22 setembro 2007

O meu último tributo

Abri o álbum das fotografias. Há-as em que estamos felizes, aquelas em que choramos e outras em que, perante o teu olhar sempre terno e apaixonado, já não consigo esconder que o amor acabou.
O filme da nossa vida passa lentamente... O que fizemos e vivemos juntos - a fome que partilhámos e que te levava à casa de família para angariar umas latas de conservas, os momentos de calma ao pôr do sol na Praia da Areia Branca, as noitadas sem fim no teatro, a constante falta de dinheiro que nos fez solidários mas que provocou também muitas cisões, as borgas cheias de amigos e boa disposição em que eras sempre o maior contador de anedotas, as férias em Sesimbra, no Farol, na Luz, as discussões em que revelavas de forma inesperada a tua faceta obstinada... E o filme pára abruptamente, talvez no momento em que tive de dizer-te que chegara o fim.
Não te tratei bem, como não tratei bem os meus amores quando chegou o fim. Mas lembro-me de te amar. De me comover com todas as personagens às quais tu deste corpo de forma tão sábia e verdadeira. Lembro-me de te incitar, de te picar para te fazeres à vida, para não teres medo. Lembro-me do teu sorriso franco, do teu carinho imenso.
Por tudo isto e muito mais que as palavras não podem traduzir, obrigada, Pedro Alpiarça, por teres feito parte da minha vida.
Descansa em paz...

7 comentários:

na prise és bestial disse...

Um abraço para ti.

sem-se-ver disse...

lamento muito. muitíssimo.

D. Ester disse...

um abraço apertado. e uma pena muito grande.

dizia ela baixinho disse...

:(
um abraço apertado.

foi dançar a bossa nova disse...

Ámen.

Anónimo disse...

saltou de um 5º andar, depois de lhe terem recusado ajuda médica.

Precisou de ajuda médica porque em Portugal os artistas não têm quaisquer regalias sociais e passa muito tempo sem trabalho devido à intermitência da profissão.

8 e coisa 9 e tal disse...

E está na hora de reagirem. Não foi um artista deprimido e ponto. Foi o último grito de desespero de alguém que amava profundamente o que fazia mas a quem as portas se fechavam sem que ficasse réstia de esperança. Talvez porque não soube aparecer nas revistas cor-de-rosa?! Talvez...Mas é esta a realidade de muitos e muitos artistas e não só actores.