Ela tinha dito que ia conseguir. Tinha dito que ia deixar para trás o que deveria desaparecer, os ossos que chocalhavam com os seus passos sem que ninguém se apercebesse, só ela os ouvia e fingia não ouvir, sempre aquele som a cada gesto, de cada vez que se levantava ainda com sono, de cada vez que andava pela casa sem saber como se livrar deles e incapaz de os ignorar.
Abriu a janela, mediu a distância que a separava do chão lá em baixo, as folhas e a chuva misturadas numa mancha que invadia o cimento e a erva, e tornava tudo uma papa indistinta. Calculou o tempo que demoraria a chegar lá e imaginou o som que faria quando tocasse no solo.
Pegou nos ossos. Sentiu o frio e a forma de cada um deles, encaixou-os numa mala antiga e fumou o último cigarro. Aproximou-se da janela e foi atacada por um medo que não sabia ter. Como seria depois?
Agarrou a mala e deixou-a cair. Esperou e ouviu um som surdo, afinal tão diferente daquele que tinha imaginado. Agora era só ela mesma.
3 comentários:
Vianense.
pois não.
é uma metáfora. e das boas.
Magritte?...
E que mais???...
(não tem nada a ver mas, finalmente!, vou pôr o 8 e Coisa nos meus links lá no R&A)
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