Tal como me tinham dito, não vale a pena fugir das dívidas à segurança social. De uma forma ou outra, essa maravilhosa instituição que vela pelo nosso bem-estar acaba por descobrir os caloteiros e exercitar a sua persuasão irresistível para que paguem o que lhe devem. Há dias recebi uma carta que me avisava ter apenas 10 dias para pagar quase € 2.000, sob pena de procederem a uma cobrança coerciva. Amordacei os meus instintos terroristas e fui à tesouraria da segurança social onde, após uma longa espera, me explicaram que não há plano de pagamento que permita congelar a contagem dos juros (todos os meses cresce alegremente a minha dívida), nem estabelecer um montante mensal que alivie o peso dos milhares que terei de desembolsar. Sou obrigada a pagar, nos prazos e quantias que forem fixados pela instituição. Não interessa se tenho dinheiro ou se me endivido para pagar o que me pedem. O que importa é que pague.
Nos últimos dias, tenho vindo a descobrir os esquemas com que os trabalhadores independentes lidam com o maravilhoso mundo da burocracia e da precariedade laboral. Alguns resolvem o problema aceitando um contrato de trabalho que lhes pague o salário mínimo, garantindo que a entidade patronal faz os descontos para a segurança social e para a administração fiscal. Para além destes 'empregos', acumulam vários trabalhos como profissionais independentes. Só assim conseguem ganhar o (enorme) resto de que precisam para chegar ao fim do mês. Outros, que não têm esta hipótese salvadora, gastam uma parte do seu mês a abrir e fechar a actividade nas repartições de finanças. Abrem-na na véspera de passar um recibo verde. Fecham-na uns dias depois. E assim se safam dos € 150 deixados na segurança social.
Bem aventurados os frilance, pois será deles o reino da pobreza envergonhada.
3 comentários:
cara oito e coisa
Recebi uma carta semelhante e fui aconselhada pelos serviços informativos da segurança social a escrever uma carta pedindo para reconsiderar a minha situação de dívida (tenho direito ao enquadramento facultativo, mas nunca tinha sido devidamente informada!). Conheço algumas pessoas que, devido a terem exposto a sua situação por carta: foram perdoadas da dívida; pagaram apenas uma percentagem da dívida; pagaram a dívida em regime de prestações mensais. Aconselho-a a não desistir e a experimentar essa abordagem...
joana, obrigada pela sugestão que deixou. Fiquei surpreendida com o que conta: nas duas vezes que me desloquei à segurança social, as funcionárias garantiram-me que não há qualquer maneira de negociar o pagamento da dívida e parar a acumulação dos juros. Por outro lado, falei com várias pessoas que estão na mesma situação (dívidas de milhares de euros) e todas me garantiram que foram obrigadas a pagar, sem contemplações nem recursos. Vou seguir a sua sugestão. Veremos o que me respondem. Mais uma vez, obrigada.
Que momento bonito. Joana, a mulher-luz.
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