Gritou "Mãe!"
A mãe, por sinal já defunta
Levantou-se mesmo assim
Disse para Caim
"Já não és meu filho Meu filho da mãe!"

A Democracia é também
Uma mãe mais doce que o mel
Só que às vezes Abel mata Caim
Caim mata Abel

Por aqui se prova, afinal
Que mãe afinal não há só uma
Só em Portugal
são mais do que as mães é isso, Mãe

A Democracia é o pior de todos os sistemas
Com excepção de todos os outros

Há muitos países que julgam
Que têm democracia,
inclusive às vezes, o nosso
Mas encha-se de justiça o fosso
E erga-se a liberdade ao meio
Que só de intenções
Está o inferno cheio

Não há justiça sem liberdade
E o vice-versa é também verdade
E essa é a luta, no fundo
Pelos direitos humanos no mundo


Sérgio Godinho: A Democracia

Pecado

Pecado era estar sem ti.

09 dezembro 2007

A revelação




A Anita nunca me enganou. Sempre me pareceu que aquele ar de menina etérea e inocente era uma treta pegada. E aqui descobri a verdade que nos esconderam.

Ithaka

As you set out for Ithaka
hope your road is a long one,
full of adventure, full of discovery.
Laistrygonians, Cyclops,
angry Poseidon-don't be afraid of them:
you'll never find the things like that on your way
as long as you keep thoughts raised high,
as long as a rare excitement
stirs your spirit and your body.
Laistrygonians, Cyclops,
wild Poseidon-you won't encounter them
unless you bring them along inside your soul,
unless your soul sets them up in front of you.


Hope your road is a long one.
May there be many summer mornings when,
with what pleasure, what joy,
you enter harbors you're seeing for the first time;
may you stop at Phoenician trading stations
to buy fine things,
mother of pearl and coral, amber and ebony.
sensual perfume of every kind-
as many sensual perfumes as you can;
and may you visit many Egyptian cities
to learn and go on learning from their scholars.

Keep Ithaka always in your mind.
Arriving there is what you're destined for.
But don't hurry the journey at all.
Better if it lasts for years,
so you're old by the time you reach the island,
wealthy with all you've gained on the way,
not expecting Ithaka to make you rich.

Ithaka gave you the marvelous journey.
Without her you wouldn't have set out.
She has nothing left to give you now.

And if you find her poor, Ithaka won't have fooled you.
Wise as you will have become, so full of experience,
you'll have understood by then what these Ithakas mean.

Constantine P. Cavafy

07 dezembro 2007

Militarização da vida quotidiana (II)

Opera Vegetale, Tsuyoshi Ozawa
Academia Carrara, Bergamo, Julho 2006

Mais uma foto da brilhante série de fotos 'Opera Vegetale', especialmente dedicada à minha amiga múlipla (chateada da vida com os 'brilhantes' serviços prestados pelos fornecedores de tv + net + telefone) e para a sua pioneira ideia de 'manual de instruções para a guerrilha do consumidor'.

Note to self

Só discutir com o cônjuge em praça pública. Dentro das portas do meu condomínio a insonorização é bem pior…

O que eu gostava de dizer ao Fisco


06 dezembro 2007

quando for grande

quando for grande quero ser importante e inteligente, discutir coisas urgentíssimas, ter um blogue que é lido por muita gente, escrever textos brilhantes e cheios de graça sobre tudo e coisa nenhuma, tratar por meu querido e minha querida todos os outros que escrevem e dizem coisas importantíssimas, encher caixas de comentários com polémicas que inventamos, espalhar cambalhotas e piruetas cada vez mais arriscadas por este espaço virtual, rir do espírito com que encho linhas aqui e ali no meu no teu nos deles blogues.

Quotes

Make no mistake about why these babies are here - they're here to replace us.

"Jerry Seinfeld"

maravilhoso mundo num clix

Telefone e internet de banda larga, serviço bom, barato e rápido. Fui levada pela publicidade e assinei contrato com a clix.


Afinal o serviço é mau e lento. Ainda não sei se é tão barato quanto o pintavam - terei de esperar pela primeira factura.


Dois meses depois de ter assinado o contrato, depois de uma manhã perdida à espera do técnico da PT que não apareceu (o monopólio ainda e sempre), depois de vários euros gastos a falar com o serviço de apoio ao cliente, finalmente chegou o dia em que vieram activar o serviço. Quando abriu o pacote do router, o técnico descobriu que faltava o splitter - a peça que permite ter simultaneamente telefone e internet a funcionar.


Ligo para a fabulosa linha de apoio ao cliente com um chá de camomila na mão. Já sei o efeito que tem em mim o treino eficaz que aquela malta tem: ao fim do segundo «compreendo» fico com comichões, depois do quinto «compreendo» só me apetece esbofetear violentamente quem inventou estes medonhos métodos de apoio ao cliente. Compreendem tudo, não resolvem nada; compreendem tudo e nunca alteram o tom de voz; compreendem tudo e respondem apenas banalidades e frases vazias.

Será que já se inventou um manual de instruções para a guerrilha do consumidor?

04 dezembro 2007

Os bombeiros da Vidigueira

Um fogo deflagrou num Monte Alentejano.


Os bombeiros foram imediatamente chamados para extinguir as chamas. O fogo estava cada vez mais forte, e os bombeiros nao conseguiam dominar as chamas. A situação já estava a ficar fora de controlo, quando alguém sugeriu que se chamasse o grupo voluntário da Vidigueira.

Apesar de alguma dúvida quanto às capacidades e equipamento dos voluntários, seria mais uma forma de auxilio. E assim foi.

Os voluntários chegaram num camião velho, desgastado pelos anos e operações de combate. Passaram em grande
velocidade e dirigiram-se em linha recta para o centro do incêndio! Foram mesmo até ao centro das chamas e pararam.

Estupefacta a população assistiu a tudo. Os voluntários saltaram todos para fora do camião e começaram a pulverizar freneticamente em todos os sentidos. Como estavam mesmo no meio do fogo, as chamas dividiram-se, e restaram duas porções facilmente controláveis.


Impressionado com o trabalho dos voluntários da Vidigueira , o dono do monte respirou de alívio quando viu a sua herdade ser poupada à devastação das chamas. Na hora, pôs as mãos na algibeira e passou imediatamente um cheque de 5000 euros à corporação voluntária.

Um repórter do jornal local perguntou logo ao comandante dos bombeiros:
- "5000 euros! Já pensou o que vai fazer ao dinheiro?"
- "Penso que é óbvio, não é?" - responde o comandante a sacudir a cinza do capacete:
- "A primeira coisa que vamos fazer é arranjar a porra dos travões do camião!!!"

hip-hip-hurra!!



Para a nossa D. Ester!!
Que, dançado na vida, esteja sempre feliz e contente!!

03 dezembro 2007

Vocês puxam por mim...

E depois têm de levar com isto!!!




Mas, como eu sou uma querida, levam também com os Panjabi MC´s



A importância de se ter genérico

Ao rever isto veio-me com toda força a memória do entusiasmo enquanto via os genéricos das séries. Para demonstrar o grau de dedicação à coisa líamos sempre em voz alta os nomes dos actores e restante ficha técnica, e quando já o sabíamos bem o concurso era de dizer os nomes antes deles aparecerem.
Havia também as séries que tinham uma pequena introdução à história no genérico, que também declamávamos em coro na sala de estar. Como esta:

and although we cannot be together we will never ever be apart.

adeus português

Nos teus olhos altamente perigosos
vigora ainda o mais rigoroso amor
a luz dos ombros pura e a sombra
duma angústia já purificada

Não tu não podias ficar presa comigo
à roda em que apodreço
apodrecemos
a esta pata ensanguentada que vacila
quase medita
e avança mugindo pelo túnel
de uma velha dor

Não podias ficar nesta cadeira
onde passo o dia burocrático
o dia-a-dia da miséria
que sobe aos olhos vem às mãos
aos sorrisos
ao amor mal soletrado
à estupidez ao desespero sem boca
ao medo perfilado
à alegria sonâmbula à vírgula maníaca
do modo funcionário de viver

Não podias ficar nesta casa comigo
em trânsito mortal até ao dia sórdido
canino
policial
até ao dia que não vem da promessa
puríssima da madrugada
mas da miséria de uma noite gerada
por um dia igual

Não podias ficar presa comigo
à pequena dor que cada um de nós
traz docemente pela mão
a esta pequena dor à portuguesa
tão mansa quase vegetal

Mas tu não mereces esta cidade não mereces
esta roda de náusea em que giramos
até à idiotia
esta pequena morte
e o seu minucioso e porco ritual
esta nossa razão absurda de ser

Não tu és da cidade aventureira
da cidade onde o amor encontra as suas ruas
e o cemitério ardente
da sua morte
tu és da cidade onde vives por um fio
de puro acaso
onde morres ou vives não de asfixia
mas às mãos de uma aventura de um comércio puro
sem a moeda falsa do bem e do mal

Nesta curva tão terna e lancinante
que vai ser que já é o teu desaparecimento
digo-te adeus
e como um adolescente
tropeço de ternura
por ti


Alexandre O'Neill

02 dezembro 2007

The special one



Outra série de culto dos anos 80 (iniciada em 1985 e com fim em 1992).

Impossível não falar em MacGyver. Pois claro.

(quem é que se lembrou de abrir o baú das memórias?! Ando para aqui toldada pela nostalgia desde este post).

01 dezembro 2007

Declaração de sanidade

Durante anos pensei ter fabricado esta memória. Desisti de perguntar às pessoas se conheciam o fado do marciano cantado pela Amália, olhavam para mim como se eu fosse tola. Algum dia a grande Amália Rodrigues dedicaria um fado, essa tão nobre forma de cantar, a um ser de outro planeta?


Pois sim. Mas em vez de fado do marciano chama-se "Senhor Extraterrestre".


A prova? Faz-se já aqui ao lado:


Prova de virilidade no século XXI

Manejar com a mesma destreza o berbequim e a varinha mágica

30 novembro 2007

Let's be careful out there



Falou-se aqui dos anos 80 e de como saímos incólumes (ou quase) de tal década. Concordo em parte. (De qualquer modo, acho que se devia correlacionar os chumaços com a miséria pessoal desta geração. Associações selvagens? Talvez.)

É verdade que as séries de televisão estão na moda. Fazendo a arqueologia desse fenómeno, este vídeo - que aqui posto - contém o genérico daquela que foi a minha série de culto, de 81 a 87.

Ladies & Gentlemen: Hill Street Blues.

E, claro, let's be careful out there.

Sublime

De greve

Temos a impressão de viver numa autêntica esquizofrenia, em que os atropelos aos direitos dos trabalhadores/cidadãos são incomensuráveis e indizíveis. Hoje mesmo tomei conhecimento que não tenho direito, de acordo com a lei mais recente, a pedir baixa para assistência à família no caso de "a família" se tratar de um filho maior de 10 anos. Dou-lhe o passe para a mão, uma nota de 5 euros e mando-o ir para a urgência do centro de saúde porque eu tenho de ir trabalhar. Isto, comparado com a doente entrevada, o canceroso e outros mais, que são considerados aptos em juntas médicas comprovadamente inaptas, não é, obviamente, nada!

Mas para que se credibilize a voz da arraia-miúda, é tempo de os sindicatos agirem de forma séria e de convocarem greves não para segunda-feira, não para sexta-feira, sugerindo um fim-de-semana mais longo e propício aos afazeres natalícios, e de mobilizarem verdadeiramente o povo para a rua. Olhem para os exemplos que nos vêm do exterior: em França, as greves gerais têm lugar de 3ª a 5ª feira e mobilizam multidões.

Uma Felicidade



...imensa! A de poder olhar este rio cor de chumbo, num domingo ensolarado de Outono.

Memórias vivas

Nem parece teu esse ar fugidio
Essa corridinha passageira, sufocante
Interditas-me.
A existência corre absoluta e parece não haver já qualquer imensidão nas palavras - nos actos infames...
Que pena cabeça-de-chuva, cabeça-de-Inverno...
Os feitiços vão-se, vêm, vindo-se lentamente...
Usar-nos-emos até quando?

29 novembro 2007

Crise do meio da meia idade

Os trinta são lixados, não há nada a fazer. Já somos adultos mas ainda não nos conseguimos habituar a isso. Ter um trabalho, todo o dia, todos os dias. Não querer ter o mesmo trabalho todos os dias. A angústia por não ter um trabalho todo o dia, todos os dias. A casa e as contas. Os amores, os romances, as relações, as ralações. O casamento e o divórcio. Os filhos, o não ter filhos, o não saber se se quer tê-los ou não. Já saber do que se gosta e (ainda?) não poder fazê-lo.

Há os que se safam, os que se vão safando e os que já não têm safa. Mas todos têm em comum o sufoco. E com o sufoco vem a necessidade de recordar os tempos mais leves que são, naturalmente, a adolescência e a infância. Os desenhos animados, as brincadeiras na rua, as festas de garagem, os pátios dos liceus, as roupas horrendas e a sensação de vitória de ter saído incólume de tudo isso. E a esperança de, agora, também poder sair incólume de tudo isto.

E o mercado – essa grande entidade – está atento! Daí a M80 (muito ao jeito do antigo RCP), as reedições do Planeta Agostini e dos DVD´s da Heidi, do Marco e do Conan, os livros em formato antigo e com os desenhos originais da Anita. Até as calças são outra vez justas até mais não, com aquela tira nojenta por baixo dos sapatos.

Com os primeiros sinais de chuva e do Inverno, neste mundo curioso que é a blogosfera começaram os sinais desse sufoco. Nas músicas postadas, nas referências antigas, na necessidade de fuga para outro lado, ainda que só por um bocado. Uma das que mais me fez rir foi a do pisangambom, que escondi muito bem debaixo da mesa dos sumos numa das minhas primeiras festas de adolescente. É que, como nota a Ritti, “a única geração de jeito é a que teve 15 anos em 1990. Quem sobreviveu, como eu, à adolescência com os cabelos cardados, enchumaços XXL, calças de ganga pelo tornozelo lavadas a pedra, é feito de outra matéria”, as outras que me perdoem!

May the force be with us!!

Privação de cafeína

Manhã cedo, ainda sem café. Toca o telefone:
- Bom dia, é a senhora oito e coisa? Daqui é a empresa-que-fornece-internet-telefone-televisão-que-apregoa-ser-muito-boa-e-muito-rápida. Queria marcar a ida do nosso técnico no dia 20, para instalar o serviço.
- Dia 20? O vosso tempo de espera é absurdo! Imagino que tenham muitas reclamações na DECO, e a próxima será minha. E vou falar com o meu advogado para estudar a melhor forma de cancelar o contrato.
- Dê-me um minuto, senhora oito e coisa.
....
- Dona oito e coisa? O nosso técnico irá a sua casa no dia 3. Pode ser?
Ou como a falta de cafeína pode ter um efeito miraculoso com empresas incompetentes.

28 novembro 2007

Yolanda Becerra

Conheci-a na Colombia há alguns anos atrás, por razões profissionais cruzámo-nos várias vezes, uma mulher madura, com uma cara que mostra esperança mas não ilusões, uma lutadora incansável dos direitos das mulheres de Barrancabermeja, uma das regiões mais ameaçadas pelo controlo e propotência dos grupos paramilitares. Através de um email da Amnistia Internacional soube que estava em perigo de vida.
E ainda que seja pouco, podemos fazer alguma coisa, basta clikar a assinar a petição.

english and rice

E se quiserem treinar o vosso inglês, podem sempre clikar aqui e não só testam o vosso nível de inglês como ainda podem doar arroz...Ora experimentem...

27 novembro 2007

Medusa do dia*

imagem aqui

*Esgotaram-se-me as alforrecas. Mas a medusa também é bonita e é da mesma classe das alforrecas. Mais coisa menos coisa.

As minhas aulas

de catalão, à noite na cama:

"Som a l'añy 50 abans de Crist. Tota la Gál.lia és ocupada pels romans... Tota? No! Un llogaret del Nord habitat per gals indomables rebutja una i altra vegada ferotgement l'invassor. La vida doncs no és gens planera per als legionaris romans dels petits campaments de Babaòrum, Aquàrium, Laudànum i Petibònum...

Os dias e as palavras


Passo o dia a alinhar palavras. Primeiro, leio-as num idioma que não é o meu. Depois, descubro o sentido que poderão ter na minha língua materna. Olho as palavras, sinto-as, saboreio-as, sondo as suas várias possibilidades, tomo decisões. Volto atrás e apago tudo. Volto a alinhar palavras. On and on. Até achar que está bem (esse «estar bem» nunca chegou, diga-se).

Construo puzzles. É uma espécie de 'lego' linguístico.

Há muitos anos, não sabendo ainda que me esperaria este quotidiano de alinhar palavras, peguei num livro e resolvi transpô-lo para o meu primeiro idioma. Tomei a seguinte decisão: não consultar o dicionário. As palavras cujo significado não conhecesse teria de intuir. Resultou um caderno que até hoje não ouso abrir.

Hoje, gostava de lançar o seguinte desafio que, para ser levado às últimas consequências, tem que obedecer a essa regra primeira: não consultar o dicionário. Aceitam-se, pois, traduções de um excerto do poema de Auden à vossa escolha (ou do poema na íntegra, se para aí estiverem virados) . Take your time. Sem consultar o dicionário, claro. Googlar muito menos.

Lay your sleeping head, my love,
Human on my faithless arm;
Time and fevers burn away
Individual beauty from
Thoughtful children, and the grave
Proves the child ephemeral:
But in my arms till break of day
Let the living creature lie,
Mortal, guilty, but to me
The entirely beautiful.

Soul and body have no bounds:
To lovers as they lie upon
Her tolerant enchanted slope
In their ordinary swoon,
Grave the vision Venus sends
Of supernatural sympathy,
Universal love and hope;
While an abstract insight wakes
Among the glaciers and the rocks
The hermit's carnal ecstasy.

Certainty, fidelity
On the stroke of midnight pass
Like vibrations of a bell
And fashionable madmen raise
Their pedantic boring cry:
Every farthing of the cost,
All the dreaded cards foretell,
Shall be paid, but from this night
Not a whisper, not a thought,
Not a kiss nor look be lost.

Beauty, midnight, vision dies:
Let the winds of dawn that blow
Softly round your dreaming head
Such a day of welcome show
Eye and knocking heart may bless,
Find our mortal world enough;
Noons of dryness find you fed
By the involuntary powers,
Nights of insult let you pass
Watched by every human love.
Lullaby, W. H. Auden.

26 novembro 2007

Fez um ano, está na hora

Tentei fugir-te todo o fim-de-semana. Tentei que os dias passassem depressa. Passaram?, perguntou-me. Não. Claro que não. Tenho muita saudade, do tipo da que dói. Parece que passaram mil anos desde o último abraço, desde aquela despedida antes de Itália, no Tóquio. A única em que acertei. Para essa viagem sei que me despedi. Para a outra, nada. Pensei: quando voltares. Parece que passaram mil anos e nenhum. Mas passou um ano. Contei um ano no dia em que foste ver os glaciares e contei um ano no dia em que soubemos que não voltavas. Para mim, repito todos os dias, tu foste viver para a Patagónia. E há dias em que isso me basta, há outros em que isso me custa. Tu foste viver para a Patagónia e nós ficámos aqui. Sem o teu terraço e a discussão sobre a melhor vista, sem o teu sofá e o pilar onde havia sempre alguém a adormecer, sem as palavrinhas no frigorífico, sem o chá e as cervejas. Sem a tua tristeza que era também nossa. O verdade ou consequência, a elis regina. Eu gravei tudo. Tirei muitas fotografias com os olhos. E ainda sei de cor muita coisa que me disseste. Mas tenho as mesmas saudades. Passou um ano e são as mesmas. Quando é que voltas? Ninguém morre para sempre, pois não? E há mais um charro para fumar. Uma música para trocar. Um título para escrever. Um jogo da selecção para ver. É preciso dizer "pinhal" até à exaustão. Juntar palavrinhas no frigorífico. Escrever posts. Dançar. Beber mais uma cerveja. Fazer daquelas coisas que os amigos fazem. E, repara, eu já digo "amigos". Mas, olha, para isto tudo é preciso que voltes. Vá lá.

Grande é a poesia, a bondade e as danças

Fico sempre com vontade de rir quando estou a navegar pela net no coça a barriga e o computador reclama "Bateria fraca - deve trocar a bateria ou passar imediatamente para alimentação de rede para evitar perder o seu trabalho". 'Bora bobby.

Pedido de desculpas

Há algum tempo não o fazia, mas hoje fui à lista das entradas por buscas no google. Como responsável pelas clicadas mais insólitas, venho por este meio pedir desculpas a quem veio à procura de:
- anedotas sobre moléculas
- mensagens de previsões para mim
- quero ver senas de sado masoquismo


no entanto, e à laia de redenção, vou tentar fazer um post sobre os temas todos, para memória futura.

Havia um ADN que tinha três patas, foi fazer chichi e caiu. No dia anterior tinha pensado nisso, e escreveu-o no seu diário: "cheira-me que amanhã ainda vou partir os cornos no chão quando for fazer uma mija no caminho para o citoplasma. às tantas ainda descubro que gosto". Fim.

Fotografia do dia II

As mulheres bonitas são atractivas, é bom ver gente bonita, seja com um corpo imediatamente reconhecido e aceite como bonito, ou com uma luminosidade pessoal que lhe sai do coração e ilumina o que a rodeia. Eu hoje "emburreceria", salvo seja, se visse uma mulher assim:


Ou assim:


Fotografia do dia

Fotografia do arquivo multimédia do Portugal Diário
Dizem que os homens emburrecem com as loiras. Eu, se fosse homem e se visse uma loira assim, acho que também emburrecia. E ninguém me podia levar a mal. Aliás, acho que os homens emburrecem perante qualquer mulher bonita. O factor loira talvez seja explicado pelo facto de - citando a irmã de um amigo meu - "a maior parte das mulheres nascem morenas mas morrem loiras" !

25 novembro 2007

Um pesadelo científico

- Mas... mas... O que é que tu fizeste?!
- Isso mesmo que tu acabas de perceber.
- Não acredito! Porque é que esse espaço está vazio? Onde é que elas estão?!
- Não adianta, está feito.

- Não é verdade... Não é verdade!
- É verdade sim: deitei fora as 'Scientific American' que coleccionava há uma década.

Acordei em sobressalto e já não voltei a adormecer. Era um pesadelo, este diálogo com a minha irmã. O problema é que ela não desce a montanha, não larga os mosquitos nem a humidade peganhenta.

Por isso, não sei se isto era um sonho ou uma premonição, pelo simples facto de não lhe poder perguntar: quando eu estou a dormir ela está acordada e quando ela está acordada eu estou a dormir.

Don't come knocking




imagens aqui

Quem, como eu, gosta de road movies + Wim Wenders + Sam Shepard, vai gostar, com certeza, de ver 'Don't come knocking' (filmado em 2004, entre Los Angeles e Butte (Montana).
Imperdível.

24 novembro 2007

banda sonora

Para uma tarde de sol!


o que se descobre

quando se divanavega à procura de quem se ofereça para fazer edição de uma tese! Encontrei o anuncio de alguém que procura outra alguém para o acompanhar a uma festa da sociedade cerrada, mas aberta a todas as fantasias com boa onda. Com as saudadinhas que eu tenho de dançar, fico a pensar se me candidato; as minhas fantasias são mui singelas, poderia ir vestida de Pancrásia das couves, num estilo entre o tradicional, o kitsh e superpoplimão. Desde que possa dançar ólnailong...

23 novembro 2007

Auroville

foto daqui


Às vezes, gostava de viver numa cidade como esta.

Descaraçãoooo


Eu nem pergunto porque já sei a resposta, mas digam lá que não é lindo????

Fotografia do dia


Espírito de quase Natal, rugas, sorriso sexy e tal, leu-se na caixa de comentários mais abaixo. Esta pareceu-me uma boa conjugação de tudo isso.

Departure day

Hoje fui-me embora. Olhei-me e vi o adeus dos meus olhos. Ainda pedi baixinho não vás, mas foi tarde demais.

Alforreca do dia

A lembrar a liquidez nem sempre translúcida da minha terra.
A lembrar os dias de luz clara e temperatura amena.
A lembrar a última vez que inspirei fundo e pensei 'estou em casa'.
A lembrar que as alforrecas não devem ser pisadas de forma alguma, perigo de alergia.
A lembrar que atrás de uma alforreca vem sempre outra.
A lembrar.

22 novembro 2007

Fotografia do dia


Esta é para mim, que também mereço!

21 novembro 2007

Divanavegações

Andava eu a divanavegar, e ao ler o que pensava o Pedro Mexia sobre os feminismos, ou melhor sobre as feministas, deparei-me com uma boa surpresa: um video das Sleater-Kinney e a sua baterista.



Apesar de que tenho conhecido alguns académicos e académicas feministas ou dos gender studies bastante divertidos, e que sei que os feminismos e os estudos de género, enquanto correntes teóricas ou enquanto movimentos sociais, não existem no singular, são muito diversos, acho que comprendo o Pedro Mexia, não consigo afastar o preconceito que teima em mim sobre os académicos, sejam eles e elas de que área forem: gente chata que vive num mundo que se fecha numa bolha de palavras e frases largas, pouco importadas em comunicar e partilhar o seu saber e encontrar traducções e aplicações deste no mundo fora da sua bolha. Isto não é verdade, eu sei. Mas o preconceito insiste em visitar-me.

ponto cruz

Tenho tanto para contar que não sei por onde começar. Talvez comece por uma ponta solta, há quem diga que quando elas existem não se pode fazer nada da vida, mas eu não acredito nisso, a minha avó há já muitos anos me ensinou que as pontas soltas se resolvem, pega-se numa agulha daquelas grossas e é um vê se te avias, vai tudo à frente. Vai daí eu olhei para a ponta solta, ele achava que a tinha escondido bem mas coitado, não sabe a mulher que eu sou, treinada para vê-las à distância. O sorriso mais largo, as perguntas interessadas sobre o reumático da minha mãe e o que se passa na repartição durante o dia, logo ele que quando chega a casa se fecha num silêncio cheio de noticiários e de jornais, vejo-o à mesa do jantar e já é muito, duas ou três frases sobre a comida e as contas e o jantar do fim-de-semana com os casais amigos (todas as semanas a mesma coisa, ao sábado à noite juntamo-nos uns quantos, as mulheres falam de coisas delas e os homens riem-se muito na outra ponta de mesa, é assim há tantos anos que já lhes perdi a conta), e desde há umas semanas o interesse súbito em coisas que não o interessam nada, o reumático da minha mãe e a promoção que nunca mais me chega, o sorriso na cara, as perguntas que quase se atropelam e o não o deixam ficar calado. Ele deve achar coitado que não se nota nada, mas a mim não me engana, mirei a ponta solta de um lado e de outro, medi-a, peguei na agulha grossa e fiz como a minha avó me ensinou: convidei a vizinha do 7º esquerdo para tomar chá. Faz já dois dias que regressámos ao silêncio de noticiários e de jornais, o sorriso e as perguntas desapareceram, e a vizinha largou aquele perfume que empestava o elevador.

era outubro já é novembro quase dezembro

2 alforrecas
o reflexo de 1 bóia
uns quantos peixes
um cais de pedra
era outubro
já é novembro
quase dezembro
não tenho nada para dizer
é triste
isso
e a chuva também.

20 novembro 2007

É grave doutora?

Há uns dias atrás, a propósito de um post onde se falava dos diferentes tipos de orgasmos descobertos, houve um já tradicional comentador que exclama: "Fodilhona? È o que quer proclamar? E se sim, porquê o faz aqui?". Ora se definirmos fodilhona, ou fodilhão, como uma pessoa que fode muito ou que gosta muito de foder, temos aqui duas vertentes desta palavra para analisar: por um lado temos o factor quantidade, muitas vezes, e por outro, o factor gosto, o prazer que daí se retira.

Revendo outra vez o post e os seus comentários, em relação ao primeiro vector não encontro nenhuma possível indicação à peridiocidade ou frequência do acto sexual. Quanto ao segundo, faz-se referência ao prazer sentido com o corpo inteiro, incluindo, como é óbvio, a cabeça. O que poderia então levar a concluir que com quantas mais partes do corpo se sentir um climax sexual mais fodilhão/ona se é. Nesse caso haveria as pessoas fodilhinhas, fodilhãs ou fodilhonas.
Tendo em conta que isto não interessa nem ao menino jesus, pergunto-me, que raio ando eu a fazer com o meu tempo que gasto preciosas conexões neuronais, tão escassas ultimamente, a comentar o comentário do post?
Vou mas é continuar a minha colecção de sacos de plástico, combinei às 5 da tarde com a minha amiga...

Acordar em versão filipina

Mal disposta com o despertador, arrasto-me para fora da cama, reconstruo-me na casa de banho, abano-me com dose dupla de café na cozinha. De trombas com o mundo das obrigações, enfio o impermeável e desço a rua.

Ao longe parece-me que o carro estacionado à frente do meu está inclinado, que disparate. Ao chegar ao sítio vejo que está apoiado de um lado num macaco e que lhe levaram os 4 pneus. De repente um sorriso assalta-me o espírito: se se tivessem entusiasmado podiam ter feito o mesmo ao meu, o que me daria a desculpa ideal para não ir trabalhar! Chego mesmo a imaginar o telefonema de aviso, a minha vitimização, todos solidários comigo, claro com certeza. Envergonho-me em seguida desse pensamento torpe, já tenho idade para ter juízo.

Ao chegar à garagem da repartição dou de caras com um início de inundação, jorra água como se fosse o rio Jordão de uma saída de esgotos. Novo lapsus facial, vão ter de evacuar o edifício e mandar-nos a todos para casa, estou safa. Vou de imediato avisar quem de direito, cheia de esperança no corpo e na alma, mas dizem-me que o assunto vai ser tratado de imediato que não me preocupe.

Encolho os ombros, sinto-me um cruzamento de Felipe com o Calvin, com a agravante de me sentir do outro lado da barricada e de repente ter de dar razão à minha mãe. Ser adulto não tem assim tanta graça. Ainda não percebi se o pior é ter de cumprir obrigações ou descobrir que os pais têm mais razão que o crédito que sempre lhes demos. Duro golpe no ego.